Capítulo 28 - Em contagem regressiva

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O retorno para a Imundice acontece dentro de três dias, o que considero um intervalo sem dúvidas útil para estabilizar meus pensamentos. Não tinha como minha mente ficar presa em preocupações quando fui com Dian até o Condado de Dublin para comprarmos coxinhas — que são inexistentes em Kildare — e corremos o risco de nos reconhecerem. Nosso jantar foi excelente, e pela primeira vez experimentei ketchup.

Horas depois do nosso regresso à mansão, recebo a visita de Muirenn e Muirne, que convido para entrar e Fedelma se prontifica a trazer um chá, porém ambas soam apressadas por estarem em horário de trabalho.

— Foi ela e sua estupidez que nos fizeram vir aqui e andar nesse sol — aponta Muirenn para a irmã cabisbaixa.

— Desculpa incomodar, senhorita Marfach, eu apenas queria ter uma conversa rápida e franca contigo. — Muirne levanta o olhar, embora mantenha a postura retraída e as mãos postas à frente do corpo. — Estou buscando informações sobre o paradeiro de Sua Alteza até hoje... Eu simplesmente não consigo acreditar que ele teria deixado tudo para trás. E isso me preocupa muito, não somente por conta do seu desaparecimento, como por me solidarizar com a senhorita.

— Comigo? Por quê?

Muirne, sentada no sofá, dá uma olhada para os cantos do cômodo, para se certificar de que estamos num ambiente privado o suficiente para dizer:

— Por causa da sua humanidade, oras — cochicha para mim, por precaução. — Nunca escutou sobre as brigas severas que Sua Alteza teve com Sua Majestade Carman e Balor para que não expusessem sua identidade? Sem Dother aqui, elas podem se achar no direito de ignorarem o que foi discutido. Sua Alteza é necessária para a sua sobrevivência aqui, por isso acredito que a senhorita jamais faria algo de ruim a ele, independente do afastamento entre ambos, não é?

Me falta uma resposta para o que acabei de ouvir.

— Não é, Bridie? — O tom de Muirne se torna mais grave.

— Sim, perdão, só estou um pouco assustada pensando sobre tudo isso. — Eu me levanto apressadamente assim que ouço a campainha tocar. — Obrigada por me sinalizarem. Qualquer coisa a respeito de Dother que eu descobrir, vocês vão ser as primeiras a saber.

Depois de mil e um perdões para me despistar delas, corro até o salão principal para fingir que a visita é de suma importância para mim, quando na verdade deve ser Neve trazendo a televisão nova e colorida que compraram.

*

Quase todos os dias desde então, dependendo de onde estamos e com qual humor, Dian pegou o costume de me cumprimentar com um beijo, seja de bom dia, boa noite ou simplesmente quando a vontade surge, ignorando o testemunho dos criados ou convidados. Há mais burburinho sobre isso do que eu gostaria. Nunca o impedi, apesar de ter me desconcertado na primeira semana, até que criasse uma barreira após tanto ser caçoada e motivo de risada por ficar com o rosto corado. É cedo para afirmar como me sinto em relação à sua atitude. Parte de mim não se importa com o olhar dos outros, outra parte se preocupa com o caminho que estamos tomando.

É em um dia comum como esses, que Kiera volta a frequentar nossa residência. Ela passa a tarde toda por aqui conversando comigo, depois que finalizo as aulas com Shira, e indo embora após o jantar. Isso perdura por aproximadamente uma semana. O estopim é na manhã seguinte a uma noite em que ela acabou por dormir na Imundice, justificando que estava tarde para retornar sozinha.

Nessa manhã, Dian não me cumprimenta. Na verdade, é um milagre ele ter acordado mais cedo do que eu e estar a sós com Kiera na sala de jantar. O olhar de ambos é antipático, e me direcionam a atenção quando eu abro a porta, desavisada de que me depararia com uma tensão inquietante no ar.

O Príncipe do InfortúnioOnde histórias criam vida. Descubra agora