Capítulo 18 - A Marca Cinzenta

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Toby cochilou enquanto Theodore limpava os ferimentos em suas costas. Estava certo de que seu sono durara poucos minutos, mas quando despertou subitamente, não sentiu dor em parte alguma de suas costas, como se tivesse sarado completamente. Apesar disso, teve receio de se mover por algum tempo, e apenas tentou verificar se o companheiro ainda estava no porão.

Theodore havia se encostado à parede ao seu lado, e velava seu sono com uma expressão perturbada. Toby julgou que fosse por causa dos ossos na cela.

– Quer compartilhar o pensamento? – indagou Toby.

– Estava me lembrando de uma conversa que tive com o tal Jenkins noite passada – comentou Theodore.

Toby deu um suspiro aborrecido. Estava com uma raiva dos diabos do velho abutre depois da confusão daquela noite.

– Ficou fazendo perguntas sobre nós – explicou Theodore –, e sobre o porquê de estarmos com o diário de Morgan...

– Ainda não entendi a utilidade dele a bordo – comentou Toby, lembrando-se da primeira conversa que ouviu entre o velho abutre e o Capitão Flynn na taverna em Tortuga. Naquela ocasião, pareceu-lhe que a presença do velho era de suma importância na viagem, mas até aquele momento, ele parecia não ser mais que um passageiro no galeão fantasma. – Exceto nos deixar nervosos.

Theodore torceu o nariz.

– Ainda não me contou por que estavam discutindo hoje? – lembrou Toby.

– O velho fica debochando e fazendo suposições... – Theodore se interrompeu.

Um ruído na coberta de cima o distraiu.

– Desculpe ter provocado a ira do Capitão – insistiu Theodore, ignorando a distração.

Toby deu de ombros.

– Sua pele é mais valiosa que a minha – disse Toby, deixando o assunto de lado.

Theodore deu um suspiro pesado e encarou os esqueletos amontoados na cela. Era estranho que o porão não tivesse o horrível cheiro de um túmulo apodrecido.

– Corpos de marinheiros? – indagou Theodore.

Ao que Toby deu de ombros.

– Imagino que sejam prisioneiros que o Capitão deixou morrer nesta cela – supôs Toby.

E então se lembrou de que breve ele e o companheiro poderiam ter o mesmo destino, e sentiu um calafrio.

– Embora tenha estado no porão do Emissário – disse Theodore –, cercado de gente morta, devo admitir que esses ossos parecem bem mais repugnantes.

– Honestamente, simpatizo mais com eles do que com metade da tripulação deste navio – disse Toby, espantando o pensamento anterior.

Theodore riu brevemente.

– Ainda bem que não vamos ficar muito tempo a bordo – observou. – Não gostaria de estar aqui se as almas desses marujos retornassem aos ossos e fizessem um motim.

Toby ergueu as sobrancelhas e pensou nisso um instante. Depois de tudo o que presenciou nos últimos dias, não acharia impossível que algo parecido acontecesse.

– Pois eu entregaria Jenkins a eles de bom grado – disse, imitando o riso debochado do velho abutre.

E forçando-se devagar, Toby se levantou e se pôs sentado diante do companheiro.

– Devia dormir mais um pouco – aconselhou Theodore. – Ainda demora a amanhecer.

Mas Toby perdera completamente o sono.

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