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VINNIE HACKER

📌 aldeias das marés

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📌 aldeias das marés

Sempre me disseram que o tipo de profissão que escolhi me tornaria ainda mais solitário do que eu já era

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Sempre me disseram que o tipo de profissão que escolhi me tornaria ainda mais solitário do que eu já era. Escrever era um processo que pode nos tornar muito isolados, porque na maioria das vezes depende de silêncio, muita concentração e um pouco de álcool – para alguns. O silêncio sempre era minha companhia, então nunca foi um problema.

Minha concentração e a criatividade também sempre me pegavam pela mão, e eu não lidava muito com bloqueios. Já o álcool não era exatamente parte da minha rotina, mas eu me permitia algumas vezes. Apesar de tudo isso, a sensação de produzir com outra pessoa era bastante interessante. Os dois com mãos no teclado, sem nos comunicarmos, o vinho, a atmosfera, a presença... Era uma experiência que eu pretendia repetir, se Lívia quisesse. De início a curiosidade foi mais forte, e eu a peguei me olhando por cima do laptop em vários momentos, assim como fiz com ela. Era interessante observar as expressões de outra pessoa durante seu processo criativo.

Seu cenho franzido, um dedo intruso na boca, dentes nos lábios, um coçar de sobrancelha, mãos amarrando o cabelo em um coque. Lívia era inquieta enquanto escrevia. Ela dificilmente parava e se concentrava por longos momentos, mas quando uma onda de inspiração surgia, seus dedos caíam frenéticos sobre o teclado, e eu poderia jurar que páginas e páginas surgiam em vinte minutos. Então ela novamente se perdia em uma desatenção, o que eu suspeitava que tinha a ver com a quantidade de problemas de sua vida, que a faziam se embrenhar no próprio mundo, ao qual mais ninguém possuía acesso. Foi difícil trabalhar em frente a ela, especialmente porque não acendemos as luzes, deixando apenas entrar a iluminação do computador e da praia lá fora, providenciada pelos postes e pela lua, o que a deixou com um aspecto prateado, quase utópico.

Lívia era ridiculamente linda. Mais ridícula ainda era a minha certeza de que dificilmente me acostumaria a tê-la por perto sem querer ficar olhando para ela que nem um bobo. Nas vezes em que erguia os olhos e me pegava observando-a, sorria, tímida, mas não me perguntava nada, apenas deixava acontecer, o que continuava me intrigando, porque me dava a estranha sensação de que correspondia ao meu desejo de algo mais. Quando finalmente consegui me perder um pouco no trabalho, foquei realmente, preparando quase todo o resto do roteiro que eu precisava para começar a parte da ilustração propriamente dita.

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