Quebre um prêmio, ganhe um abraço

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Por volta das 22h, Jiyoung ainda trabalhava incansavelmente em seu projeto. A empresa já estava mais calma e ela tinha certeza de que não veria mais ninguém naquela noite. No Genius Lab, era apenas Jiyoung e a música.

-Okay, saia! – Uma voz masculina invadiu todo o ambiente.

Jiyoung girou a cadeira e deu de cara com Suga, que estava de pé, segurando uma pequena maleta nas mãos, ainda vestido com a roupa da premiação. O rapaz caminhou em sua direção.

-O que? Espere um pouco...

-Não, saia. - Ele a tirou da cadeira, tomando seu lugar e pondo a mesma no sofá. – Sente aqui e descanse.

-Porque?

-Você já passou tempo demais olhando para a tela do computador... - Ele desligou toda a aparelhagem.

-Eu estou bem.

-Você acabou de tentar matar uma mosca que pousou na tela com a seta do mouse, Dan!!!

-Aish... – Bufei. – Há quanto tempo você está aí? Você viu?

-Tempo suficiente. - Suga sentou-se na cadeira que a garota estava sentada minutos antes e virou-se, ficando frente a frente com ela. - O que faz aqui essa hora? Deveria estar descansando em casa.

- Não esperava te ver por aqui essa hora.

-Eu precisava te entregar isso. - Ele tirou de dentro da maleta um tótem de cristal. O prêmio.

-Oh!

A garota recebeu o prêmio em mãos. Uma peça de vidro, ou seria acrílico, transparente e em formato piramidal. A logo da premiação destacava no centro e, logo abaixo, o nome de Jiyoung estava gravado no prêmio.

Suga percebera a curiosidade da produtora, mas, mesmo assim, notou que ela não parecia animada com a conquista.

-Pensei que veria você mais feliz.

-Eu estou feliz.

-Não é o que parece... Vamos lá! É o seu primeiro prêmio.

-Não me sinto bem com ele. - Ela disse por fim. - Não queria vencer assim.

Suga pareceu estático ao ouvir sua confissão.

-Por mim, eu quebraria essa coisa em mil pedaços, só para não ter que olhar todos os dias e lembrar que fui uma idiota.

-Hajima, não diga isso.

O silêncio tomou conta do ambiente. Jiyoung engoliu o seco e voltou a se concentrar no seu balde de frango frito. Por um instante, Suga pensou no que poderia fazer.

-Tem certeza disso?

-Como? - Jiyoung perguntou confusa.

-Você se sentiria bem quebrando essa coisa?

-Acho que sim. - Ela deu de ombros.

-Pois, venha. - Ele se levantou da cadeira e segurou sua mão, puxando para fora do estúdio.

-O que? Para onde vamos?

-Só me siga. - Ele disse caminhando em direção ao elevador.

Sem pensar muito, a produtora seguiu o rapaz e, em menos de 2 minutos, se viu diante de um enorme terraço no último andar do prédio.

A noite estrelada evidenciava as luzes da cidade de Seul e, ali em cima, era possível sentir a brisa gelada da noite. Suga ainda tinha sua beleza intacta com seu penteado, maquiagem e roupa de gala, mas de maneira oposta, Jiyoung sentia o vento lhe açoitar os cabelos, bagunçando-os e a deixando desengonçada.

Suga caminhou até um espaço vazio e apontou.

-Faça isso, você vai se sentir bem.

-O quê? - Ela berrou. - Não vou quebrar isso aqui. E se a empresa ver?

-Qual o problema? Isso é seu, não da empresa.

Jiyoung ainda hesitava a ideia de quebrar o prêmio. No entanto, sentia uma crescente sensação de libertação surgir em seu peito. Toda aquela situação inebriante parecia querer tentar convencê-la de que aquilo a faria se sentir bem.

Suga veio até seu lado e disse.

-Pense nisso como um saco de pancadas. - Ele falou. - Pense em tudo o que te fez se sentir mal, ou com raiva. Pense em mim e quebre isso.

A produtora riu da sua afirmação, mas logo reuniu forças. Pensou nas dificuldades enfrentadas com a música, pensou na doença de sua avó, pensou nas críticas de sua tia, das suas inseguranças, da briga que teve com Kyung Hee.

Fechou os olhos.

Não demorou muito para que ela sentisse uma força crescer dentro de si, força suficiente para levantar o totem e, então, atirá-lo em direção ao chão com um enorme impacto. A explosão de cristais se espalhando pelo terraço mal iluminado fez com que ela abrisse um sorriso. Não sabia explicar a sensação, mas sentia que um peso tivesse sido tirado de cima de suas costas.
Yoongi também notou a alegria da produtora. Odiava ter que pensar que, algum dia, a julgou mal. Era como se aquele momento fosse dele também.

Então a verdade veio como nunca antes. Não havia mais desculpas, não havia mais como fugir. O momento chegara e ele tinha certeza do que estava sentindo.

Era começo de outono em Seul. Noite que garantia uma brisa congelante. Noite em que talvez os sinos tocassem. Noite que ele pensou ter sentido o coração errar as batidas enquanto olhava para o sorriso daquela garota a sua frente. Noite em que Suga se pegou apaixonado por Jiyoung.

. . .

Não demorou muito para que Suga pegasse algumas bebidas e voltasse para o terraço, ao encontro de Jiyoung, que esperava sentada no chão, observando as estrelas.

-Não podemos beber no trabalho. - Ela disse observando o rapaz com duas latas de cerveja nas mãos.

-Tecnicamente, estamos fora dele. - Ele deu um sorriso sarcástico e entregou uma latinha.

Ignorando o medo de punição, ela abriu a latinha e deu um gole. Suga se sentou ao seu lado.

-Sinto muito... - Ela disse por fim.

-Porque você está pedindo desculpas?

-Você estava certo o tempo inteiro e eu só fui uma garota chata. Não deveria ter confiado cegamente nas pessoas.

O rapaz ficou calado.

-Bom, agora sei como são as pessoas. Vou me vigiar da próxima vez. - Ela voltou a beber.

- Haverá muitos outros prêmios e eu sei que você terá muito orgulho.

-Obrigada.

Logo ele sentiu um peso em seu ombro direito. Jiyoung apoiara a cabeça.

-Você não está bêbada, está?

-Não.

- O que você quer?

-Acho que preciso de um abraço. - Jiyoung disse levantando o olhar para o rapaz, que logo ignorou.

-Não posso te dar isso.

-Não pedi a você.

-ótimo.

-Mas fiquei curiosa. Porque não pode me dar um abraço?

-Por que não sou de dar abraços.

-Hum. - Ela suspirou. - Você parece convidativo para um abraço.

A produtora se aconchegou próximo ao rapaz.

-Nem pense nisso...

Antes que pudesse se desvencilhar, Suga sentiu Jiyoung abrir os braços em sua direção. Quando deu por si, a produtora já estava acolhida em seu peito. E então os minutos se passaram e o silêncio no ambiente se seguiu, sendo possível ouvir apenas o som da respiração dos dois, que se mantinham agarrados um ao outro.

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