CAPÍTULO 28

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ASHLEY

— Por favor! Por favor!

Meu rosto está contra o chão, consigo sentir a pequena poça de lágrimas que se forma pelo meu desespero. Henry está um pouco à frente de mim de joelhos, a feição tão devastadora quanto a minha. Seu rosto está machucado, há um rastro de sangue descendo por seu braço, mas isso não parece lhe importar. Não enquanto diz sem parar:

— Me perdoa...

— Amor?

Ergo os olhos, um pouco incomodada com a luz repentina do banheiro. Não sabia exatamente como tinha vindo parar aqui, mas noto que estou abraçando meus joelhos, sinto meu rosto molhado e mesmo que eu tente disfarçar, não há como fugir agora que Henry está diante de mim, se ajoelhando, exalando preocupação em seus olhos.

— Ei, linda. O que aconteceu?

Sinto medo. Horror.

A última vez que tive um sonho perturbador, foi antes de Emma e eu sermos levadas para longe. Meu terror era Eloisa, mas agora, meu namorado é quem atormenta os meus sonhos. Seria idiotice acreditar que sonhos tem poder de prever o futuro, e até posso chegar a acreditar nisso um dia, se eu quiser tentar. Mas agora, sentada no chão frio do banheiro, olhando para os olhos preocupados de Henry, tenho medo de que na verdade eles sejam algum tipo de aviso.

— Ashley, você está me preocupando. Quer que eu ligue para seu pai?

— Não...

É a única coisa que consigo dizer. Não consigo parar de pensar no sonho, no medo que estava sentindo e que tomava toda parte do meu corpo me deixando sem forças. Henry leva as mãos ao meu rosto, quero muito me afastar do seu toque, mas sei que ele é o único abrigo de verdade que tenho agora. Eu deveria me lembrar que Henry nunca me machucaria, que esse alerta vermelho nada mais é que uma artimanha do meu cérebro, como sempre.

— Ash, por favor.

Foco em seus olhos outra vez. Me sinto como se estivesse caindo em queda livre, que meu coração e alma foram arrancados por tempo indeterminado. O sonho... como um sonho pode causar tanto estrago?

Inclino meu corpo para o seu, buscando algum tipo de proteção. Seja lá o que mais esses sonhos provocaram, sei que não vou conseguir dormir.

— Eu tô com você, linda...— Seus braços me rodeiam com força. Meu abrigo seguro. — Tô com você.

O bolo se forma em minha garganta outra vez. Um dia ouvi dizer que as pessoas choram na frente que elas se sentem seguras, acho que elas tem razão porque logo depois de soltar um último suspiro, as lágrimas foram mais rápidas do que meu autocontrole.

Apesar de ter uma família acolhedora, havia ganhado da minha mãe o gênio de resolver tudo sozinha. Mas agora... bem aqui com ele, com o homem que eu garantiria passar o resto da minha vida ao seu lado, me permito chorar. Ser abrigada.

Ser o que nós somos: parceiros.

[...]

Ouço a maçaneta do quarto se mexer, então me sento na cama. Demoro para focar na figura que acaba de passar pela porta, mas ao ouvir um murmuro baixo de "bom dia", sei que se trata de Henry.

— Você não está bem desde ontem a noite. O que foi que aconteceu?

Me ajeito devagar sobre o colchão macio. Não posso dizer que sonhos estão me aterrorizando a alguns dias, por mais compreensivo que ele seja.

— Não me senti bem, só isso.

— Só isso? — franziu a testa. — Olha, você precisa começar a dizer quando não está legal, ok? Sei que a apresentação é importante para você, mas se matar de dançar não vai ajudar em nada, sabia?

Uma dança para o amor [CONCLUIDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora