Capítulo 15 - A História do Enforcado

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O Imediato retornou ao convés um minuto depois, dando ordens aos homens para enfunar as velas, enquanto o Capitão Flynn se dirigia ao seu camarote, sinalizando para que Toby o seguisse.

Mesmo sem ter sido convidado, Theodore os acompanhou, e ao entrar no camarote, Jenkins teve vontade de expulsá-lo, porém o Capitão não pareceu se incomodar com sua presença.

Flynn estendeu o mapa que Jenkins copiara do diário de Morgan sobre a mesa de refeições e encarou Toby.

– Muito bem, Sr. Reid... – começou o Capitão. – Nos dê o curso.

Toby se aproximou e analisou cuidadosamente o mapa por algum tempo. Os territórios escondidos, demarcados no mapa de Morgan com a tinta invisível que, vai saber por que Jenkins conhecia, não eram identificados com nomes, mas com gravuras pequenas simbolizando o que representavam.

O vale tão desejado pelo Capitão do Maestrel tinha basicamente o formato de um coração humano, e bem no centro dele havia o desenho rude de uma caveira ajoelhada diante de uma árvore, da qual recebia nas mãos um coração – ou um figo; era difícil compreender exatamente os desenhos desleixados do velho abutre.

O vale ficava ao norte do Caribe, pouco além da ponta oriental do triângulo das Bermudas. Aquele era possivelmente o trecho mais profundo do Atlântico no hemisfério Norte.

Toby deu um suspiro satisfeito ao verificar todas as posições do mapa, e sorrindo misteriosamente, começou:

– A localização está bem clara aqui. – E apontou com o dedo para a caveira no mapa.

– Percebi isso no momento em que vi o desenho, Sr. Reid – disse Jenkins, aborrecido, como se a conclusão de Toby fosse tão óbvia quanto inútil. – A caveira representando o moribundo ou o morto; e o coração, a vida que ele pode receber de volta na fonte perdida.

– Não sabemos se é realmente uma fonte – interveio Theodore.

– Bem, e o que mais poderia ser?

– A história começou a ser contada na Grécia, em tempos imemoriais. Segundo a lenda, quando Pandora recebeu o jarro, com a ordem de jamais abri-lo, e a curiosidade a levou a libertar todos os males do mundo, apenas a esperança restou, guardada no fundo. Esta esperança era uma semente, que posteriormente foi plantada por Poseidon nas entranhas do mundo, sob os oceanos, fora do alcance dos homens. Lá a semente germinou, regada por águas sagradas, e é o seu fruto que, segundo a lenda, é capaz de curar qualquer moléstia, inclusive esta maldição que acomete o Capitão Flynn.

– Então é uma árvore – concluiu Toby.

O velho Jenkins, porém, discordou com a cabeça.

– Sr. Hawkins, eu me lembro perfeitamente de que a lenda dizia que o mortal sadio que bebesse uma só gota da água que brota nesse vale, sofreria uma morte dolorosa e miserável. Por isso o santuário ficou vulgarmente conhecido como vale dos mortos, pois os que chegaram a ele cobiçosos da imortalidade, pereceram. Porém, se o mortal que beber dela estiver sofrendo de qualquer mal, não importa qual seja, nem de que origem, mesmo que esteja à beira da morte, ficará são. Portanto, se há água, é uma fonte.

– Não quero interromper essa discussão tão esclarecedora de vocês dois, áureos conhecedores e disseminadores das lendas dos oceanos e dos povos antigos... – disse o Capitão, empregando aturdida ironia às palavras. – Mas quer seja árvore ou seja fonte, tenho pressa de chegar ao vale. Portanto, Sr. Reid, ainda espero nosso curso!

– Devemos navegar para o norte – disse Toby, como dando de ombros. – Só quando estivermos nessas águas vou poder lhes dizer como chegar ao vale.

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