Planos Divinos (VegasPete)

... Dezoito...

Rafael POV

Achei que era o único anjo autêntico em meio a um bando de zumbis, porém percebi que todos devem pensar o mesmo de si. Por essa razão nos colocamos em um palanque alto onde nem outro consegue chegar, só nós. No entanto, a realidade é bem diferente disso e somos exatamente como eles. Zumbis tolos que seguem algo cegamente sem sequer se questionar simplesmente por alguém dizer que somos pequenos demais para levantar a voz. 

Alguns se seguram na premissa de que as coisas nunca mudarão não importa o que você faça, e  por isso nunca fazem nada. Todos os dias eu me perguntava o motivo de proteger os humanos deles mesmos, e o pior, se nosso trabalho é ser seus guias, porque não podemos interferir e os salvar. Finalmente entendi por mim mesmo que nosso trabalho é aprender com eles, mas, sem nunca poder ser eles. 

Dizer em voz alta na frente de um ser que pode me matar com um estralar de dedos, que fui apaixonado pelo seu namorado foi a experiência mais próxima da morte que experimentei. Mesmo sabendo que é impossível ter privacidade namorando um ser que ler mentes, Pete me chamou e pediu para falarmos em particular. 

No reino espiritual de nosso Mestre havia muitos anjos, esses seres são naturalmente lindos. Mesmo rodeado de criaturas de aparência ilustre, o único que me fazia ficar desconcertado era ele. Agora ele está na minha frente, com um rosto gentil que de alguma forma ainda mexe comigo não do mesmo jeito que antes, mas ainda sou vulnerável perante o Pete. 

— Você está mesmo bem Rafael?

Maldita pergunta que ele faz sempre que me vê, a essa altura meus pensamentos estavam nos deuses na sala ao lado que podem ouvir tudo. Tentei afastar esse pensamento de mim e focar no anjo que me olhava com ternura. 

— Estou bem, não se preocupe comigo. 

—  É  literalmente impossível, eu realmente me importo com você.

— Pelo amor dos deuses você quer me matar? — grito vencido pelo medo.  

— Vegas não está nos ouvindo, ele respeita minha privacidade mesmo que ele saiba que é direito dele ouvir como um ser onisciente.

— Não sei como processar essa informação. 

— Quero pedir desculpas por nunca perceber seus verdadeiros sentimentos. — ele diz e então me abraça carinhosamente. 

Não sei o que era, mas doeu muito quando ele disse isso. Como se uma parte de mim em algum lugar ainda tivesse alguma esperança, mas agora tivesse sido pisoteada. Ao mesmo tempo, me senti aliviado, tive tanto medo dele me desprezar ou repreender por sentir isso que nunca pensei em falar. 

— Honestamente me senti muito perdido quando você se apaixonou por aquele cara. Eu estava bem ali na sua frente todo dia e você nunca me viu. — Fora do meu controle emocional, senti minha voz se embargar. 

— Rafael, você me salvou tantas vezes, eu contava tudo para você. Sinceramente achei que você fazia o mesmo. 

— Como eu ia dizer ao meu melhor amigo que eu o via como algo mais? E dizer isso não ia fazer você gostar de mim!

— Você não sabe! Não sabe como essa informação ia mexer comigo! Talvez eu te amaria e assim não seria machucado por aquele babaca! 

Fiquei perplexo, nossa briga não estava sendo como pensei,  acabei sorrindo e minhas gargalhadas contagiaram o baixinho a minha frente.  Começamos a rir freneticamente até que nos abraçamos de novo. 

— Eu te amo Pete, me machuquei sozinho, te amei sozinho e nunca soltei a sua mão. Admito que agora é obviamente impossível ficarmos juntos, mas se possível,  eu ainda preciso da sua amizade.