Ano Sabático

13 - Natal feliz

Claire

Chegamos a Santiago e fizemos alguns arranjos nas nossas reservas do hotel. Jamie conseguiu reservar um quarto no mesmo hotel e fiquei com ele, enquanto Tom ficou com Geillis, assim como fizemos antes. Tínhamos pouco tempo até que meus amigos partissem, mas pelo menos G ficaria comigo até o Natal, que estava próximo. Passamos esse tempo explorando a cidade em grupo e foi muito divertido.

Quando nos despedimos de Joe e Louise, derramei algumas lágrimas, afinal eu não sabia quanto tempo ficaria viajando e quando os veria novamente. Jamie me abraçou e me consolou. Comecei a pensar em como seria quando tivesse que me despedir dele e a ideia me deixou simplesmente arrasada. Não conseguia acreditar como ele havia se tornado tão importante para mim em tão pouco tempo. Ele não escondia que estava bastante envolvido, mas eu não sabia até que ponto. Em poucos dias ele iria embora, será que nosso relacionamento sobreviveria até que eu finalmente voltasse para a Escócia? E mesmo quando eu voltasse, nós não morávamos tão perto assim. Jamie percebeu que eu fiquei pensativa e me apertou ainda mais. Decidi que iria tentar deixar as coisas seguirem o seu fluxo, e ver o que iria acontecer, sem sofrer por antecipação.

Conseguimos alugar um apartamento por alguns dias, onde poderíamos passar o Natal juntos, Geillis, Tom, Jamie e eu. Nesses dias pudemos conhecer alguns lugares nos arredores de Santiago, além de andar bastante pela cidade. Jamie e eu também discutimos o que faríamos depois que Geillis e Tom fossem embora. Contei a ele sobre meu amor pela poesia de Pablo Neruda, que era chileno, e que eu gostaria muito de conhecer os locais onde ele viveu. Jamie já tinha ouvido falar, mas não conhecia nada da obra de Neruda, me propus a mostrar algumas coisas a ele assim que possível. Tive uma ideia de preparar alguma coisa para ele com poemas e lembranças de viagens, então comprei um caderninho moleskine sem chamar muita atenção e guardei na minha bolsa. No mesmo dia comecei a juntar pequenas lembranças dos lugares que passávamos. Cartões dos restaurantes que gostamos, panfletos, etc. Eu gostava de desenhar e estava sempre fazendo esboços em qualquer papel que caía nas minhas mãos. Pensei em fazer alguns desenhos no caderno também. Como já pensava em fazer uma espécie de diário de viagem, tinha trazido algum material básico comigo. Acabei não levando para a trilha porque a ideia era deixar a mochila o mais leve possível, mas agora poderia aproveitar para fazer essa lembrança para Jamie.

Quando voltamos para o apartamento, fizemos algumas pesquisas e decidimos ir a Valparaíso e Viña del Mar para aproveitar nossos últimos dias juntos (só de pensar nisso meu coração quase parava).

Naquela noite, como em quase todas as outras desde que dormimos juntos pela primeira vez, ficamos algum tempo com nossos amigos após o jantar, depois nos recolhemos e nos amamos com toda a intensidade e carinho que pareciam só aumentar entre nós. Eu já tinha admitido para mim mesma que estava completamente apaixonada por Jamie, mas ainda não tive coragem de me declarar. Tinha medo de que fosse cedo demais, ainda mais que ele iria embora muito em breve. Depois que ele dormiu, fiquei olhando para o rosto dele, tão lindo e pacífico, e me enchi de amor. Levantei da cama e peguei o moleskine na minha bolsa. Na primeira página escrevi com a letra mais caprichada que consegui: Para Jamie, para nunca se esquecer dos nossos dias juntos. Com amor, Claire. Em seguida procurei na internet o bar onde nos conhecemos em Puerto Natales e desenhei a logomarca do bar na página seguinte. Eu não era uma desenhista profissional, mas ficou relativamente parecido.

Saltei algumas páginas onde eu pretendia fazer alguns esboços e anotações sobre Torres del Paine. Busquei no meu celular um poema de Neruda que falasse sobre nosso momento e escrevi numa folha:

"Tenho fome da tua boca, da tua voz, do teu cabelo,

e ando pelas ruas sem comer, calado,