Sentada na minha cama e com as pernas cobertas para me aquecer, eu jogo a moeda para cima, apanho-a no ar assim que ela desce e bato no dorso da minha mão. O resultado é cara.
— Verdade ou desafio? — eu pergunto para Dian.
— Verdade.
— Por que você e a Kiera romperam? — lanço a questão. Não é qualquer pergunta que me levará para a vitória.
— Porque ela é uma excelente amiga e péssima namorada. Tão terrível que tenho vontade de engolir duas garrafas de vinho ao me lembrar. Ela controlava inclusive o que eu vestia e depois reclamava dizendo que eu tinha liberdade demais, entretanto, como mencionei, ainda é uma ótima companhia quando conhece o próprio lugar. — Sou pega de surpresa pelo seu esclarecimento polido. Imaginei que ele fosse reclamar por estar sendo invasiva, mas recebo um comportamento oposto ao que previ. Também não espero um complemento dele: — Vejo que as perguntas mais insignificantes já foram completamente descartadas.
— E você me perguntaria coisas como "qual seu ídolo favorito da infância" ou "quem foi sua primeira paixão"? — sou retórica e recebo um sorriso imoral de Dian que só confirma minhas suspeitas.
Eu entrego a moeda para ele jogar e não me acusar de estar trapaceando. Dian faz o processo idêntico e resulta em cara novamente, com isso, ele nem espera eu perguntar e confirma que prefere verdade.
— O que você queria quando entrou no quarto de hóspedes e estava eu e a Kiera?
— Fedelma estava te procurando e aproveitei para escapar daquela chatice de pretendentes a cada canto, mas quando cheguei e vi que Kiera estava contigo, considerei que você estaria aproveitando mais da festa ali com ela. — Outra resposta imediata. — Não imagino que alguém com sua personalidade se deixaria levar pelos luxos e decidiria ficar em Kildare sendo humana, correndo um risco constante. Nem eu seria tão insano na sua posição. Duvido que você se casaria com alguém daqui por qualquer motivo, por isso julguei que uma amizade com a Kiera lhe faria melhor do que perder tempo com os lords. Estou errado?
— Não é sua vez de perguntar — corto o assunto.
Seu questionamento me proporciona uma degustação de como meu coração vai disparar quando for a sua vez de me direcionar uma pergunta ou desafio. Isso não é normal de se sentir, sei que não é. Minhas mãos e pés estão inquietos e remexendo. Estendo a mão para pegar a moeda e estranho por não sentir o metal gelado sobre a minha palma. Levanto o olhar para entender o que aconteceu e me deparo com um Dian silencioso que se demora para me passar a moeda, analisando-me até eu estar próxima de comentar a respeito do seu atraso.
Faço igual antes, e tenho de conter um suspiro ao ver o lado da coroa na moeda.
— Respondendo ao que você disse... — inicio, dando a entender que optei pela verdade, porém Dian estica o braço à frente do corpo para chamar a minha atenção e me interrompe.
— Aquela pergunta não é minha prioridade, Aisling. — Seu olhar é categórico e aumenta a minha sensação de que as suas indagações serão avassaladoras. Tenho em mente que posso mentir, no entanto, eu corro o risco de aniquilar a confiança que conquistei com Dian. — Quero saber por que você aceitou vir para cá.
Ele vai achar que estou louca se disser claramente.
Não é a mesma rosa.
— Algumas coisas na Imundice estavam me lembrando Dother e eu estou de saco cheio. — Minha voz sai mais agressiva do que pretendi, mas nem tento consertar. Eu faço uma pausa para cobrir mais o meu corpo por conta do frio que está se agravando. — Ainda não sei se foi certo ter atirado nele. Se ele está vivo ou não. E a cada dia que passa eu menos quero chegar a uma conclusão.
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O Príncipe do Infortúnio
FantasyLIVRO 2 DA TRILOGIA FORJADORA DO DESASTRE, CONTÉM SPOILERS. Por rancor, ele desejará um coração. Sob o comando de Leanan Sidhe, tornando-se uma sombra do atual rei de Danann, Aisling suporta uma vida de aparências e outra repleta de atrocidades para...