Um aniversário especial

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O outono seguia a todo vapor em Seul, o que garantia aos moradores da cidade o direito de retirar suas roupas de frio do fundo do guarda-roupa. Suga amava aquele clima, nada muito quente, nem muito gelado. Gostava de como era agradável sair de um lugar frio e adentrar a um quente ao mesmo tempo, tomar bebidas quentes e beber soju sozinho enquanto notava a cidade inteira mudar toda sua dinâmica por conta do clima. Seul tinha sua paleta alterada a cada estação. As cores quentes do verão davam espaço para as cerejeiras coloridas na primavera, que coloriam o chão das ruas com suas folhas, mas logo então tudo virava cinza. Os prédios, os carros e as pessoas, com seus casacos pesados e quentes, que anunciavam mais uma temporada fria, de outono-inverno.

Jiyoung, por sua vez, apesar do clima parecer mais sério e estático, não era o suficiente para mudar o humor da garota, que sempre esbanjava alegria e luz, como se estivesse em um eterno verão interno. No entanto, Suga viu Jiyoung perder sua luz ao saber das notícias do estado de saúde de sua avó. Won-Mi não reagia mais ao tratamento da quimioterapia, que destruiu aos poucos sua imunidade e sua saúde psicológica. Isso foi o fim para Jiyoung, que apenas aceitara o tratamento paliativo como uma oportunidade de reduzir o sofrimento de sua amada avó e dar a ela o máximo de conforto.

Sua visão estava afetada quase por completa, projetando apenas borrões e dificultando o reconhecimento dos familiares. Jiyoung notou sua avó ficar cada vez mais calada em suas visitas e aquilo era doloroso. Ela amava quando sua avó conversava animada com a neta ou apenas esbanjava seu otimismo para as coisas mais básicas da vida. Won-Mi estava fraca demais, não saía da cama se não fosse em cadeira-de-rodas e assistia os dias passarem pela janela do hospital. Talvez estivesse assim por saber que estava morrendo e Jiyoung odiava parar para pensar no sofrimento de sua amada avó.

Quando o aniversário de Won-Mi chegou, Jiyoung estava certa de que queria fazer algo para sua avó. Ela começara a entender que talvez não tivesse tanto tempo com a senhora e decidiu que precisava que ela aproveitasse o resto de sua vida feliz, ao seu lado.

-Vovó, seu aniversário está chegando. - A neta se encostou na cama da senhora com os braços apoiados no queixo.

-Ah, é mesmo. - A senhora parecia indiferente.

-O que você gostaria de ganhar?

-Eu não preciso de mais nada, meu bem. Não se preocupe muito comigo.

-Tem certeza? Eu gostaria muito de fazer algo por você.

-Você já faz muito por mim. - Ela segurou a mão da neta.

Jiyoung sentiu suas mãos geladas e conseguiu sentir o nó em sua garganta crescer.

-Tem algum canto que você gostaria de ir?

-Estou presa nesse quarto de hospital há meses, eu quero ir a tantos locais. - Sua voz saiu fraca. - Eu adoraria ir à praia, ver o pôr do sol, mas estamos no outono.

Jiyoung achou a ideia maravilhosa e, apesar do clima, sabia que podia dar um jeito de realizar o desejo de sua avó. Pediu a autorização do médico, mas foi alertada sobre a duração da viagem, por isso, decidiu ir a uma localidade mais perto de Seul. E ela planejou tudo. O dia da viagem, qual roupa usariam, o que comeriam e como iriam. Tudo estava pronto. Ela precisava fazer com que sua avó sentisse o máximo de felicidade possível.

-Você dirige? - Suga perguntou quando assunto surgiu no estúdio.

-Não.

-E como você vai para Gangneung?

-Táxi.

-Você tem noção de quanto esses motoristas cobram para outra cidade?

-Eu vou dar meu jeito.

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