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LIVIA BILLY

📌 aldeias das marés

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📌 aldeias das marés

Foi um grito o que me acordou

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Foi um grito o que me acordou. Meu sono não costumava ser pesado, porque eu ficava atenta a qualquer barulho. Chegadas no meio da madrugada, com batidas de porta por todos os lados, não eram incomuns. Eu ser agarrada e beijada por um hálito bêbado também não. Se negasse era pior. Ele dizia que eu precisava me submeter e respeitá-lo, saciá-lo, porque fui a responsável por tudo. Fui a "culpada" por ele ser pai tão cedo, por ter perdido sua solteirice e por ter sido obrigado pelos pais a se casar comigo – a putinha que lhe deu mole, só para lhe dar um golpe.

Vindo de família rica, era o que pensava e como me acusava. Sempre jurei que era verdade, que realmente era culpa minha, porque bebi muito, porque minha roupa era chamativa demais ou porque o beijei, embora nem me lembrasse bem disso. Ou melhor... eu me lembrava do beijo. Lembrava que foi muito, muito bom, mas completamente diferente dos outros que me deu depois, quando eu estava consciente o suficiente. Imaginava que a bebida tinha contribuído para o engano.

E o que eu entendia dessas coisas, também? Foi meu primeiro beijo, minha primeira vez, tudo na mesma noite, e eu não tinha nenhum dos dois guardados na memória. Fosse como fosse, aquela foi a vida que se seguira às minhas escolhas erradas. Mas jurei que o período conturbado tinha finalmente passado, que eu poderia respirar em paz, mas aparentemente os pesadelos não teriam fim tão facilmente. Depois do acidente, Cauê acordava constantemente aos gritos. Era a prova de que as cordas vocais dele ainda funcionavam perfeitamente – isso e todos os exames que fizemos ao longo do tempo –, que ele só não conseguia mais falar porque algo o impedia. Algum monstro que vivia em sua cabecinha e que possivelmente tinha o rosto de seu próprio pai.

Levantei-me, afastando as cobertas desesperadamente com os pés, e lançando-os no chão; os mesmos que me fizeram correr para o quarto ao lado, onde meu garotinho dormia. Não era tarde ainda. Cauê ia para a cama às nove, mais ou menos, e eu fiquei escrevendo por mais uma hora e meia, mas estava cansada, sem muita inspiração e decidi deitar. A TV ainda estava ligada naquele momento, porque acabei adormecendo sem desligá-la. Nem me preocupei com isso. Meu filho era prioridade.

𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐔𝐒𝐄 𝐍𝐄𝐗𝐓 𝐃𝐎𝐎𝐑 Onde histórias criam vida. Descubra agora