13 - Pela primeira vez

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Atualmente

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Atualmente.

Do meu escritório, li quase todos os textos da coluna intimista de Rosemary, fiquei vidrado na sua escrita, imerso em cada confissão tão intensa quanto a outra. As vezes, pareciam ser sentimentos de outras pessoas, as vezes, para mim, ficou visível que são seus próprios sentimentos.

Ela é boa. Boa do jeito que pessoas são quando nasceram para fazer uma coisa específica: assim como Van Gogh e a pintura, Beethoven e a música, Platão e a filosofia.

Rosemary é uma escritora incrível, sensível na medida certa, pragmática quando necessário, e com uma pitada apaixonante de melancolia em seus textos.

A parte mais difícil de lidar com sua aversão é que quanto mais leio seus textos, mais sinto um desejo urgente, quase pulsante, de aparecer na sua frente e perguntar o que ela acha sobre as estrelas. Ela me responderia com um texto reflexivo sobre a morte, ou talvez sobre as diferenças entre classes sociais, mas nunca algo óbvio ou simplório.

Ela não sabe, pode passar o resto da vida sem saber, nunca fui apegado a bobagens, meus amigos são tudo que tenho de sólido na vida, fora eles, tudo costuma ser descartável. Ainda assim, eu mantive o mesmo número por cinco anos.

Não por conveniência, por apego ou qualquer uma dessas bobagens.

Durante cinco anos, mantive o mesmo número, numa esperança infundada de que ela um dia me ligasse, ou mandasse uma mensagem, até se fosse por engano. Mantive o mesmo número, por cinco anos, apesar das mulheres, da rotina, da mudança de cidade, dos infortúnios e todo o resto.

Mantive o mesmo número, porque se ela ligasse, a qualquer momento, em qualquer lugar, eu teria atendido.

Rosemary nunca ligou. Gostaria que me ressentir dela fosse mais fácil.

Sei que essa "perseguição" é infantil, um tanto delirante, e descabida da minha parte. Não sou uma pessoa incoveniente, na maior parte do tempo.

Quero irrita-la para que ela revide e assim me sentirei satisfeito em ter algo dela. Foi bobagem pensar que me contentaria com uma pacífica indiferença.

Gosto da sua raiva, do seu ódio, até ele é repleto de uma paixão magnética que me puxa sem piedade para seu entorno.

Pego o celular e abaixo a tela do notebook em minha mesa, apoio as costas na cadeira e ponho os pés ao lado do computador.

Eu: Escreve bastante trechos sobre paixão, devo presumir que leva uma vida bem agitada?

São esses momentos que me fazem acreditar que sou, de fato, um pirralho em uma carcaça de trinta anos.

Demora alguns minutos, fico com a tela da conversa aberta até ver seu "online" se transformar em "digitando".

É, Rosemary está me tornando deprimente.

3 •Me Esqueça, Por Favor - Blue Sky CityOnde histórias criam vida. Descubra agora