Dan Ji-young
-Sou um desastre! - Desabafei.
Diante da mesa, eu recheava algumas massas de mandu-guk que seria acrescentadas à sopa que vovó preparava. Ela parecia interessada no que eu tinha a dizer e mexia o caldo tranquilamente, enquanto me olhava com seus minúsculos olhos.
-Você leva jeito. - Ela sorriu.
Percebi que ela se referia à forma que eu preparava a refeição.
-Não, não... Você não está entendendo. - Sorri envergonhada.
-Aish, porque você está falando isso?
- Na verdade, tenho um tutor que está me ajudando com tudo no trabalho, mas é bem complicado. - Suspirei.Meu caminhar não é leve, não sei conversar em público e, na última vez que tentei beber um café, derramei em cima de um novo colega de trabalho.
Vovó abriu uma risada abafada e não contive a minha.
Choi Won-Mi, minha amada avó, cuidou de mim uma boa parte de minha vida. Depois do acidente que matou meus pais, ela brigou com todos os filhos para conseguir minha guarda. Não porque eles queriam ficar comigo, mas porque achavam que ela já estava velha demais para cuidar de uma criança como eu. Ela lutou muito para me criar e fazer o papel de um pai e de uma mãe ausente. Choi era meu porto seguro. A mulher que me buscava todos os dias na escola, que me ensinou a cozinhar, que limpava meus machucados e que mandava eu esquecer das crianças que mexiam comigo na escola.
Quando concluí o ensino médio e passei na prova de admissão da faculdade, ela juntou todas as finanças que meus pais tinham deixado e pagou o meu curso.
Apesar dos outros netos, eu era, para ela, seu xodó. Fato que desencadeava na família certos atritos entre minhas tias, que tinham ciúmes do modo como vovó me tratava. Mas eu entendia completamente o lado de vovó. Antes da morte dos meus pais, meu núcleo familiar era mais próximo de Choi do que minhas outras tias, e quando comecei a trabalhar, minha atenção voltava inteiramente para o bem-estar da mulher que se sacrificou para me sustentar.Era por isso que eu tinha tanto medo de contar do meu emprego, medo de contar que tinha desistido da computação para trabalhar com música. Todos tinham concepções acerca do ramo que não eram muito boas e apenas valorizavam quem estava já consolidado. O que eu, uma mera produtora musical, teria a oferecer à minha família conservadora, a qual valorizava inteiramente as profissões mais clássicas, como médicos ou advogados? Devido a essas circunstâncias, eu preferia evitar atritos e dizia apenas que continuava trabalhando na empresa de tecnologia, que saí há 1 ano.
-Isso é tão ruim?
-Não é bem o que todos esperam de mim. - Suspirei e observei ela me olhar com compaixão. - É desmotivador.
-Acho que você é parecida com seu pai. - Ela concluiu. - É perfeccionista.
-Eu não sou perfeccionista!
-Você quer agradar as pessoas... E está tudo bem.
Engoli o seco. Observei ela caminhar até a mesa e pegar os bolinhos que eu acabara de preparar.
-Talvez esse seja seu diferencial.
-Ser desastrada?
-Sim. - Ela sorriu.
-Não sei como isso pode ser bom. Não sou tão boa quanto às outras garotas. Todas parecem altivas e únicas... Eu só... Sou assim. - Me olhei. - Tenho medo das pessoas terem ideias erradas de mim pelo que eu sou.
-Meu amor, não seja uma rocha dura quando você, na verdade, é uma pedra preciosa. - Ela disse me olhando. - Você é linda, inteligente, divertida, me faz rir. Qual pessoa não seria sortuda em ter alguém como você ao seu lado?
Após prepararmos o jantar, nos juntamos à mesa e comemos. Lavei todas as louças e logo me despedi da mesma.
-Bom, preciso subir. - Dei um beijo em sua bochecha.
-Mas já?
-Preciso me organizar para amanhã. Começo a trabalhar em um novo projeto. - Sorri. -Obrigada pela comida, vovó.
-Tudo bem... Dan Ji-young! - Ela me chamou.
-O que?
-Não ligue para o que as pessoas acham de você. - Ela sacudiu as mãos no ar.
Sorri com suas palavras. Fiz uma mesura rápida e saí pela porta da cozinha. Atravessei o jardim, sentindo a brisa fria do final de outono bater em mim e subi as escadas correndo, enquanto me abraçava. Minha casa ficava no segundo andar e era menor que a casa de vovó, mas era o suficiente para englobar meu mundo musical. Lá eu podia ter um pouquinho de paz, trabalhar em meus projetos e não perturbar os vizinhos, o que incluía minha avó. Minhas tias sempre falavam para eu sair logo de lá, arranjar meu próprio canto, um mini apartamento até eu conseguir me estabelecer financeiramente, mas a verdade é que vovó odiava quando eu tocava no assunto. Para ela, eu não teria construído meu espaço no primeiro andar, ela queria que eu ainda estivesse com ela.
Entrei em casa e observei a escuridão do local, sendo iluminado apenas pelas luzes de led que eram emitidas pelo meu estúdio. A paleta de cores variava de minuto em minuto, o que dava uma atmosfera surreal e confortável ao meu cantinho. Fui até o banheiro e tomei um banho quente, fiz minha higiene pessoal e não demorei em saltar na cama. Rapidamente adormeci.
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Interlude
Fanfiction[Concluída] Jiyoung é uma jovem apaixonada por música, Suga é membro do grupo musical coreano BTS. Suas vidas diferentes se cruzam a partir do momento que Jiyoung se torna a nova produtora musical da empresa. Será que eles se darão bem? Será que Su...