VINNIE HACKER
📌 aldeias das marés
Deixei a louça na pia, determinado a lavá-la no dia seguinte, e corri para um banho. Em breve Lívia e Cauê chegariam para passar a noite, e só de pensar nisso eu já me pegava sorrindo sozinho. Era curioso que não quisesse apenas ela perto de mim, mas os dois. Aquele menino tinha se tornado um pedaço de mim, e eu seria capaz de fazer absolutamente tudo por ele.
Como Lívia tinha a chave, nem me preocupei em me apressar no banho. Ela já se sentia à vontade o suficiente para entrar, espalhar suas coisas da forma como quisesse, abrir a geladeira e até alimentava o meu cachorro, quando necessário. A proposta para que morássemos juntos era real e algo que andava me deixando muito ansioso. Não queria pressioná-la, de forma alguma, mas era difícil me conter quando eu os tinha tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Não sabíamos quanto tempo demoraria para que o divórcio fosse assinado, se é que seria algum dia.
Por mim, iríamos ao Rio, os dois, e eu faria aquele desgraçado libertá-la de uma vez por todas. Tínhamos um bom advogado do nosso lado, as testemunhas já tinham sido acionadas e estavam dispostas a darem seu depoimento, ou seja, as coisas estavam ao nosso favor. O que me restava era só ter paciência. Respirando fundo, tentando me contentar com a enorme sorte que eu já tinha, saí do box e me vesti no banheiro mesmo, deixando os cabelos molhados e percebendo que meu celular estava piscando e vibrando sobre a cama. A campainha.
A partir do sensor da porta, o celular piscava três vezes, com alguns segundos de espaço, a cada vez que a pessoa colocava o dedo no botão. Fosse quem fosse que estava tocando, parecia completamente desesperado. Isso me deu uma sensação ruim no peito. Algo havia acontecido.
Saí correndo como louco, com Van Gogh em meu encalço, descendo as escadas e chegando à porta. A chuva caía pesada lá fora, e o menino estava encharcado. Seu cabelinho claro se grudara à testa, e seus olhinhos ficaram vermelhos, de choro.
— "Papai, nos ajude..." — Papai. Aquilo ainda mexia comigo de uma forma que eu não conseguia explicar. Sempre que ele fazia o sinal para se referir a mim, a emoção era quase grande demais para suportar. Naquele momento, no entanto, eu sabia que ele tinha presenciado algo de muito ruim.
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𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐔𝐒𝐄 𝐍𝐄𝐗𝐓 𝐃𝐎𝐎𝐑
Fanfiction𝐯𝐢𝐧𝐧𝐢𝐞 𝐡𝐚𝐜𝐤𝐞𝐫 é um homem com deficiência auditiva. 𝐋𝐢𝐯𝐢𝐚 é uma mulher amarga, insegura e com um segredo obscuro.