30 - DIGA O QUE SENTE, ANTES QUE EU VÁ

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    Você já fez algo sem ter a mínima ideia do porquê estava fazendo?  Tipo começar a escrever um parágrafo de um livro, ou desenhar rascunhos aleatórios, ou, até mesmo, pular em uma piscina cheia de água fria, que era ainda mais esfriada por gotas maldosas de chuva

  Existem coisas loucas na nossa vida, impulsos que seguimos sem direção até que nos encontramos em... Dah, em uma piscina gelada maltratada por gotas de chuva maldosas. Então, no primeiro pulo, está tudo submerso, mas você consegue ouvir o barulho da chuva se misturando com o líquido da piscina, consegue ouvir também as bolhas de ar, que a entrada do seu corpo na água criou, subirem e explodirem ao voltar para superfície, você escuta até o líquido gelado se dobrar em um barulho cremoso por causa das bolhas de ar criada pelo seu corpo. Você vai ficar na água por tempo suficiente para ouvir um baque ao lado, e mais bolhas de água estourando por causa do idiota que pulou com você. E tudo vai parecer mais lento dentro daquela bacia de água gelada que já arrepiava sua pele, mas estava tocando todo seu corpo fazendo você não sentir exatamente frio.

   Você vai soltar suas pernas, que tinha agarrado em um gesto comum para atingir a água, para elas só tentarem alcançar o chão de azulejos da piscina, mas vai acabar percebendo que a piscina é mais funda do que parece. Então você vai olhar para cima, erguer as mãos e abrir a água. Seu corpo vai rasgar o caminho até que esteja na superfície. Seu cabelo vai ser puxado para baixo pela força ao deixar a água, gotas de chuva vão se bater em você e deslizar pelo seu rosto molhado. Você vai ter que mexer os pés para não afundar, então seus dentes vão bater um contra os outros assim que a primeira corrente de vento passar. E o mundo vai parecer novamente mais lento.

  Você vai poder admirar a outra pessoa que estava com você fazer o mesmo processo que você fez, vai conseguir ver até ele respirar fundo como se não tivesse capturado ar antes de pular e agora precisasse do dobro do que devia precisar. Ele vai tremer com o frio exatamente como você, porque nenhum dos dois estava exatamente prevenido para forte ventania.

— Isso é estranhamente bom – Theo ouviu Liam dizer. Bem, seria o que você ouveria, se estivesse no lugar dele, mas talvez, se fosse outro alguém no lugar de Theo, ou outro alguém no lugar de Liam, risadas não flutuassem no ar, talvez uma dessas outras pessoas não se agarrasse na outra por não saber nadar direito — Podemos ir pra beira, lá é mais raso – Liam perguntou, Theo sorrindo mesmo que aquilo significasse gotas de chuva tentando entrar na boca dele, ou cloro alisando seus dentes assim que o movimento de seu corpo e as gotas da chuva formasse ondas na piscina.

   Eles nadaram juntos para beira, em pouco tempo conseguiam pôr os pés no chão e não precisavam mais agita-los para não afundar. Liam ainda segurando o braço de Theo, mas agora não como um apoio para sua nadar ridículo e mau aperfeiçoado, mas só como uma real necessidade de tocar o Raeken, rastejando para mais perto de onde sua mão agarrava, com os olhos estreitos por causa da neblina que a cortina de gotas que despencavam criavam. A mão dele largando o corpo arrepiado, assim que estavam poucos centímetros de distância, ambos respirando de forma irregular como se tivesse sido uma nadada intensa, não como se tivessem atravessado somente cinco metros do meio para beira da piscina.

— Eu vou ficar doente – Liam declarou, mas era óbvio, o nariz dele tratou de entupir logo que ele fez contato com a chuva no percurso da varanda para alí — Deus – olhou ao redor, se sentindo um tripulante de um navio naufragado em meio de uma tempestade — Há chances de um raio atingir a gente? – Liam perguntou. Theo não sorriu, ele já estava sorrindo, somente tornou aquilo auditivo por causa da pergunta. Liam rastejando o olhar de volta para a única pessoa que toparia fazer algo daquele tipo com ele, pelo menos a única pessoa que ele conhecia — Está sentindo frio?

— Não, Liam, estou sentindo calor, acho que estamos no inferno – Theo brincou, sentindo água ser espirrada nele, um jato criado pelo movimento de Liam de pressionar a palma aberta contra a água em direção ao Raeken — Nossa, me abalou muito, agora me sinto atacado, estava tão seco e você me molhou.

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