Sem Respostas

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- Finalmente, não aguentava mais esperar!

- Nem eu... foi bom ficar em casa, mas eu já estava cansada. Sem falar que eu estava com saudade dos contatinhos, né?

As duas moças riram, enquanto caminhavam até a entrada da Dollar S.I.

A expectativa era grande para reabertura; não era só os funcionários que estavam ansiosos, mas os curiosos também.

- Mais de um ano após o terrível crime que aconteceu nas dependências da Dollar S.I., no qual o funcionário Charles Benson, de 47 anos, foi atacado e teve suas pernas amputadas, vemos a empresa reabrindo, mesmo com o autor desse crime bárbaro continuar sendo uma incógnita para a população e um desafio para a polícia. - disse a repórter, transmitindo ao vivo no canal local.

Mesmo após toda a confusão que aconteceu na casa de Sézão por causa dos disfarces, Johnny decidiu manter a ideia, afinal não foi fácil nem para as pessoas próximas reconhecê-los.

Entretanto, eles começariam com o disfarce somente na segunda semana após a reabertura, pois tinham muitas questões que necessitavam ser resolvidas na empresa, e para isso eles precisavam se apresentar como eles próprios.

A empresa permitiu a entrada às 07:00 horas, e todos os funcionários e prestadores de serviços foram convidados a assistirem a mensagem de Boas-Vindas de Johnny., transmitida em vários telões espalhados pela empresa.

- Ai gente, que emoção, parece que meu coração vai sair pela boca, - falava Diego, enquanto se abanava com as mãos – esperei tanto por esse momento.

- Esse momento seria melhor se não tivessem aqueles urubus da imprensa lá fora. - disse Wanda.

- Você quer que eu tire eles de lá Wanda? Eu tiro todo mundo, numa pancada só.

- Tirar eles da onde, Sézão? Ttá doido? Eles tão na rua, e a rua é pública. O máximo que você vai conseguir é aparecer no jornal como espancador de jornalista.

- Desculpa Wanda, eu só queria ajuda. É que eu meio nervoso. É estranho o Johnny não estar aqui. Sem falar que eu ainda me lembro...

- O que o Johnny foi fazer é muito importante também, e acho que foi uma boa decisão dele. Eu ainda confio no senso de prioridades dele.

- Eu também... eu só... enfim...

- Ai gente, para com esse clima de velório! Por favor né. Hoje é um dia alegre, um dia de renascimento, e a gente tem que trazer boas vibrações para este lugar. Tenho certeza que é isso que o chefinho quer.

- Oi gente. - disse Ed, interrompendo a conversa. - Aqui estamos nós de novo, né?

- Edizinho querido, que horas o chefinho vai aparecer no telão? Já não estou cabendo em mim, de tanta ansiedade!

- Daqui exatos... 15 segundos... 14... 13...

Diego então correu até o microfone usado para avisos e falou:

- Gennteeee tá na hora! Meu amado chefe John Dollar vai falar! Contagem regressiva comigo! 10, 9...

E todo mundo acompanhou a contagem.

- ...3, 2, 1...

"Olá família Dollar S.I.! Para quem ainda não me conhece, eu sou John Dollar, dono da..."

Enquanto a versão virtual e gravada de Johnny discursava animadamente na empresa, o Johnny real estacionava seu carro em frente a uma casa de madeira, com as paredes pintadas de amarelo, portas e janelas pintadas de branco e uma pequena rampa que dava acesso à porta principal da casa. Johnny se perguntou se aquela rampa já havia sido algum dia uma escadinha, o que era mais comum de se ver.

O terreno não era muito grande, mas havia em frente a casa um gramado bem cuidado, e um jardim com flores de várias cores: rosas, vermelhas, laranjadas, amarelas.

Em volta do terreno uma cerca de madeira também branca. O dia estava bonito, ensolarado, e o céu muito azul e sem nuvens, emoldurando a casa. A porta e as janelas estavam abertas, o que não o espntava, afinal havia avisado de sua visita.

Johnny saiu do carro e procurou uma campainha; como não achou, recorreu às palmas. Logo viu um senhor aparecer na porta; o homem sorriu e seguiu em sua direção, movimentando rapidamente a cadeira de rodas.

- Que bom que você veio!

O homem abriu o portãozinho e esticou a mão para cumprimentar Johnny, que correspondeu.

- Achei que sua secretária tinha se enganado quanto a data da sua visita. Não é hoje a reabertura da Dollar S.I.?

- É sim Charles. Mas como você não pode estar lá, achei que precisaria de uma companhia aqui. Não é das melhores – esboçou um sorriso – mas é melhor que nada.

- Não fala isso Johnny, é um honra ter um dos caras mais importantes do país na minha casa. Vamos entrar. Eu já deixei uma cervejinha na geladeira.

Charles se locomovou em direção a casa e Johnny o seguiu.

Já na cozinha, vendo Johnny aparentemente abatido, Charles falou:

- Como estão as coisas, chefe? Você não aparece muito animado. Da última vez que esteve aqui você parecia melhor.

- Sou eu quem deveria perguntar isso pra você. Como você se sente com a reabertura da Dollar?

Charles olhou para baixo e suspirou.

- Olha... não posso dizer que eu conseguiria ir para lá, como se nada tivesse acontecido; mas isso não quer dizer que eu me aborreço de alguma forma com a reabertura da empresa. A vida continua Johnny, as pessoas precisam trabalhar. Foi uma tragédia o que aconteceu comigo, mas tragédias acontecem todos os dias, e o mundo nunca parou e nunca irá parar por isso. Você devia estar lá, aquele lugar precisa de você.

- Tem muita gente lá pra cuidar de tudo. A única coisa que eu queria era achar uma maneira de... sabe, achar uma forma de resolver as coisas...

- Uma forma de voltar no tempo Johnny? O tempo não volta, as coisas são o que são. Tem que seguir em frente.

- E você... está conseguindo seguir em frente?

Charles se ajeitou na cadeira.

- Cada dia é uma vitória. Eu estou me adaptando.

- Eu conheço gente muito boa Charles, na verdade, os melhores do mundo... os melhores profissionais que você pode imaginar, na área que você imaginar. Bioengenharia, IA, qualquer coisa... Pra desenvolver algo que, pelo menos, facilite as coisas pra você.

Charles deu um leve sorriso.

- O meu problema não são as minhas pernas; elas já não funcionavam antes. O meu problema é aqui ó – Charles deu leves batidinhas na têmpora direita – na minha mente. É o trauma que eu estou superando. E isso meu amigo, só se resolve com antidepressivos, muita terapia e, o mais importante, com o tempo.

Aquelas palavras passaram por cima dos sentimentos de Johnny como um trator. Cada vez que ele visita Charles, parecia perder mais um pouco de energia. Era uma mistura de revolta, tristeza, culpa e impotência.

Charles mudou de assunto e os dois conversaram por mais algumas horas. Falaram de futebol, política e carros.

- Foi bom ver você Charles - disse Johnny, quando estava indo embora. - Sabe que se precisar de qualquer coisa, é só me ligar.

- É claro chefe. Não se preocupe.

Johnny caminhou até o carro, cabisbaixo, com as mãos no bolso.

Charles ficou olhando-o até ele entrar no carro e partir.

"Por que coisas ruins acontecem com gente boa?", pensou Johnny, ficando mais uma vez sem encontrar uma resposta.  

Meu Namorado Bilionário - VOLUME 2Onde histórias criam vida. Descubra agora