Dom

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- Vem Aqui Dom. – Disse Johnny, esticando o braço em direção a um rapaz, que aparentava no máximo 16 anos, e que estava discretamente encostado numa das paredes da sala.

Ele tirou o que pareciam ser fones de ouvido e andou cabisbaixo até Johnny, parecendo um animal acuado.

- Por que chamam ele de "O Bom"? – Perguntou Betinho.

- Deve ser um cara legal. – Respondeu Willy – Tipo aquele bom americano, que tem na Bíblia.

- Não era "bom samaritano"? – Questionou Gabriel.

Willy colocou as mãos na cintura e fez cara de reprovação:

- É "bom americano", porque é Estados Unidos da América, não Estados Unidos da Samária.

- Mas a parábola não era em Jerusalém? – Rebateu Gabriel.

- Claro que não! Todo mundo sabe que toda boa história é de Hollywood.

Ernesto revirou os olhos e ralhou:

- Ele falou "Dom", não "bom"! Quando é que vocês ficaram surdos?

A conversa dos meninos foi interrompida por Wanda, que disse em alta voz:

- Ei, ele é estagiário da Dollar S.I.! Eu selecionei ele! O que ele tem a ver com tudo isso?

- O que tem, Wanda? Vou te dizer... esse ótimo garoto aqui é estagiário do nosso amigo Charles.

Ouviram-se alguns "ooowww", seguidos de murmúrios.

- O que, Johnny? Vai dizer que esse imbecil tem algo contra mim? – Charles parecia soltar fogo pelo olhos.

Johnny esboçou uma cara de satisfação.

- Olha Charles... posso te adiantar que o que ele sabe vai te deixar em "maus lençóis".

- E quem é que vai dar crédito a ele? Não perceberam que ele é "bobo da cabeça"? Só conseguiu entrar na empresa porque foi pela cota dos "retardados"!

- EIII! – Gritou Wanda. – Você comeu estrume, por acaso? Tenha respeito pelas pessoas com deficiência! Elas fazem parte do nosso time, também ajudam a manter nossa empresa em pé! Aliás, fique sabendo, seu grandiosíssimo ignorante, que esse garoto é muito inteligente! Por estar dentro do espectro autista ele tem dificuldade de se socializar, mas ele é excelente com número, programação e... ah, quer saber? Se você nunca percebeu isso, é porque o idiota é você!

- Ah, cala a boca, sua velha puxa-saco!

Wanda, furiosa, deu alguns passos a frente, mas foi segurada por Ed.

- Oras, seu...

- O que... vai me bater? Eu não tenho medo de você! Não tenho medo de nenhum de vocês! Estão blefando ao dizer que o garoto sabe algo. Ele passava o tempo todo ouvindo música, não ficava um minuto sem esse fone!

Johnny e Wanda se entreolharam. Aquilo realmente poderia descredibilizar o depoimento do rapaz.

- Não são fones. – Disse Ed. – São abafadores de ruído. Muitos autistas têm hipersensibilidade sonora.

- Você escuta bem quando está usando esse abafador, Dom? – Perguntou Johnny.

- Normalmente. Ele ajuda a reduzir os ruídos que me incomodam, mas não prejudicam em nada minha audição.

- Então você ouvia tudo que o Charles falava?

- Tudo que ele falava dentro da sala sim, senhor Dollar.

- E você o ouviu falar algo sobre um projeto chamado "New Walk"?

- Sim, muitas vezes. Inclusive percebi que ele armazenava os arquivos desse projeto sempre em HD's externos, que depois levava para casa, e não fazia backup no servidor. Eu sabia que fazer backup no servidor era norma da empresa, então toda vez que ele liberava o computador eu fazia o backup de tudo, antes dele tirar o HD. Sei a importância de fazer backup diariamente. Computadores sempre podem apresentar problemas, assim como as pessoas.

- E então... é suficiente para você, Charles? – Perguntou Johnny, com um leve sorriso.

Charles olhou a sua volta, buscando visualmente uma rota de fuga.

- PRO INFERNO VOCÊS! São só acusações! Vocês não podem me prender!

- Mas eu posso. – Disse uma voz, vinda de alguém próximo a porta de entrada.

- Detetive Allan! – Exclamou Wanda.

Sem esperar que mais alguém falasse, Charles saltou sobre a mesa e correu em direção a cozinha. Porém, antes de ele passar pela porta foi atingido na cabeça por um objeto e caiu, sendo logo imobilizado por Johnny e Sezão.

- Quem golpeou ele? – Perguntou Allan.

- Fui eu. – Respondeu Sezão. – Quando criança eu nunca fui bom de briga, mas nunca errei uma boa pedrada.

Alice juntou do chão o porta-retrato com a foto dela e de Johnny na viagem de lua de mel.

- Boa mira, Sezão.

- Obrigado Alice. – Respondeu Sezão, sorrindo. – A cabeçona dele era um bom alvo também. Reluzia na luz. Ah, e desculpe pelo porta-retrato, mas um negócio pesado desses me pareceu uma boa arma.

Alice arregalou os olhos e colocou o porta-retrato novamente na estante.

- Nunca pensei dessa forma, mas sou obrigada a concordar com você.

Enquanto isso, os demais convidados tagarelavam sem parar.

- As festas daqui são sempre assim? – Perguntou Dom para Diego, que levantou as sobrancelhas.

- Disso pra pior, amiguinho. Disso pra bem pior.

Meu Namorado Bilionário - VOLUME 2Onde histórias criam vida. Descubra agora