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N A R R A D O R

O primeiro vislumbre de imagem veio turvo, como se o corpo estivesse aprendendo a ver mais uma vez. A primeira respiração também veio mais forte, como se o corpo também aprendesse a respirar mais uma vez.

- Carl! - a voz de Rick e o som de uma cadeira sendo arrastada, foi instantânea a reação de seus movimentos - Ei! Está tudo bem!

- Onde a gente está? - sua voz saiu rouca e seu olhar encontrou o de seus pai.

- No Santuário! Negan encontrou vocês. Acho que nunca pensei que estaria dentro desde lugar por causa de uma coisa assim. - ele ri - Você vai ficar bem, o médico disse que sua cabeça vai doer por alguns dias, mas não é nada com o que se preocupar e...

- Liz?!

Rick engoliu seco e encarou o médico. Não era como se Liz tivesse perdido a vida, mas ela estava com grande parte dos braços e barriga queimados, aos cuidados do medico do Santuário e de Benjamin que havia vindo para cuidar dela.

- Ela vai ficar bem, filho!

Carl deitou sua cabeça sobre o travesseiro mais uma vez e soltou um respiração funda, se erguendo segundos depois e tendo a noção do lugar em que estava por completo. Havia uma cortina entreaberta ao seu redor, uma cadeira onde seu pai estava sentado e vozes ao longe, que pareciam estar vindo do outro lado da sala. Era uma voz conhecida.

- Benjamin! - ele exclama chamando o homem e saindo de cima da cama, com os passos tortos e vendo pela primeira vez a roupa que usava. Uma bermuda azul larga. - Benjamin!

As cortinas foram abertas o grande corredor de panos brancos apareceu em sua frente. Benjamin estava no final do mesmo, com as mãos cheias de gases e um vidro transparente.

- Me leve até Liz!

- Carl, você precisa se vestir e ver se pode sair daqui. Não é só dizer para te levar até ela.

Carl olhou para o médico e o viu engolir seco.

- Te quero aqui daqui 15 minutos. Se sentir tontura, pare, respire e venha até mim.

- Liz está no quarto. - Benjamin conta - No terceiro andar.

Carl concordou e seguiu ao lado do homem de cabelos loiros, vendo os corredores do Santuário aparecerem em sua frente pela primeira vez. A luz do sol tocou sua pele e causou uma leve ardência, foi quando ele percebeu que estava com uma parte bem pequena do braço queimada.

Seu olhar se ergueu e ele engoliu seco, pensando que Liz havia lhe salvado e que ambos poderiam estar mortos naquele momento.

- Como ela está lidando com isso?

Benjamin respirou fundo e parou, ficando frente a frente com Carl. Seu lábio recebeu uma mordida e ele encarou as coisas ao redor.

- Você sabe como ela é, que ela não demonstra o que está sentindo...mas tem dor no olhar dela, tem aquela sensação de estar se sentindo incapaz. Ela te salvou de dentro do carro em chamas e ainda teve que lutar com sussuradores, não foi fácil pensar que tinha alguém importante pra ela quase morrendo e ela sem poder fazer nada. Não seria pra mim pelo menos.

- Eu sou importante pra ela? - aquela havia sido uma das únicas partes que haviam se fixado na cabeça de Carl e ele tinha um leve sorriso em seu rosto. - Isso que eu entendi?

- Claro que é. Você é idiota ou algo do gênero? Está muito na cara o que ela acha de você, e eu não estou falando das palavras.

As ações, pequenas ou grandes, elas sempre estiveram ali, mas Carl não era muito de percebe-las, o que irritava a todos ao seu redor, até mesmo a Benjamin.

A porta do quarto onde Liz estava se abriu e o som do chuveiro veio logo em seguida. Benjamin pediu pata Carl esperar e foi até o banheiro, onde encontrou Liz com o corpo dentro da água gelada e olhos cheios de lágrimas.

- Estavam queimando. - ela diz.

- Eu trouxe a pomada e as gases. - Benjamin a ajuda se erguer com cuidado, prendendo seus cabelos para trás com uma piranha que estava sobre a pia do banheiro. - Carl está aqui. Ele quer te ver.

O olhar de Liz mudou. Um brilho vindo do fundo de seus olhos encheram seu rosto e ela sorriu largo.

- Estou apresentável? Sem estar com cara de morta?

Benjamin gargalhou.

- Está perfeita pra mim. Agora vá lá fora que ele está te esperando.

Liz deixou o banheiro em passos lentos, existia receio e felicidade em seu corpo. Carl então apareceu em frente aos seus olhos, sem seu chapéu e apenas com a bermuda simples.

Ambos sorriram.

- Oi!

- Oi!

O clima ficou com uma leve tensão e ambos olharam para os lados.

- Você está... - a voz falhou e Carl sorriu de lado - Você está melhor?

- Estou bem. Eu quem deveria perguntar se você está bem, você me salvou e se machucou por minha causa.

- Vou ficar bem. Tenho uma coisa pra você.

Liz caminhou até seu armário e abriu a porta que tinha um espelho, de dentro ela retirou uma caixa grande. Seus braços se esticaram em direção ao homem e ela sorriu mais uma vez.

- É pra você.

Carl abriu a caixa e sorriu ainda mais largo, seu chapéu. Ele estava destruído, com uma grande parte da aba queimada, mas ainda existia.

- Não consegui salvar ele inteiro, estava quente lá dentro.

Carl segurou a caixa com apenas uma mão e se aproximou de Liz, tocando a parte de seu rosto que não estava ferida, colocando o cabelo da mesma atrás da orelha, seus lábios foram molhados e ele beijou a testa da mesma.

Ele não queria um beijo na testa. Não queria que fosse apenas aquilo, mas sim um toque de seus lábios com os lábios da mulher, porém, ele não podia.

- Merda... Tenho que voltar para a enfermaria, o médico disse pra não demorar. - ele se afasta - Eu queria apenas te ver e poder saber que está bem...ficando bem. Até Liz!

Liz engoliu seco e acenou, vendo o homem sair de dentro do quarto com a caixa em mãos e o calor do toque ainda existir onde ele tocou.

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Homens e mulheres estavam entrando e saindo do Santuário, muitos estavam fabricando lanças para usarem contra os sussurradores, outros, estavam apenas levando e trazendo pessoas para outras comunidades.

Liz estava do lado de fora de seu quarto, ajudando quem precisava  de ajuda. Como seus braços estavam com queimaduras, ela carregava apenas sacolas que não tinham muitos peso e evitava passar no meio dos grupos de pessoas.

- Carl! - a voz de Athena veio alta e clara. Liz encarou o seu redor e encontrou a mulher correndo em direção ao homem com os braços abertos.

Eles se beijaram.

Liz engoliu seco e as sacolas caíram. Ela não precisava se sentir afetada com aquilo, precisava?

Seus dedos secaram uma lágrima que havia escorrido por sua bochecha e ela balançou a cabeça, se abaixando e recolhendo as sacolas para poder voltar ao seu trabalho. O que ela não imaginava, era que Enid e Benjamin estavam de olho nela.

- Precisamos fazer alguma acontecer. - Benjamin diz batucando o metal da escada.

- Eu tenho uma ideia maravilhosa.

O sorriso genuíno de Enid, fez Benjamin sorrir e eles saíram em direção a Bob, já que segundo a mulher precisavam da ajuda do mesmo.





The Enemy | ᶜᵃʳˡ ᵍʳⁱᵐᵉˢ|Onde histórias criam vida. Descubra agora