04 - Um jogo

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Antes

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Antes.

No dia seguinte, ao encerrar meu expediente, ele estava lá, na saída da biblioteca, fumando um cigarro próximo as vigas de madeira que ajudavam a sustentar o lugar.

Não o tinha associado com vícios antes, mas era de se esperar que ele os tivesse. Ninguém que apreciava do lado sombrio, melancólico e ácido da literatura possuía uma alma maculada e santa.

Se tinha, essa alma estava prestes a ser corrompida, e talvez a minha tivesse se candidatado a esse posto.

A corrupção mundana.

— A biblioteca deve ser seu lugar favorito — falei ao me aproximar de sua silhueta, o sobretudo cinza o dando um ar de mistério.

Como apreciadora de tudo que virasse minha mente do avesso, eu também gostava de mistérios.

E Peter era como uma charada. Um enigma desfiador e audacioso.

Peter segurou o cigarro no ar e virou o rosto parcialmente em minha direção, um sorriso brotando do canto de sua boca.

— Finalmente — soprou a fumaça para longe, apagou o cigarro numa das vigas que já estava vandalizada e atirou a bituca apagada na lata de lixo a sua direita.

Meus pés travaram na mesma hora quando ele girou sob os calcanhares e me deu um vislumbre de seu visual. Não me surpreendi pelas roupas sociais, na outra vez ele as usava também, como se tivesse vindo de um lugar ou ocasião importante. Por baixo do casaco longo e pesado, sua camisa e calças eram pretas. E preto lhe caia bem.

— Estava me esperando? — acho que a pergunta transpareceu todo meu choque; por ele estar lá e por estar impecável.

— Não vejo muitas razões para ficar na frente de um biblioteca, Rosemary — uma de suas sobrancelhas escuras se ergueu. Que atrevido.

Não tenha um colapso tão rápido, Rose. Disse a mim mesma, mas tanto eu quanto as vozes da minha cabeça sabiam que era inevitável não ficar com uma expressão de idiota impressionada por ele apenas estar ali, existindo.

— Posso saber a que devo a honra? — perguntei, afinal, ele não havia pedido meu número, era de se esperar que jamais aparecesse em minha frente novamente.

— Jantar — o sorriso singelo que me ofereceu teria derretido a mais forte das mulheres, além de todo gelo das calotas polares. — Estava com fome, mas também queria dialogar, e curiosamente a única pessoa que cogitei para se ter uma refeição com uma boa conversa foi você — certo, juntando aquela droga de sorriso perfeitinho, digno da aprovação de qualquer dentista, ele poderia se tornar culpado pelo aquecimento global também.

— E seus amigos? Você deve ter amigos — suponho. Talvez ele não tivesse. Eu mesma não era um grande exemplo da prospecção de um enorme círculo social. — Não pensou em jantar com eles?

3 •Me Esqueça, Por Favor - Blue Sky CityOnde histórias criam vida. Descubra agora