ASHLEY
Um tempo depois...
Uma vez li que a cura vem com o tempo, mas não sei exatamente quanto tempo terá que passar para que isso se vá. O ar condicionado está em pelo menos no 20, e mesmo que não seja muito, ainda deixa a sala gelada. Pela segunda vez na semana, olho para minha psicóloga Lauren, a qual ainda tem lidado comigo e meus problemas sobre aquele dia.
Nunca deixei de reparar no receio de todos ao ficarem perto de mim, não por me acharem nojenta, mas por medo de fazerem algo errado. Eu nunca deixei de reparar em Henry, em como ele vela meu sono, que sempre pede permissão para entrar no quarto antes mesmo de abrir a porta e como tenta me levar para alguns passeios ou jogar boliche.
— Por que não me fala como vão os últimos detalhes do grande dia?
Se passou tanto tempo, que mal me lembrava que daqui a dois dias é o dia da apresentação. Eu não tenho prestado tanta atenção nisso desde que abandonei o hospital e fui morar com meus pais e irmãos. Acho que me desliguei do tempo.
— Madame Prince está irritada, nessas palavras quer dizer que ela está nervosa que dê tudo errado. Ela... veio perguntar se eu estava bem o suficiente para dançar, se eu não precisava de um pouco mais de tempo, mas eu disse que não.
— Acha que está pronta?
— Eu não sei — balanço os ombros. — Mas acho que não posso esperar até lá, não é? Eu esperei por isso a minha vida toda.
Olho para o relógio na pequena estante a minha frente, ainda falta vinte minutos para essa tortura acabar. Junto as mãos, apertando os dedos todos juntos e depois um por um. É desconfortável estar aqui, falar sobre qualquer coisa quando sei o que ela quer que eu diga.
— No que está pensando, Ashley?
Meu nome é o suficiente para que eu a encare nos olhos. Odeio sua voz calma, odeio que todos estejam me tratando como a merda de uma porcelana. Sei que estou quebrada em mil pedaços, que minha alma já não é mais a mesma de antes e que fica difícil passar por todas as malditas portas quando me vem à mente que ele pode estar do outro lado, sorrindo para mim.
— Estou pensando em como odeio tudo isso.
— Isso o que?
— Como odeio esse seu cuidado excessivo com as palavras, como se eu fosse explodir como uma bomba relógio. Em como eu odeio ver meus pais me olhando a cada segundo com medo de que eu cometa alguma loucura, ou que algo me destrave outro gatilho ao ponto de terem que me ver encolhida no chão gritando de medo. Eu tô cansada de todo mundo me olhando como se eu fosse frágil demais. Tô com raiva porque não consigo lidar com essa merda, com raiva por que meu namorado tenta de tudo para me fazer esquecer e eu não consigo... eu não consigo superar. Não sei se vou superar.
— Não pode culpá-los por se preocuparem com você, Ashley. Talvez eles estejam assustados como você, sem saber como fazer, como te abordar sabendo que podem te machucar de algum jeito. Se você quer que eles parem, precisa falar. Ter raiva é o sentimento mais comum depois da culpa.
— Não me sinto culpada.
— Tem certeza? — franze a testa por cima dos óculos. — Pode me afirmar que nunca passou pela sua cabeça que se tivesse feito algo diferente naquele dia, isso não deveria ter acontecido?
— Não, não posso.
— Foi o que eu pensei. A culpa e a raiva podem ser uma mistura perigosa, Ashley. Se não souber como controlar, não vai machucar só a si mesma. Talvez esteja na hora de se abrir de verdade, de parar de negar que aquele dia foi horrível e que isso não a matou por dentro. Talvez você precise de um tempo sozinha para lidar consigo mesma, e depois com os outros.
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Uma dança para o amor [CONCLUIDA]
Romance🏆FINALISTA DO THE WATTYS 2023 +18 | Livro 1 da Duologia spin-off do livro "Feita para mim" Com a chegada da apresentação de O lago dos Cisnes, Ashley está a procura de um parceiro. Após flagrar o assistente de sua professora dançando, Ashley vê a o...