Capítulo 6 - Praga da morte

1.8K 312 349
                                    

Eu encaro a Dian ininterruptamente, sem pensar que ele quase derrubou a minha taça com água. Minha atenção sobre ele chega a ser desconfortável, porém não consigo evitar o olhar. Ele está vestindo uma blusa escura de linho de gola em V, um casaco alongado simples e uma calça de alfaiataria bem ajustada preta, com oxfords pretos brilhosos. Está com as mesmas roupas e humor de quando o vi pela última vez, no começo da semana.

Reparo que há um rasgado na região do seu ombro e o tecido está desfiado. Não sei dizer se há manchas de sangue por conta da coloração escura da roupa.

— É uma surpresa que essa maldição não tenha me tornado menos atraente só porque agora pareço mais com a sua gente, mas admito que não estou acostumado a receber essa atenção de você. — Suas observações nunca deixam de ser peçonhentas.

Por pouco eu não o respondo.

— Onde você estava?

Dian não aparenta interessado nessa questão. Minha pergunta o faz apoiar com o cotovelo no balcão e colocar a mão na bochecha, acomodado com a minha presença como se nós fôssemos próximos. Não bastasse isso, ele desconhece os limites da audácia e retruca:

— Curiosa?

— Você poderia estar morto. — Me desvio dele e tomo um gole da água.

— Você diz isso como se fosse um absurdo e como se nunca tivesse me ameaçado. — Dian se ajeita na banqueta, ficando de lado para mim. — Te garanto uma coisa: Kildare celebrará durante uma semana assim que se livrarem de mim. Eu seria um dos casos que os druidas comeriam sobremesas e fariam canções alegres inspiradas nesse dia.

A julgar pelo seu desleixo casual e rotineiro, posso dizer que Dian está bem e não tem intenção de me contar a menos que eu ceda. Ele adora esses joguinhos mentais, não mais que Dother, mas Dian gosta de me ver fazendo ou falando coisas que normalmente não faria, em especial as que são benéficas para ele e que massageiam o seu ego.

— Se você não tem intenção de contar, então não deve ter passado por nenhum perigo — tento manter um mínimo de formalidade e educação, há um garçom aqui e ele pode denunciar minha conduta maltratando o príncipe. — Sendo assim, não irei atrapalhar a sua privacidade.

— Escolha sua, lady. — O lady sai tão irônico que me xingar teria sido menos ofensivo.

O garçom está reservado preparando um néctar de maracujá, mas seus olhos reviram ao perceber que Dian está olhando para ele.

— Shay, me traga o de sempre — ordena o príncipe.

— Sirva-se por conta — retruca o homem, sem mover um passo para longe da pia. — Sirvo apenas druidas.

— Amanhã você não vai servir nem a um darach se não me trouxer essa droga. — É estranho como o tom de Dian não carrega nenhuma ameaça, soa natural feito um bom dia.

Shay, acho que esse é o nome do garçom, olha na direção do príncipe e hesita por alguns segundos, mas como Dian não desgruda do balcão, o homem acaba por desistir e bufa. Age acostumado a ouvir ameaças e já não leva a sério. Ele se desloca, pega uma escadinha de três degraus de madeira e busca pela bebida específica.

Na hora de servir a taça com Corcra, o vinho exclusivo do bar — é o que está escrito na garrafa —, Shay estica o braço o máximo que pode para não ter que se aproximar Dian. Sua expressão de desgosto é notável.

— Como me encontrou aqui? — Nisso eu estou curiosa e quero saber.

Dian dá prioridade ao seu vinho e me responder fica para depois.

O Príncipe do InfortúnioOnde histórias criam vida. Descubra agora