2°Capítulo

4.1K 270 12
                                    

Eu mal sei por onde começar, olhar para essa bagunça já me deixa com dor de cabeça. A campainha toca.

- Blair, filha! Abre a porta. - Grita meu pai lá do andar de cima.

- Mas já temos visita? - Resmungo. Eu vou me direcionando até a porta, eu sinto um frio na barriga estranho. - Oi. 

- Prazer, meu nome é Derick. - Ele continua ao ver que eu permaneci em silencio. - Minha mãe pediu para virmos ajudar vocês. - Ele termina de falar puxando um garoto, acho que pode ser seu irmão.

- Gentileza, mas acho que não precisamos de ajuda. Obrigada.

- Parece cansada. - Diz a criança.

- Podemos dizer a mamãe que ela negou nossa ajuda,

- Negou o que? - aparece meu pai atrás de mim.

- Esses garotos vieram a pedido de sua mãe, para nos ajudar com a mudança, mas eu disse que não precisamos de ajuda.

-Blair, querida. A bagunça está grande, não vamos conseguir terminar isso sozinhos. - Eu olho para o garoto, que se me lembro bem seu nome é Derick, ele está com um sorriso de vitória em seu rosto.

- Você está com esse sorriso orgulhoso por nos ajudar na mudança, serio? - Digo dando espaço para que eles passassem. 

Nós realmente precisávamos de ajuda, só não consigo me acostumar com o fato de brasileiros ser tão receptivos. Não que eu odeie a gentileza, muito pelo contrario, mas definitivamente, nunca vi pessoas tão amáveis. Na verdade nem tão amáveis assim, eu e meu pai estamos no Brasil a dois anos, saímos do nosso antigo apartamento por falta de gentileza de vizinhos, ou de senso do meu pai. As vezes, papai bebe muito, e acaba perdendo a consciência quando isso acontece.

Nós viemos para cá porque ele me prometeu que as coisas seriam diferentes, e eu acredito no meu pai, acredito em seu amor por mim, sendo assim, acredito em sua mudança. 

- Cuidado, isso é da minha mãe. - Direciono a palavra a Derick.

- Cadê sua mae?

- Ela morreu. - Respondo escandalizada com sua falta de delicadeza.

- Você disse que isso pertence a sua mãe, como se ela ainda estivesse aqui.

- Tanto faz. - Digo pegando a caixinha de musica que era de mamãe. - Ela morreu a 6 anos atrás.

- Sinto muito. 

- Imagino que sim. - Digo ironicamente.

-Você parece tensa. - Ele diz colocando as mãos em meus ombros. - Vamos para uma festa comigo hoje.

- É tudo o que eu preciso, sabe? Estou tensa por ficar mais de 12 horas em pé ajudando meu pai na mudança, eu poderia sim ir até um spar para relaxar, mas realmente acho que ficar mais 5 horas em pé em uma festa faria mais sentido.

- Cara acho que ela não está afim. - diz a criança.

- Você poderia apenas dizer não.

- Não.

- Eu acho que deveria ir querida, conhecer novas pessoas.

- O terror de um pai liberal vai ser sempre sua filha disciplinada. - digo direcionando um sorriso para meu pai. - Eu também nem sei aonde está minhas roupas.

- Poderia ir comprar, ouvi dizer que aqui tem uns shoppings incríveis.

-  São shoppings normais. - Diz o irmão de Derick incrédulo.

- É que nós morávamos no interior, tínhamos contato com shoppings pequeno da cidade.

- Eu vou recusar sua proposta, Derick. Mas gentileza sua me convidar.

- Vai ficar fazendo o que? - Eu corro meus olhos por toda sala bagunçada, e finalmente encontro a estante de livros.

- Uma boa leitura. - Sorrio para ele.

Eu peguei o gosto por leitura graças a minha mãe, ela adorava ler e sempre lia livros e mais livros para mim. Seu bom gosto e disciplina com a leitura me fazia ser exigente comigo mesmo, nunca acho que li o bastante, ou sempre que me pego lendo um romance penso que os filósofos me acrescentariam mais. Papai sempre me diz que questiono tudo graças a livros grandes de filosofia, e que se por acaso eu fosse amante apenas de romances, isso facilitaria seu papel de pai.

Estava anoitecendo, meu corpo pedia um banho e uma cama, mas minha mente estava presa em tudo. Como eu sentia falta da minha mãe, eu não comentava nada disso com meu pai, eu sabia que  era um assunto proibido. Ele é um bom pai, mas sentia falta dela tanto quanto eu.

na minha cabeceira tinha um livro dela, antes de morrer ela me disse para nunca ser uma adulta conformada com o mundo, ter olhos de criança me traria experiências que o mundo não tem. Eu sei o que minha mãe queria dizer, uma vez li em um livro, que dizia que o adulto estava acostumado com o mundo e com tudo que tem nele, já uma criança se encantava com exatamente tudo. Ter um olhar conformado sobre as coisas, e não querer saber mais nada sobre, não é algo que minha mãe faria, espero que nem eu.

- Sua ultima chance para aceitar ir a festa comigo. - Escuto um grito vindo da janela, suponho ser de Derick, já que a janela do seu quarto da de frente com a minha.

- Eu novamente agradeço, mas não. 

- Seu pai me contou que não são do Brasil, acho que ele me disse sobre Estados Unidos, as festas são diferentes lá, não é?

- Eu já fui uma fez, a proposta é a mesma. 

- Eu já saguei com é a sua. - Ele diz se sentando na varanda. - Se sente diferente das demais jovens só porque lê um livro de vez em quando. Acha todos os jovens um porre por não entender seu linguajar sofisticado. 

- Linguajar sofisticado? olha Derick, se é assim que você deseja me convencer a ir com você...

- Não bonitinha, eu já desisti disso. Fica ai você e seus livros. - Diz ele se direcionando para dentro de seu quarto novamente.

Bonitinha? Será que ele não me achava bonita? Fecho as cortinas e me direciono ao espelho, é de fato, sou magra demais. Ou será que que o problema esta em meu cabelo, escorrido e fino demais. De fato eu pareço uma criança. Era uma pena Derick não ver beleza em mim, eu o achei uma graça.

Eu não deveria me importar tanto com a opinião de um garoto que eu acabei de conhecer. Mas é realmente o que penso sobre mim, magra e sem graça. 

- Tudo bem querida? - Papai aparece se encostando no batente da porta.

- O cabelo da mamãe eram bem mais volumosos que os meus.

- Tudo bem, eu assumo a culpa por isso, - Diz papai passando a mão sobre seus finos fios de cabelo. - Mas em compensação, seus olhos são dela. - Direciono meu olhar ao espelho navalmente, e realmente, meus olhos era o meu patrimônio de mamãe. E sem duvidas era o que eu tinha de mais bonito. - E você é toda ela, querida. O jeito que se expressa, o jeito que questiona, o jeito que torce o nariz quando está contrariada.

- Eu não torço meu nariz.

- Você acabou de torcer. - ele diz sorrindo e vindo em minha direção. - É incrível poder ver sua mãe todos os dias através de você querida. - E por fim me abraça.

- Eu sinto a falta dela, pai. - sinto seu abraço um pouco mais apertado. 

- Eu também.

Bad boy ☆Onde histórias criam vida. Descubra agora