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N A R R A D O R

Coração apertado. Boca seca. Olhos embaçados. As mãos trêmulas de Liz seguraram a mão livre de Benjamin, a deixando próxima de seu peito, onde a mulher deixou um beijo. A mulher se sentou e encarou as coisas ao seu redor.

Eles não tinham muitos recursos e os únicos remédios que ajudariam Benjamin naquela situação estavam ao lado da cama, uma cartela, apenas uma e ela ainda não estava cheia. Os recursos estavam ainda mais escassos e tudo que aquela mulher de cabelos curtos queria era mais remédios, mais recursos, mais chances de salvar quem ela se importar.

- Por favor Ben, não me deixa sozinha nesse mundo de merda! - Liz pede secando as lágrimas e acariciando a mão do homem - Preciso de você aqui, preciso que me ajude todas às vezes que acontecer alguma crise, preciso de você como preciso de ar pra respirar.

Liz continuou sentada na poltrona por algumas horas, encarando o corpo de Benjamin deitado na cama, fazendo uma coisa que ela não fazia a muito tempo e nem sabia se funcionaria, rezar. Ela estava com os olhos fechados pedindo pro todo poderoso ajudar aquele homem deitado na cama e não a deixar sofrer mais uma perda.

- A médica está voltando, você precisa ir. - Enid diz aparecendo na porta do quarto e encarando a mulher encolhida sobre a cadeira.

Um casto beijo foi deixado sobre a testa de Benjamim e a mulher deixou o quarto.

- Você pode sair pela porta dos fundos, não tem ninguém lá atrás,  só feche o portão para evitar qualquer problema para mim. 

Os passos silenciosos de Liz não denunciaram sua presença, nem mesmo quando passou atrás da médica na ala principal da enfermaria e saiu pela porta no final do corredor. As mãos da mulher se apoiaram na cerca branca desbotada e quase sem cor e um gemido abafado de dor deixou seus lábios. Lágrimas. Sua respiração voltou a fica descompassada, assim como a batida de seu coração que era dominado pela dor e pelo medo. 

Vozes lhe fizeram levantar e seguir em frente, fingindo que ela não estava sentindo e nem chorando segundos atrás. 

- Liz - era sua tia - Oi querida! 

Liz recuou a tentativa de toque de sua tia e respirou fundo antes de sequer começar a chorar. 

- Por favor, não. Não posso chorar aqui, não posso sentir o que eu quero na frente deles, é...é vergonhoso. 

- Meu amor, - o toque em seu rosto lhe fez fechar os olhos e respirar mais uma vez - chorar não significa que é fraca, se lembre disso, chorar significa que você foi forte demais e que já aguentou muito. Chorar acalma. 

- Chorar é pra quem não suporta a dor, e eu, eu sei suportar. - ela diz saindo de perto da tia e seguindo para perto das lavouras. 

A tia de Liz respirou algumas vezes e continuou observando a sobrinha ir para longe. Ela tinha muita coisa pra conseguir mudar dentro de si e ainda era só uma criança que tinha traumas demais dentro de si. 

O som de gemidos assustou e deixou o receio no ar, mesmo as pessoas vendo que era apenas um grupo pequeno, o medo estava dentro deles. Os olhares estavam presos nos olhos brancos e leitosos em busca de vida em meio a eles. 

Nada. 

Não haviam pessoas em meio aos mortos, apenas corpos podres e vazios em busca de comida e atraídos pelo barulho. 

- Carl! - a voz de Liz o fez parar seu trabalho nos muros e a encarar com o olhar que a prendia. - Podemos... podemos conversar?

Carl largou as coisas sobre a madeira e a desceu as escadas, parando em frente a mulher e deixando um sorriso escapar por seus lábios.

- O que está acontecendo?

- Sabe qual o nome da pessoa que trouxeram? Sabe me falar a idade, qual a cor dos cabelos, qual... merda Carl, eu posso descer lá? - Liz questiona vendo as pessoas passarem ao seu lado e os encararem, como se questionassem se aqueles dois estavam tendo alguma coisa.

- Ela foi levada pra fora dos muros horas atrás. - ele conta começando a andar na direção contrária - Paul a levou para tentarem respostas.

- Merda!

Liz apressou seus passos e parou em frente a Carl, o fazendo quase se chocar contra seu corpo.

- Eles vão trazer ela de novo? Vão a prender de novo?

O homem encarou o rosto cheio de dor em sua frente e suspirou, antes de começar a andar para longe, ele não queria saber da pessoa que tinham trago, tinham coisas maiores para se pensar.

- Liz, me desculpa, mas não ligo pra quem eles vão trazer ou deixar de trazer, o que me importa é como as coisas vai ficar, como elas vão estar daqui pra frente, só isso.

Rick não havia lhe dado uma simples resposta, não havia dado sinal de que alguma coisa boa estava saindo daquilo tudo. Agora, haviam mortos em frente aos portões, mortos que não paravam de aparecer.



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The Enemy | ᶜᵃʳˡ ᵍʳⁱᵐᵉˢ|Onde histórias criam vida. Descubra agora