Capítulo 16 - Nada a perder

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Houve uma modesta celebração para o retorno de Fedelma à Imundice. Ela estava bem sorridente durante o dia e quase chorou de emoção ao testemunhar que todos os moradores estavam saudáveis e que não houve mais vítimas do veneno. Abraçou a nós, menos a Dian, e a mim ela pediu permissão.

Todos estão se empenhando na organização, faltando três dias para o casamento. Que eu saiba, ontem o país inteiro recebeu a notícia e há festividade em diversos pontos, onde Dub ordenou que comida fosse entregue gratuitamente aos humanos e que pudessem desfrutar de peças teatrais de comédia, ironizando fatos da história de Danann e, também, promovendo apresentações musicais, com druidas indo aos condados mais pobres para tocarem violão, gaita de fole e instrumentos que desconheço.

Não sei como me sinto em relação a casamentos. Nunca participei de um com tanta comemoração. Eu era criança quando meus pais se casaram, contudo, no caso deles bastou se arrumarem, assinar alguns papéis e tirar fotos. Não durou nem duas horas.

Para a minha preparação, uma estilista veio à Imundice hoje e me colocou em cinco vestidos diferentes. O impressionante é que nenhum serviu, na visão dela, e ela saiu e retornou com um sexto.

A escolha dela foi um vestido escuro detalhado em cor vinho que vai até a minha canela e é desconfortável de usar. O decote nas costas é ousado demais para mim e há um laço de longas fitas que segura a parte de trás do vestido e delinea minha cintura.

— Eu achei deslumbrante! — comenta Kiera, inspecionando cada centímetro meu. — A estilista não poderia ter acertado mais.

Eu também avalio meus movimentos. Tenho receio de desmanchar qualquer parte.

— Vou ter que me acostumar a andar com isso em até três dias.

— É só por um dia. Depois nós regressamos às nossas vestimentas mais confortáveis. — Kiera certamente está habituada a esse tipo de cerimônia. O vestido que ela usa não é o que será utilizado no casamento, pois este é bem simples e até informal, mas que não desvaloriza a beleza dos seus cabelos negros cacheados e os olhos estrelados. — Eu me vejo obrigada a repetir: você está linda. Danu te abençoou com muita beleza quando você tomou a bênção, e você não pode me contrariar! Seu rosto tem curvas tão suaves e combina com o vestido, além de que, por Danu, ser lenhadora desenvolveu muito bem seus braços. Só não vou dizer que estou invejada porque gosto da minha aparência, mas você pode chamar a atenção de qualquer um desse jeito.

— Eu nem sei o que dizer — dou risada, genuinamente, pega desprevenida pelos elogios. A verdade é que Kiera veio para conversar com Dian, depois ela desceu para cá e está comigo desde então. — Obrigada, Lady Aaran.

— Pode me chamar pelo nome, Bridiezinha. — Kiera para à minha frente, ao lado do espelho. Há bastante sinceridade no olhar. — Perdão pela pergunta indelicada, por que você aceitou vir com Dother para cá sabendo que seria uma criada?

— Eu me vendi pela minha família, eu acho... — As palavras saem incertas. É estranho reforçar uma mentira com traços da realidade. Tenho que manter cuidado, pois Kiera só conhece a versão que Dother contou para todos, na primeira audiência, de que foi ele quem me tirou da pobreza. — Meu pai não me vendeu e nem nada, eu vim porque quis e porque queria ajudá-lo a comprar comida. Foi espontâneo.

A expressão de Kiera muda e ela ergue as sobrancelhas até processar a informação, então retorna, num tom gentil:

— Eles devem... Não, devem não, eles com certeza estão orgulhosos de você.

Foi uma das melhores coisas que ouvi desde que vim para cá, e eu nem soube como agradecer ou me manifestar.

Foi uma das melhores coisas que ouvi desde que vim para cá, e eu nem soube como agradecer ou me manifestar

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O Príncipe do InfortúnioOnde histórias criam vida. Descubra agora