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C A R L

Com meu corte limpo. Meu banho tomado, minha barriga estava cheia e apenas por lembrar da cara do Mike toda regassada, me deixava com um sorriso enorme no rosto. Mike precisava de mais, de muito mais.

A porta do quarto de Liz estava aberta e tinha uma música baixa vindo lá de dentro. A curiosidade tomou meu corpo e eu segurei a maçaneta,  abrindo a porta e encontrando duas garrafas médias de bebidas no chão, o kit de primeiros socorros jogado em um canto e Liz se balançando enquanto bebia próxima ao banheiro.

- Liz?

Seus olhos me encararam e sorriu largo. Eu tinha a visão perfeita de seu tronco semi nú, de sua cintura fina e machucada,  sem nenhum tipo de curativo...era penas a pele nua, quente e machucada.

- Quer?

Nego com a cabeça mas pego a garrafa de suas mãos, me afastando com a mesma. Ela gemeu frustrada e se aproximou, tirando o chapéu de minha cabeça e colocando começando a rodar em meio ao quarto.

- Você precisa parar. - peço tentando a segurar - Liz, pare!

- Você está cheirando bem, vai sair e transar com alguém? - ela questiona pegando uma outra garrafa de dentro do armário e a abrindo. - Deve ser bom ser assim. 

- Você também é assim, não venha me dizer que não ficou com vários. 

Ela engoliu o gole da bebida e deu dois passos desengonçados até mim. 

- Não é disso que eu estou falando. Você é seguro de si, eu não, eu tenho medo, medo das coisas se repetirem de novo e eu ter que lutar contra mim mesma...mais uma vez. 

- Que tipo de coisas? - consigo a segurar pelo braço e tiro a  bebida de suas mãos mais uma  vez. 

Ela me olhou de forma firme e mordeu os lábios. 

- Sabe, você é curioso. - ela ri alto - Mas foda -se, eu gosto disso. - ela se virou de costas e se sentou na cama - Ela dava meu corpo em troco de comida. Esperava todos saírem e me entregava nas mãos daquele desgraçado. 

Engulo seco. Minha boca se abriu e fechou várias vezes antes de eu criar coragem de desligar o rádio, fechar a porta e seguir até a cama. 

- Sua mãe te entregava para um homem e ele...- não consigo terminar. O gosto amargo invadiu minha boca e o nó se formou em meu estômago. - Liz, eu não sei o que dizer.

Ela olhou para mim e segurou meu rosto. Seus olhos tremulos focaram no meu por segundos antes dela abaixa -los . 

- Ela era uma vadia, mas eu deixava acontecer, por medo, por medo dela fazer aquilo com a minha irmã também. 

Liz se levantou cambaleante e pegou a garrafa mais uma vez. Desta vez, eu não a impedi ao contrário, deixei que ela tomasse e tentasse se relaxar. 

Não dava para imaginar todas as coisas que ela tinha passado, não dava pra ter nem a mínima noção da enorme e extensa - considerando que eu sabia - lista de torturas que ela havia passado, tanto físicas quanto psicológicas. Aquela marra escondia coisas que ninguém poderia imaginar.

- Sabe, - ela beberica a bebida - quando aconteceu pela o que? Décima vez. Eu estava sozinha, minha mente de pré - adolescente  me fez ficar parada no mesmo lugar por horas e eu decidi que queria morrer, afinal, estava sozinha no meio do nada, não tinha mais em que confiar ou acreditar. 

- Mas você não morreu, ao contrário, se tornou essa pessoa forte e sem medo. 

Ela riu e caminhou até minha frente. 

- Demorou pra descobrir que eu não tinha culpa, que minha mente havia sofrido por anos e que estar viva no meio dos mortos era meu escape. America, foi uma velha que me ajudou, ela foi a mãe que eu nunca tive em duas semanas antes de morrer pelo câncer. 

Com minhas mãos tremulas seguraram as dela e a angustia ficou ainda mais transparente em ambos os rostos. 

- Só confiei em um homem de verdade desde quando conheci Paul,  Benjamin o nome dele. Foi com ele que me deitei pela primeira vez e me senti segura. Ele disse que eu podia ser quem eu quisesse e que eu poderia esquecer ou sofrer com o que eu passei, eu não esqueci, mas aprendi que sou forte pra seguir em frente. 

Não existiam lágrimas em seu rosto, talvez ela já tivesse sofrido tanto com aquilo que não chorava mais. 

- Sinto que ainda estou quebrada - ela ri de si mesma antes de arremessar a garrafa na lixeira, fazendo ela quebrar o fundo ao bater contra o chão. - Mas eles morreram, não é? A vadia da minha mãe, os homens que me tocaram...

- Sim - era o que eu esperava. - Você precisa dormir, já são quase oito da noite e... melhor eu  ir. 

Estava de pé próximo a porta quando minha mão foi segurada e os olhos arregalados de Liz me encararam mais uma vez. 

- Dorme aqui. Dorme comigo essa noite! - sua voz embolada saiu por seus lábios com um último pedido enquanto seus dedos tocavam meu braço.

Merda

Meu olhar parecia ter denunciado minha opção escolhida, já que ela soltou meu braço e abaixou a cabeça.

- Entendi, você prefere ir. Tudo bem! Pode ir. - ela exclama se virando de costas e cambaleando antes de cair sobre a cama. 

O que eu faria? 



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The Enemy | ᶜᵃʳˡ ᵍʳⁱᵐᵉˢ|Onde histórias criam vida. Descubra agora