Tem coisas na vida que você começa fazer sem muita expectativa, meio que na obrigação. Você tem que fazer aquilo sem titubear. Tive apenas alguns momentos na minha vida que tive que recorrer a isso, mas agora, nesse exato momento, não. Arrumei os punhos da minha camisa enquanto olho para o homem que acabou de chegar.— Nunca fui um homem que almeja tirar do outro o que é dele por direito... — Comecei a falar me aproximando do tal, que olhou para os outros presentes. — É aquela coisa, nunca faça com os outros o que não quer que façam com você.
— Sim senhor.
— Já que estamos de acordo senhor...
— Walsh. — gaguejou.
Puxaram uma cadeira para ele sentar. Walsh está suando por todos os lados, engolindo em seco a própria língua. Uma das coisas que aprecio em um homem, medo e também não temer em demonstrá-lo.
— Senhor Walsh, sabe por que está aqui?
— Sim senhor.
— Hum... Tudo bem. Vamos para o ponto então.
— Senhor... tive que fazer. — Me sentei cruzando as pernas, me entregaram um copo com uísque, e um charuto. — Minha família... — Ele esfregou a testa com punho da camisa, olhou em volta, engoliu em seco e voltou a me olhar. — Minha mulher e meus filhos sofreram um acidente a cerca de três meses atrás. Precisava muito do dinheiro aí... Como... Como a minha função ainda é... Baixa... a conta do hospital, o plano de saúde não deu conta e...
— Uma história bonita, senhor Walsh. — girei o copo na mão, fazendo o líquido de dentro, também girar, encarando aquele pequeno redemoinho e pensando no que teria que fazer com esse homem.
— Eu juro que não estou mentindo, Don De Ângelis.
— Não estou dizendo que esteja. Mas veja, se eu estiver errado, me corrija, por favor. — Me levantei, comecei a caminhar em volta dele devagar, ainda girando o copo na mão. — Há cerca de um ano e quinze dias atrás, o senhor foi inserido na nossa família, suas palavras foram: se eu trair a família, que minha carne queime como está imagem.
— Santa Catarina. — todos os presentes falaram, inclusive Walsh, em saudação a nossa padroeira.
— Santa Catarina. — me sentei novamente, entreguei o copo a alguém. — Quero que diga voz alta, para os demais ouvirem com clareza.
— Posso pedir algo primeiro, Don?
— Já sei o que irá pedir... mas continue.
— Sabe?
— Todos esses homens que você está vendo, são meus braços, olhos, pernas... Não há m um fio de cabelo fora do lugar, que eu não saiba. — Ele resfolegou alto, novamente enxugou o suor da testa.
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Amor, honra e máfia
RomanceQuando se faz parte desse mundo, em que tudo é mais discreto e mais sanguinário, um pico de paz e felicidade é raro ir para Leone De Angelis essa noite é uma dessas realidades. Ele sorriu ao vê-la atravessar o cômodo de um lado para o outro, chutou...