A porta do carro bateu com força.
Um suspiro frustrado escapou pelos lábios do homem que havia entrado, com o cotovelo apoiado na porta ele esfregou os dedos a têmpora. O motorista o encarava pelo retrovisor com um olhar cauteloso.
–A reunião não foi conforme o esperado, senhor?
Uma pergunta bem formulada.
–Creio que minhas expectativas se excederam um pouco, John.
John, o chofer, assentiu e observou as ruas calmas para o horário do almoço. Seguindo o caminho até o restaurante percebeu o aglomerado de pessoas, o chofer sabia o que havia ali todos os dias, seu chefe ergueu a cabeça e observou o aglomerado. Parecia curioso.
–O que há ali?
–Uma artista de rua, senhor.
–Como sabe que é uma mulher?
–Bom, passamos aqui todos os dias, mas o senhor está sempre com os olhos ocupados nos papéis, justamente hoje não entrou no carro com nenhum.
O homem sorriu.
–Deve ser um sinal, estacione o carro, John. Estou curioso quanto a essa artista.O motorista ficou alegre e logo encontrou uma vaga entre os poucos carros, seu chefe soltou o cinto e saiu do carro, desta vez não bateu a porta. Aproximando-se do conglomerado de pessoas viu a garota maltrapilha ao chão, tudo nela lhe chamou a atenção, desde as roupas gastas à pintura que fazia ao chão, seus olhos jamais contemplaram algo tão belo desde que começou no ramo das artes visuais.
A pintura tinha cores tão vibrantes e traços tão bem ornamentados que lhe admiraram, grandes pintores levam anos para aperfeiçoar aquela técnica.
A garota continuou pintando, concentrada e com um sorriso no rosto, as mãos estavam completamente sujas de tinta, havia alguns respingos de tinta no macacão jeans, o tênis branco, e gasto, estava manchado de misturas diferentes de tinta, o cabelo tingido de mel tabaco estava trançado e o lenço acima dele era a única peça limpa.
–Ficou incrível! – a jovem negra próxima à garota sorria animada.
O homem percebeu que a jovem de cabelos castanhos a usará como modelo, o resultado ficou incrível e a variação de cores fora muito bem explorada. As pessoas ao redor colocaram algumas moedas ou notas pequenas no pequeno chapéu que havia ali, o homem havia percebido que, apesar do trabalho bem feito, era muito pouco o que tinha no chapéu, as pessoas se dispersam, a jovem que serviu de inspiração deu uma nota de vinte para a garota, ele não deixou de notar o lampejo de alívio que percorreu nos olhos avelãs dela, ela reuniu o material e limpou a tinta da mão. Sob o olhar curioso do homem recolheu as poucas notas e moedas do chapéu que logo colocou a cabeça, quando se virou com todo seu material organizado na mochila percebeu o olhar curioso do homem e recuou um passo.
–Posso ajuda-lo, senhor?–Seus traços são tão bem ornamentados, e sua técnica de pintura tão peculiar. E você sabe como usar cada cor e tom perfeito. Diga-me senhorita, quem é você? Fiquei maravilhado com o que fez.
A garota encarou o homem de cima abaixo, ele era alto e estava bem vestido com o terno azul escuro, seus cabelos eram negros, mas a barba por fazer estava grisalha, os olhos de chocolate sob a pele bronzeada. Era, certamente, um homem atraente.
–Eu me chamo Viviane, senhor...
Ele pareceu ficar surpreso por ela não o reconhecer.–Sou Sculler Vallauri.
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Em Memória ao Beco Waston
Roman d'amourViviane Houghton nasceu nas ruas, e após 10 anos de insultos e torturas, sua mãe a abandonou. Ainda criança, não tinha nenhuma esperança que fosse sobreviver, mas é então que em uma tarde de verão, ela vê uma jovem artista pintando e encontra na art...