CAPÍTULO 19

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HENRY

Chegando ao apartamento, não foi difícil ver a cara de desgosto do porteiro ao me ver de novo por ali. Eu não causaria confusão, principalmente agora que Ashley estava tão quieta. Fiquei feliz ao vê-la fazer um carinho na orelha de Jack, que se agarrou em suas pernas antes mesmo de se lembrar da minha existência. A garota foi direto para o banheiro, e eu a segui até seu quarto e me sentei na cama.

Queria mandar uma mensagem para o Lucca. Perguntar o que fazer em uma situação assim. Ele era o melhor amigo dela, afinal. Saberia como lidar com tudo. Já estava com a mão no bolso quando escutei o som da água da banheira, e percebi que naquele momento, talvez ela só precisasse de companhia.

Larguei o celular e a carteira na cama. A mochila estava dentro do carro, no banco de trás. Passaria lá mais tarde para pegar. Adentrei no banheiro, visualizando as peças de roupa no chão e Ashley com os cabelos presos em um coque mal feito e de olhos fechados dentro da banheira.

Não era o momento para especular coisas, mas era quase impossível não haver perguntas na minha mente barulhenta. Perguntas que não eram da minha conta e que eu nunca as faria. Deixei meu corpo se achegar perto da banheira, então me sentei no chão, ainda com os olhos fixos em seu rosto, atento a cada detalhe.

- Não é o que está pensando - disse ela, abrindo os olhos. - Não sinto nada romântico por ele.

- Eu não disse nada, Ash - deixei um sorriso pequeno surgir. - E você não me deve explicações de como se sente só porque estou aqui, só pretendo fazer companhia.

A garota assentiu, encarando a água que agora cercava seu corpo. Havia espuma na água e um cheiro tremendamente gostoso.

- Sabe quando você vai dormir à noite e lembra de uma situação vergonhosa que fez quando criança? - concordo, apoiando o braço na beirada na banheira. - Então, você deseja muito não ter feito aquilo, e às vezes sente até raiva por não ter feito diferente.

- Sei. - sussurro. - E como sei.

- É exatamente como me sinto com Ângelo. Tínhamos 18 anos. Eu queria que vivêssemos aquele romance, o que eu achava ser um grande amor correspondido. E talvez fosse mesmo correspondido, mas não nos levaria a lugar algum. Quando lembro que me esforcei por ele, que disse que o amava e me entreguei para ele... Eu dei tudo de mim para alguém que não deu nem a metade do que eu merecia. E não digo por ir embora, mas... tudo o que vivemos. Eu sinto... vergonha. Vergonha de ter dado tanto e ter ficado sozinha.

Seus olhos se fecham conforme um suspiro frustrado escapa dos seus lábios com força. Inclino meu corpo para o lado, tomando a iniciativa de retirar os sapatos, meia, peça por peça até que eu também estivesse nu. Ashley entendeu minha intenção, pois levou o corpo para frente, abrindo espaço para que eu me sentasse atrás do seu corpo.

Puxei seu corpo contra o meu logo depois, sentindo suas costas nuas tocando o meu peito. Beijei seu ombro e acariciei seu braço direito com lentidão. Depois subi as mãos para seus ombros, massageando ali devagar e com precisão.

- Existem muitos motivos e situações para se sentir vergonha - digo em tom baixo, focado em massagear seus ombros tensos -, mas nenhum deles se enquadra no fato de você ter se apaixonado por alguém que não correspondeu da forma como você esperava. As pessoas são... diferentes, Ash. Todas tem seus problemas e peculiaridades, elas podem ser incríveis ou tremendamente idiotas, mas nada muda o fato de que são diferentes.

- O que você quer dizer?

- Quero dizer que, como uma garota de 18 anos, você esperou muita coisa. Era jovem, e pelo que vi em seus pais, eles são um ótimo modelo sobre o tipo de casamento que as pessoas querem ter hoje em dia. O tipo de casamento que você quer ter. Acontece que, muitas pessoas não nasceram com um modelo perfeito. Muitas nem sabem o que procuram. Elas se apegam aos valores que aprenderam ao longo da vida, se apegam nas pessoas que chamam de família e fazem de tudo por ela para não sentirem o mesmo sentimento desesperador de antes. Talvez Ângelo não tenha tido os mesmo valores que você, talvez não tenha tido um pai amoroso com a mãe, uma irmã carinhosa ou familiares que o apoiassem de verdade.

Uma dança para o amor [CONCLUIDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora