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📌 aldeias das marés
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As aulas de natação começaram com uma pequena condição: que eu participasse sempre como expectadora. Fiquei feliz por vinnie ter entendido e não ter sentido como se eu estivesse duvidando de sua capacidade de cuidar do meu filho. Eu seria assim com qualquer um.
Aliás, as outras pessoas que eu mais deveria acreditar que protegeriam meu menino eram aquelas em quem eu não tinha a menor confiança – sua família paterna. E também só podiam acontecer aos finais de semana, porque as aulas de Cauê tinham iniciado, e ele estava ainda se adaptando ao novo colégio. Mas fosse como fosse, levar meu notebook para a varanda, sentar-me na minha escadinha e trabalhar vendo os dois homens por quem eu era apaixonada se divertirem juntos me deixava com um humor muito melhor todos os dias. Assim como perceber que... ok, eu estava apaixonada por vinnie.
Já tinham se passado quase seis meses desde que cheguei em Aldeia das Marés, e tanta coisa aconteceu que parecia mais uma eternidade. Era como se o tempo ali, em nosso condomínio isolado do resto do mundo, transcorresse mais devagar, em um ritmo mais gentil. Um dia parecia mais um ano. As relações se estabeleciam, se desenvolviam e criávamos laços. Eu já adorava aquelas pessoas. Meus vizinhos que em pouco tempo se tornaram parte do meu dia a dia e que foram me ajudando, mesmo sem terem noção disso, a trazerem de volta a pessoa que, depois dos últimos anos, começou a se transformar em alguém que eu não queria ser.
Na primeira vez em que peguei uma blusa de cor no armário, para usar com o meu short jeans, vinnie me olhou como se eu brilhasse mais do que cada uma das estrelas do céu. Não era nada de mais, apenas uma camiseta simples, mas tinha um tom que ele soletrou como "cerise", e eu apenas revirei os olhos, porque para mim era simplesmente rosa. Por muito tempo me foi permitido usar apenas o preto, porque Júlio sempre disse preferir uma esposa discreta. Quando ousava desobedecê-lo, pagava por isso, então acabei me acostumando à submissão.
Só que ele não estava mais ali. Eu era livre para escolher o que quisesse vestir, o que quisesse fazer, o que quisesse dizer. Nada de regras, de imposições, de ameaças. Era como se eu tivesse penhorado minha vida e a estivesse conseguindo de volta. Por falar naquelas pessoas, Rosângela continuava me ligando, cada dia mais, enviando mensagens, mas eu nunca a respondia. Estava desesperada, porque provavelmente sabia que Cauê não poderia estar perdendo aulas na escola caríssima que eles pagavam; e eu nem sabia como ainda não tinham enviado a polícia atrás de mim, mas deviam ter alguma noção do que estava acontecendo e não queriam que eu começasse um escândalo – porque era o que me sentia disposta a fazer, caso me enfurecessem.
