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📌 aldeias das marés
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Eu estava cercada por duas pessoas cujas vozes estavam aprisionadas, cada uma à sua maneira. Meu filho, com quem eu convivia há algum tempo, e de quem já conhecia até os silêncios, e do homem por quem eu não deveria estar tão atraída, mas que mexia comigo da maneira mais imprudente possível.
Não era apenas algo físico, embora também houvesse uma resposta bastante inusitada do meu corpo à forma como me olhava e até a seus toques, por mais inocentes que fossem. Vinnie era um homem muito bonito e havia um charme discreto que ele provavelmente não reconhecia em si mesmo, mas que estava lá. Seu jeito contido, quase tímido, seus movimentos, sua calma, a maneira como parecia enxergar as coisas... tudo isso me intrigava.
Só que havia mais algumas coisas que começaram a me puxar para ele, como se fosse um imã, e eu, um objeto de metal aleatório. O que mais me chamava a atenção em vinnie era o fato de ele ser tão diferente do meu marido. Isso poderia ser quase uma coisa doentia de se pensar, porque eu, definitivamente, queria deixar aquele monstro para trás, mas conhecer alguém que parecia tão livre, tão leve e tão sereno, era como respirar e sentir seus pulmões livres. Como fechar os olhos e quase poder cheirar o aroma da esperança de que aquela pessoa evitaria ao máximo te machucar, em todos os sentidos.
Onde um era violência, o outro era paz. Onde um era tempestade, o outro era calmaria. Onde um era medo, o outro era segurança. Tudo isso era muito assustador, porque eu poderia estar completamente enganada. Poderia estar olhando apenas para a superfície, mas depois de passar por tudo o que passei, me sentia um pouco mais apta a julgar o que via e ouvia, porque depois que meu filho perdeu a fala, e precisei me adaptar à sua nova condição, comecei a compreender que os pequenos detalhes eram muito importantes.
E vinnie era uma coleção de detalhes que o tornavam muito único. As ondas serviam como trilha sonora da pequena caminhada que nos dispomos a fazer, desde a casa 106, que era a que fora comprada por Olavo e Mauro, até a minha. Havia uma distância de no máximo quinhentos metros a separá-las, ou talvez um pouco mais – exatas nunca foi o meu forte –, e Cauê seguia na frente, visivelmente ansioso para chegar, enquanto eu e vinnie caminhávamos lentamente. Eu segurando as sandálias, e ele com as mãos nos bolsos do jeans. Os cabelos, que antes do jantar estiveram soltos, foram presos naquele coque que já lhe era peculiar, e nenhum de nós olhava diretamente um para o outro.
