Capítulo 1

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     A porta do carro bateu com força.

     Um suspiro frustrado escapou pelos lábios do homem que havia entrado, com o cotovelo apoiado na porta ele esfregou os dedos a têmpora. O motorista o encarava pelo retrovisor com um olhar cauteloso.

     –A reunião não foi conforme o esperado, senhor?

     Uma pergunta bem formulada.

     –Creio que minhas expectativas se excederam um pouco, John.

      John, o chofer, assentiu e observou as ruas calmas para o horário do almoço. Seguindo o caminho até o restaurante percebeu o aglomerado de pessoas, o chofer sabia o que havia ali todos os dias, seu chefe ergueu a cabeça e observou o aglomerado. Parecia curioso.

     –O que há ali?

     –Uma artista de rua, senhor.

     –Como sabe que é uma mulher?

     –Bom, passamos aqui todos os dias, mas o senhor está sempre com os olhos ocupados nos papéis, justamente hoje não entrou no carro com nenhum.

     O homem sorriu.
  
  –Deve ser um sinal, estacione o carro, John. Estou curioso quanto a essa artista.

     O motorista ficou alegre e logo encontrou uma vaga entre os poucos carros, seu chefe soltou o cinto e saiu do carro, desta vez não bateu a porta. Aproximando-se do conglomerado de pessoas viu a garota maltrapilha ao chão, tudo nela lhe chamou a atenção, desde as roupas gastas à pintura que fazia ao chão, seus olhos jamais contemplaram algo tão belo desde que começou no ramo das artes visuais.

     A pintura tinha cores tão vibrantes e traços tão bem ornamentados que lhe admiraram, grandes pintores levam anos para aperfeiçoar aquela técnica.

     A garota continuou pintando, concentrada e com um sorriso no rosto, as mãos estavam completamente sujas de tinta, havia alguns respingos de tinta no macacão jeans, o tênis branco, e gasto, estava manchado de misturas diferentes de tinta, o cabelo tingido de mel tabaco estava trançado e o lenço acima dele era a única peça limpa.

     –Ficou incrível! – a jovem negra próxima à garota sorria animada.

     O homem percebeu que a jovem de cabelos castanhos a usará como modelo, o resultado ficou incrível e a variação de cores fora muito bem explorada. As pessoas ao redor colocaram algumas moedas ou notas pequenas no pequeno chapéu que havia ali, o homem havia percebido que, apesar do trabalho bem feito, era muito pouco o que tinha no chapéu, as pessoas se dispersam, a jovem que serviu de inspiração deu uma nota de vinte para a garota, ele não deixou de notar o lampejo de alívio que percorreu nos olhos avelãs dela, ela reuniu o material e limpou a tinta da mão. Sob o olhar curioso do homem recolheu as poucas notas e moedas do chapéu que logo colocou a cabeça, quando se virou com todo seu material organizado na mochila percebeu o olhar curioso do homem e recuou um passo.


   –Posso ajuda-lo, senhor?

     –Seus traços são tão bem ornamentados, e sua técnica de pintura tão peculiar. E você sabe como usar cada cor e tom perfeito. Diga-me senhorita, quem é você? Fiquei maravilhado com o que fez.

     A garota encarou o homem de cima abaixo, ele era alto e estava bem vestido com o terno azul escuro, seus cabelos eram negros, mas a barba por fazer estava grisalha, os olhos de chocolate sob a pele bronzeada. Era, certamente, um homem atraente.

     –Eu me chamo Viviane, senhor...
Ele pareceu ficar surpreso por ela não o reconhecer.

     –Sou Sculler Vallauri.

Em Memória ao Beco Waston Onde histórias criam vida. Descubra agora