VINNIE HACKER
📌 aldeias das marés
Eu era um cara de rotinas, e sinceramente não via problema algum nelas. Tinha estabelecido minha vida da forma como eu realmente queria que ela fosse: em uma cidade pequena, morando de frente para o mar em uma casa confortável, com um cachorro que era meu maior parceiro e trabalhando no que eu amava. Ir ao centro da cidade todas as sextas-feiras era sagrado.
Eu sabia dirigir, mas não tinha carro. Por isso pegava minha bicicleta e pedalava pelas ruas de Aldeia das Marés para fazer minhas compras na feirinha local, que era onde eu conseguia algumas coisas frescas para cozinhar – outro hobby do qual eu não abria mão. Apesar de ter uma pequena horta em casa, que me fornecia temperos e algumas verduras que eu sempre precisava, gostava de valorizar o comércio local e prestigiar algumas pessoas. Isso, é claro, além de socializar um pouco.
Todos eram extremamente respeitosos comigo, e por mais que a maioria tivesse muita dificuldade de se comunicar, dávamos um jeito, e eu ficava feliz em ver as pessoas se esforçando para falarem comigo, da forma como conseguiam, sorrindo e me recebendo como se eu fosse parte da comunidade, embora eu não fosse exatamente um frequentador assíduo dos estabelecimentos dali. Voltei para casa com mais sacolas do que gostaria, porque comprei queijo e manteiga, ovos, cogumelos e alguns legumes e frutas, todos frescos, já tendo algumas coisas em mente para fazer.
Eu era vegetariano, não comia nenhum tipo de carne, e ainda tinha planos de evoluir um passo e também não consumir nada de origem animal, mas cada coisa de uma vez. Cheguei e arrumei tudo na geladeira, peguei algumas coisas na minha horta e comecei a fazer o almoço, decidido a ir comer na varanda. Optei por um suflê de cogumelo, que ficou delicioso, e preparei um suco de couve com laranja e gengibre, que era um dos meus favoritos. Pus minha mesa na varanda dos fundos da casa, de frente para o mar, e a tigela de Van Gogh próxima a mim, para que ele pudesse almoçar também, e comecei a comer bem devagar, apreciando cada textura, sabor e reconhecendo cada tempero que eu usava com cuidado.
Levei meu tempo, mas assim que dei minha última garfada, vi o menino da casa ao lado, o filho de Lívia, saindo, caminhando cabisbaixo até o mar e colocando só o pezinho na água. Terminei de mastigar com calma, mas sem conseguir tirar os olhos do garoto. Eu me via um pouco nele, naquela estranha época em que eu ainda tinha um pouco de vergonha de quem era, receoso de me comunicar com as pessoas daquele jeito que era uma língua completamente diferente e com a qual tão poucos – ou quase nenhum – conseguiam me responder.
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𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐔𝐒𝐄 𝐍𝐄𝐗𝐓 𝐃𝐎𝐎𝐑
Fanfiction𝐯𝐢𝐧𝐧𝐢𝐞 𝐡𝐚𝐜𝐤𝐞𝐫 é um homem com deficiência auditiva. 𝐋𝐢𝐯𝐢𝐚 é uma mulher amarga, insegura e com um segredo obscuro.