Quando se faz parte desse mundo, em que tudo é mais discreto e mais sanguinário, um pico de paz e felicidade é raro ir para Leone De Angelis essa noite é uma dessas realidades. Ele sorriu ao vê-la atravessar o cômodo de um lado para o outro, chutou...
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Eu sabia o que iria acontecer, juro em nome de tudo que mais sagrado que sei o que vai acontecer nos próximos dias, no máximo meses, mas eu nunca imaginei que seria por ela. Olhai para meu marido que está focado na tela do celular, revirei os olhos do quão cômico e insuportável é essa situação. Ele está todo de preto, cabelo perfeitamente bagunçado como se tivesse passado diversas vezes as mãos entre os fios, a postura impecável, maxila rígido, mas o conheço, esses anos todos me fizeram conhecer os pequenos detalhes dele. Até um suspiro fora do lugar eu sei o que significa. E o jeito que ele me olhou...
Pode ser o fim, mas vou fazer um fim de merda.
A última vez que estive em um velório, fui da minha mãe e eu tinha apenas oito anos, então falo com propriedade quando digo que eu não faria meu filho passar por isso sem ser obrigado. E saber que Leone queria que nossos filhos passasse por isso, pelo simples fato de... Foda-se o que ele achava. A discussão não teve fim, foi além de uma simples "ordem e negativa".
— Qualquer coisa esteja passando pela essa sua cabecinha estúpida, não faça. — Ele falou assim que o carro parou de frente ao cemitério.
Eu não iria fazer nada, mas já que esse merda está tentando me dizer, "qualquer coisa esteja passando pela essa sua cabecinha estúpida", eu faça. Juro que não, iria fazer nada. Ele é muito idiota de tentar me dizer como reagir diante das suas ações. É engraçado que não saiba que toda ação tem uma reação? Se ele não sabe, hoje será um dia de muitos aprendizados, não é mesmo.
Tem tanta gente no cubículo de igreja, que é como se fosse o próprio presidente da república estivesse prestes a ser sepultado. Se fosse uma pessoa decente, aposto que não teria meia dúzia de pessoas aqui, chorando falsamente sua morte. Que hipocrisia dos infernos.
— Verena, por favor. — Minha sogra me repreendeu aos cochichos. Rir. Não tinha notado que eu falei alto. Mas é verdade. Todos aqui presentes, são banhados em hipocrisia, dos pés a cabeça.
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Eu não consegui olhar na direção do Caixão, onde meu pai está, sabendo que não é mais ele.
Olhei para minha mão, ao sentir alguém entrelaçar seus dedos aos meus. Seguir olhando para nossas mãos unidas, a aliança de noivado brilhando no meu dedo. Apertei os lábios para segurar um soluço. Michael cochichou no meu ouvido que já vão fechar o caixão. Isso significa que já vai ser enterrado. Uma dor me rasgou por dentro, mais forte do que nos últimos dias. É definitivo. É a última vez que olharei para ele.
