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LIVIA BILLY

📌 aldeias das marés

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📌 aldeias das marés

Minha falecida tia, que era a antiga moradora daquela casa, sempre me ensinou uma lição, que eu pretendia levar para a vida: ao final de um dia de merda, a única coisa que pode amenizar o estresse é tomar uma boa cerveja de frente para o mar

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Minha falecida tia, que era a antiga moradora daquela casa, sempre me ensinou uma lição, que eu pretendia levar para a vida: ao final de um dia de merda, a única coisa que pode amenizar o estresse é tomar uma boa cerveja de frente para o mar. Uma bem gelada, de preferência.  Eu vinha evitando beber, desde que tudo aconteceu, mas fui proibida por tanto tempo de decidir se queria ou não me aventurar no álcool, que aquele era mais um momento de liberdade.  Era estranho passar tanto tempo em uma prisão psicológica e depois receber novamente o controle de tudo.

Havia inseguranças em todas as minhas decisões, porque sempre me disseram que eu não sabia como fazer escolhas prudentes. Cada detalhe da minha vida era ditado, e eu aceitava com submissão, porque não compreendia que o poder que aquelas pessoas tinham sobre mim era errado, doentio. Diziam estar cuidando e protegendo, mas era apenas o desejo por um controle desenfreado. 

Eles provavelmente gostariam de controlar meus pensamentos, se pudessem.  Dei uma golada direto da garrafa – o que seria visto como completamente inapropriado no que eu considerava como minha vida passada – e a pousei ao meu lado. Estava com o meu notebook por perto, porque esperava conseguir alguma inspiração para continuar meu livro, mas estava começando a acreditar que não iria trabalhar naquela noite. Era a primeira que eu me concedia algum tempo para apreciar o que tinha à minha frente e o que tinha dentro de mim. 

Se eu pudesse fazer uma metáfora bem pobre, poderia imaginar um sentimento novo entrando dentro do meu peito. Um calouro em meio a outros veteranos. Nenhum deles era receptivo, porque estavam cheios de sombras e ressentimento. Ainda assim, o novato era corajoso e estava tentando se embrenhar, se misturar. Tentava encontrar seu espaço, mas sua luta era ferrenha, porque, para se instalar, precisaria guerrear com muitos outros, e eu sabia que seria um processo lento até a adaptação. 

A liberdade sempre me pareceu uma utopia, e eu imaginava que ainda não poderia me sentir cem por cento livre, até que conseguisse resolver todas as pendências que foram deixadas para trás, mas naquele instante, em minha primeira comunhão com o mar e com a nova versão de mim que eu queria que perdurasse, só queria pensar em um futuro cheio de momentos como aquele.  Fechei os olhos e fiquei ouvindo o som das ondas. Estavam calmas naquela noite, e aquele era o lugar perfeito para iniciar uma meditação, se eu simplesmente conseguisse fazer isso. 

𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐔𝐒𝐄 𝐍𝐄𝐗𝐓 𝐃𝐎𝐎𝐑 Onde histórias criam vida. Descubra agora