O Príncipe do Infortúnio

Capítulo 17 - O casamento

Hoje é o dia do casamento.

Tive que acordar às quatro da manhã para Fedelma me arrumar da cabeça aos pés. O vestido é o mesmo cor vinho, com exceção do nó na cintura, que eu pedi por um laço menor e menos chamativo. Todas as vezes me fizeram um penteado que puxava os meus cabelos, mas dessa vez pedi para que Fedelma deixasse só meio preso. Ela não me desobedeceu, na verdade, entramos num acordo de manter o meio preso com tranças nas laterais e amarrá-las, de forma que o penteado fique simples, elegante aos olhos e, o mais importante, confortável.

Tenho vergonha de admitir que não fui capaz de andar com um salto alto a tempo. Desisti depois de torcer meu pé terceira vez e fiquei com receio de me machucar a sério. Mais uma vez, negociei com Fedelma para substituirmos por uma sapatilha.

Quando me viu pela manhã, Kiera abriu um sorriso imenso e só não me abraçou porque não queria estragar a maquiagem de nós duas. Ela disse que eu estava ainda mais deslumbrante com o visual completo, e, só para não deixar passar em branco, eu também elogiei sua aparência.

Nós partimos em duas carruagens. Eu iria com Dian na minha, mas os pais de Kiera, o Conde Aaran e sua esposa, insistiram demais para que Dian fosse com a família até o local do casamento. Além disso, eles perturbaram Bran para que vestisse o príncipe de forma que seu visual combinasse com o da filha deles.

Eu não me envolvi na discussão, só vi o brilho na expressão de Kiera desaparecer a cada segundo que seus pais fizeram uma nova exigência.

Ela usa um vestido azul comprido de alças largas e caídas sobre os ombros, com detalhes dourados geométricos que entram em sintonia com o terno de mesma cor e bem ajustado de Dian, pois tem bordados semelhantes decorando suas mangas e gola.

Agora, o lado bom de ir na carruagem sozinha, é que eu posso me estirar nos assentos e fazer uma cama provisória. A viagem é longa e deve durar mais de duas horas, pois é em uma parte do Condado de Kildare que eu nunca visitei.

Me fez bem acalmar a ansiedade do que está por vir e aproveitar o percurso. Foi uma das melhores sonecas que já tirei, comigo evitando pensar em Dother. A carruagem não balança, o vento entrando pelas janelas está agradável e o dia ensolarado como nenhum outro. Tudo se mostra mais atraente desde que eu acordei, até a grama é mais verde. Só acordo quando a carruagem para e ouço o trinco da porta.

Eu não tinha me atentado ao meu cabelo antes. Passo a mão sobre ele depois que acordo, para ter uma confirmação de que não desmanchou o penteado e, de fato, eu dei sorte com isso.

O local do casamento é uma espécie de pequeno palácio com três torres, tendo apenas a central apontando para os céus, enquanto as duas da extremidade estão numa diagonal e são apenas decorativas, pois são intransitáveis, e há uma esfera na ponta de cada torre. Diferente do Crann Bethadh, que é moldado no ouro, este lugar é inteiramente branco, acompanhado por ornamentos de um metal claro, quase como espelhos torcidos, e os jardins contêm apenas jasmins e lisiantos de metal, com um aroma sintético.

Os organizadores realmente retiraram todas as plantas das redondezas.

— Já veio ao Awen, Bridiezinha? — Kiera vem falar comigo assim que sai da sua carruagem, deixando todos para trás.

— Awen? — Quase pronuncio errado. — Não.

— Nós frequentamos esse lugar apenas quando há casamentos, e eu te digo: você deveria ter trazido seu travesseiro — brinca. Apesar do que disse, suas mãos também estão vazias. — Acredite, os discursos da cerimônia demoram uma eternidade. É bom ir se aliviar antes que comece.

Pelo caminho nós cumprimentamos os duques, condes e outros membros da corte que foram convidados. Estão todos bem trajados e agindo com grande formalidade. Eu dou o meu melhor para seguir as aulas de etiqueta da Shira e saúdo a todos com um bom sorriso e reverência.