8 - EU TENHO

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  Theo estava parado na porta de Juana, ombro grudado na parede azul, sorriso morno no rosto, só por sentir o aroma adocicado, que vazava pelas ruas e iniciava naquela casa.

— Vai me dar um pedaço, né? – Theo lançou um “Atá”, para o garoto que já tava a três minutos esperando com ele sem silêncio — Um pedaço, Theo. Um pedaço.

— Não – disse, cruzando os braços, olhando para dentro da casa, pela porta aberta, mas voltando a olhar o garoto, que beirava o outro lado da porta — Menino, vá viver sua vida, pare de esperar meu bolo.

— Eu só saio daqui com um pedaço – ditou, batendo o pé. Theo suspendeu uma das sobrancelhas, agora que esse pedaço não sairia mesmo.

— Sente e espere – reafirmou, alinhando mais os ombros.

— Rapaz, se vai morrer se me der um pedaço? – insistiu, Theo arregalou os olhos para ele, pensando nas possíveis consequências que teria se desse um soco na cara de Ícaro, o quase dono de um pedaço do seu bolo.

— Mano, cadê sua mãe? – olhou ao redor, em procurar da mãe de Ícaro, que fungou o nariz e continuou batendo o pé — Afaste sua alma da minha, pelo bem da minha saúde mental.

— Um pedaço, Theo! Um pedaço – Ícaro arregalou os olhos para ele também. Mas Theo já estava ciente de que, se desse um pedaço para ele, voltaria com metade do bolo, porque sem sombra de dúvidas tinha um rebanho de crianças escondidas só esperando Ícaro convencer ele.

— Eu prefiro pagar bolo um para você – tirou o dinheiro do bolso, separando o do bolo dele e o de Ícaro — Vocês, no caso – destacou o “vocês” só para ver a grade da escada ao lado da casa de Juana ser aberta, logo os meninos foram descendo, contando vitória.

— Eu disse que funcionária – Ícaro sacudiu a nota de vinte para os amigos, que fizeram uma mine presepada. Theo riria se não fosse muito barulho, que com certeza faria alguém reclamar — Ainda dá para comprar um refrigerante – ressaltou, logo assim que acalmaram, gerando outra onda ainda mais alta — O Theo é rico, gente.

O Raeken negou, não resistindo e acabando rindo. Juana chegou sem entender nada, só entregou o pedido e pegou o dinheiro, tendo a janela que ficava um pouco distante da porta, rodeada por crianças, que tentavam falar ao mesmo tempo o que queriam. Ele abaixou a cabeça um pouco, ainda rindo, e estava tão distraído com as crianças naquele momento, que nem um empurrão forte no ombro podia mudar seu humor, e por isso ele latiu um:

— Vacci piano, sbrigati
(Vai com calma, apressado)

   Para quem havia chocado ombros com ele. Então, agarrou melhor o bolo que quase tinha caído, mas que devia estar macio ao ponto de rachar com aquele balançar, Theo não ligou muito. Na verdade, seu riso só sumiu quando ouviu uma resposta em baixo tom, mas suficiente para ser ouvida por ele.

— Mi dispiace
(Me desculpe)

  Theo inclinou a cabeça confuso, pensando ter ouvido errado, antes de levantar o olhar.

  Liam paralisou automaticamente, pensando ter entendido errado, antes de olhar para trás.

   E lá estavam eles de novo, um encontro desastroso, se assim podemos dizer, sendo iluminados por uma luz amarelada, natural agora. Por um momento, as memórias de Theo piscaram naquele Liam do banheiro.

  Pontas dos dedos avermelhadas, como alguns pontos do rosto, cabelo arrepiado e jarro contra o peito, de forma ainda desesperada.

  Theo lembrava até do cenário atrás de Liam, e se perguntou porque sua mente guardou tão perfeitamente a imagem do garoto.

 
  Rubores nas bochechas, dedos vacilando na maçaneta da porta, falando e falando sem parar.

  Liam tinha perfeitos retalhos das ações de Theo, sempre guardou muito bem imagens na memória, mas normalmente eram como fotografias, não como Gifs em velocidade lenta.

— Vo-

Tentaram falar....

Mas foi ao mesmo tempo, então riram.

  Liam se aproximou sem saber o que dizer, ainda compartilhando do ato atoa, fazendo Theo endireitar a postura.

— Vamos sempre nos encontrar assim? – Liam questionou antes de tudo, Theo não sabia o que responder — O que está fazendo aqui? – questionou, olhando para o bolo dentro da sacola plástica por um momento, já que o Raeken suspendeu ela como resposta.

— O que você tá fazendo aqui? – retribuiu.

— Procurando alguém que tenha barco – respondeu, simplesmente.

Deve está querendo dar um passeio com o namorado. O tal do Nolan. - T

— Pra quê? Vai dar um passeio com o Nolan? – Theo perguntou. Liam estranhou a forma que ele falou, e ainda mais com a pergunta.

— Desculpa, eu não entendi, pode repetir? – Liam pediu, educadamente.

— Ah, agora seu português falha – impôs ironia, deixando o Dunbar mais confuso.

— Eu... – olhou brevemente ao redor — Disse algo de errado? – questionou, por via das dúvidas. Vai que confundiu algum xingamento com a palavra “barco”. Theo apenas riu, negando, ainda estranho — Ok, tchau? – falou lento e inseguro, se “barco” fosse um xingamento, ele perguntou se todo mundo tinha um, então xingou muita gente em um dia só.
 
  Liam se virou confuso, ainda pensando se disse algo de errado, ele atravessou o grupo se criança, e seguiu a rua.

Você foi grosso, intrometido e babaca, pareceu o Jonathan. - T

Também acho. - T

Cala a boca, que ele repetiu o que tu pensou.- T

Theo suspirou, repousando os olhos por um segundo em arrependimento, antes de ir atrás de Liam e chamá-lo.

— Eu – falou quando parou de andar atrás do Dunbar, que tinha se virado para dar atenção a ele.

— Você?

— Tenho um barco – explicou, o Dunbar o olhou surpreso — É do meu pai, mas posso emprestar a você.

— Sério? – Theo assentiu, fazendo Liam dar um passo para frente.

— Desculpe, por agora a pouco, eu estava com a cabeça em outro lugar – explicou, vendo o Dunbar sorrir sem dentes com o pedido. Tentou não expressar reações, mas ficou um pouco confuso com Liam.

— Olha, pode recompensar me ajudando mais – Liam propôs.

Abusado, né? Mais até que eu.

— Abusado, né? – Theo comentou, baixo, como se Liam nem estivesse a um passo dele, o garoto não se ofendeu, só ergueu rapidamente e caiu os ombros confuso.

— Como? – Theo negou com a cabeça, vendo os lábios de Liam entreabertos mesmo depois de finalizar a palavra, os cantos ainda dando sinais de um sorriso.

— Nada não, minha casa fica para lá – apontou um pouco atrás com a cabeça. Logo se viraram e foram em direção.

— Vou fazer uma vingança, e precisa ser perfeita... _– começou a explicar.

***

Okay, esse definitivamente é um dos capítulos que mais me incomoda, eu queria realmente reescrever ele, mas acabaria estragando o clima inicial da história. E sim, precisava ser um pouco confuso, vazio e com demostrações talvez significativas, mas que ninguém realmente entenderia os significados, ao menos, não ainda nesse ponto da história.

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