Capítulo 20 - Apostar em alguém

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A desordem na minha mente encontra calmaria com Dian declarando que não estou sozinha. É irônico a minha eu do presente considerar os seus braços aconchegantes e que não devo me arrepender por ter me aproximado dele, contudo, há receio ao ouvir sua confissão a respeito de Erin. Não estou com medo de Dian e nem duvidei que ele seria capaz de tirar a vida de alguém. Ele tentou acabar comigo um dia, e não suponho que guardaria algum arrependimento se tivesse conseguido. No fim, não passa de um sentimento estranho de que nós já não somos os mesmos. Somos diferentes de quando nos encontramos no Beltane pela primeira vez.

O que Erin afirmou nos seus momentos finais inegavelmente foram petulantes, igual a morte ter sido o resultado de expor seu descontentamento. Ninguém está certo, nem eu, que não tomou uma atitude para interromper Erin no dia fatídico e que poderia ter nos livrado do pior.

Eu, tola, pensava que seria mais fácil lidar com Dian sendo darach e privado dos benefícios da bênção.

É desconcertante que ele tenha guardado para si por tanto tempo e permitido que a culpa do assassinato caísse sobre o irmão. O próprio Dother se viu culpado. Não à toa Dub informou que o flagrou chorando no funeral. Pensamos que fosse o veneno, quando ninguém entende darachs ou conhece seus limites. Eu e Dian estarmos afastados de tudo e todos é uma prova desse terror pelo desconhecido.

Sento na minha cama logo que nos desvencilharmos do abraço. Honestamente eu estava precisando desse apoio, mesmo que breve, me fez bem. Há suor frio nas minhas mãos e tremo de leve, nada notável para Dian, que está acomodado na janela e sem nenhuma preocupação de cair para trás e despencar três andares.

— Como aconteceu? — eu pergunto, quebrando o silêncio e atraindo a atenção dele.

— Foi inconsciente. Não tenho certeza. Eu tive um ponderamento tanto quanto mórbido e, quando pisquei, ela já estava se contorcendo diante de mim por culpa de uma praga que alastrei. — Inacreditavelmente, seu tom está longe de ser antipático e despreocupado. É o esperado para alguém que sente remorso, exceto para Dian. Ele nem olha para mim. — Se foi proposital ou não, nenhum anula a minha culpa. Eu poderia tê-la mandado calar a boca e ela se calaria, então ficaria frustrada e solicitaria um afastamento. Não era suposto que um mero pensar causaria aquilo.

Me recordo da expressão de Dian fitando os restos de Erin. No primeiro momento, cogitei que estivesse soturno e arrogante. Ele não quer admitir, porém a maneira como pausa seu relato e seus olhos se movem perdidos como as palavras, entendo que, na verdade, ele estava em choque com o que fez.

Deve ser apavorante você perceber que desconhece a si.

— Kiera sabe disso? — pergunto com inocência, para receber um olhar estranho dele.

Tenho a impressão de que ouvir esse nome é a última coisa que Dian quer. Eu também não teria coragem de contar as atrocidades que cometi para quem considero família, mesmo que não fossem desistir de mim e talvez me dessem suporte. É idiota da minha parte começar a me quesitonar a respeito de Kiera só porque toda vez há estranheza no ar entre eles, e ambos soam mais naturais quando estão afastados um do outro.

Balanço a cabeça, para parar de pensar nisso. Eu não tenho nada a ver com a vida pessoal deles.

Dian está com as costas apoiadas na lateral da janela, os braços cruzados, uma perna flexionada e a outra suspensa para o lado de fora da mansão, como quem se posa casualmente para o pintor retratar. Ele, inclusive, está vestido adequadamente se fosse o caso. Ser um príncipe deve dá-lo essa sensação de que qualquer lugar é seu e que ele pode agir da forma como desejar. O invejo por isso e pela vida inescrupulosa que teve até então.

Ele está de olho em mim, avaliando algo no meu semblante. Não entendo por qual razão. Ter quase me beijado há dez minutos certamente não é um problema, pois parece afetá-lo em nada, mas é uma droga para mim. Estou com um sentimento de dúvida, querendo saber se isso vai acontecer de novo, mas sem querer tocar no assunto.

O Príncipe do InfortúnioOnde histórias criam vida. Descubra agora