C13. Perdido

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Meio que "dispensei" o Charlie, iria dar 3hs da Tarde e não sei se o próprio almoçou ou descansou, eu sei que ele tá encarregado de me levar e buscar por toda Londres, caso eu quisesse passar o dia fora, mas não quero abusar, ele é simpático e uma das coisas que eu mais gostei de conhecer sobre ele é que o próprio conhece o Brasil e tem parentes vindo de lá. Deve ser por isso que nós dêmos naturalmente bem.

A Inglaterra acordou com um clima agradável mudando para o ensolarado sem motivo algum, talvez seja pela Primavera. Depois de deixar claro para o Homem de Preto que passaria o dia lendo o tal livro que aluguei no meu quarto. Entrei indo direto para um banho completo, agora o frio que me atingia no inicio dessa manhã já tinha ido embora há muito tempo. Como o aquecedor é programado para mim, os cômodos ficaram um tanto quente. Os desliguei deixando as janelas abertas para correr o ar agradável.

Depois de um longo banho passei o creme nos meus cabelos e os deixei secar naturalmente, pus um top-preto e um vestido curto acima do joelho, era justinho de estampa simples (estou sozinha mesmo) e escolhi um pequeno par de meia preta. Comecei a fazer algo rápido e simples para enganar o almoço brasileiro de costume enquanto lia meu livro. Assim que terminei me dirigi a uma poltrona da sala a empurrando em direção a janela (porta de vidro com cortinas) e me sentei tendo a vista da sacada e as casas do outro lado da rua com várias pessoas indo a diversas direções. Peguei meu celular e com a página aberta sob o meu colo tirei uma foto mostrando o livro mais a vista da varanda com minhas pernas amostra esticada e meus pés cruzados com a pequena meia que usava.

Nossa... da um belo de um papel de parede. Nem preciso editar nada, a claridade do céu já era perfeita por si só. Resolvo atualizar depois de tempos meu Insta com essa foto. A primeira foto que posto em relação à viagem com emojis de Sol e Nuvem, mais uma Roda Gigante. Fico vendo os comentários surgirem a cada minuto que passa, perguntando onde estou, se viajei para outro lugar, ou se sou eu mesmo naquela foto.

Por pura nostalgia resolvi rever meus antigos postes e vejo um ou dois comentários recentes nos vídeos de música sobre o Johnny, de perfis que não me segue. É, aparentemente estou começando a ser notada. Resolvo alterar uma coisa especifica na minha bio, o ano do meu nascimento. Apenas isso. Não coloco nada de informações da minha vida pessoal. A única coisa que tinha era um emoji de escorpião e sagitário (que representava meu sol e ascendente), nem o dia eu coloquei. Quem ver e pensar um pouquinho já sabe o meu mês. Em relação à família ou meu nome completo é zero. Só uso o primeiro nome. Apenas a Valéria me segue, mais o perfil dela é privado e misturado com os outros então é mesmo que nada; sobre a Jessica mesmo ela sendo bem publica nunca apareci em alguma publicação dela.

Eu não sei o porque fiz isso, por instinto talvez, eu sou muito reservada em relação a expor meu endereço fixo, penso muito antes publicar algo pessoal que possa revelar mais do que devia e algo me diz que fiz a coisa certa, deixando minha rede social bem vago mesmo. Algumas frases de um dos meus filmes favoritos, emojis de dog, livros e guitarras.

Senti uma brisa fria entrando pela janela, ponho tanto o livro quanto o celular do lado e vou para o quarto pegar uma meia calça preta para vesti-la. Quando voltei para sentar não pude deixar de olhar mais uma vez admirando aquela vista e meu olhar instantaneamente ser puxado para um cachorro atravessando a rua sozinho. Vejo ele cheirando uma lata de lixo e passar direto entrando em um Parque verde com cadeiras para relaxar e caminhar. Observando percebo que ele é literalmente o único cachorro vagando sem um dono.

Por alguns instantes penso e resolvo ir até ele, era em frente ao prédio (não iria me perder sem o guia) vou apenas dar uma tigela de água e pronto. Calcei um sapato peguei duas garrafas de água pondo na bolsa e uma vasilha para aquele cachorro. Abro a porta e desço no elevador em direção ao Parque que fica do outro lado da rua. Passo para calçada e entro seguindo os passos daquele filhote e em minutos encontro ele deitado perto de uma árvore meio que escondido. Mesmo com uma certa distância reconheço sua raça Boiadeiro de Berna, macho e talvez tenha meses a 01 ano não tenho certeza pois seu pelo não esta cuidado.

- Ei garoto. — me ajoelho perto de um banco que fica do lado da árvore. Jogo minha mochila retirando a vasilha e uma garrafa d'água. Resolvo me sentar no chão usando o lado do banco para me escorar e de frente pra ele estendo o pote com água despejada dentro. Sorri amigável com meus sentimentos relaxados, pois os cães são capazes de farejar nossos extintos.

- Bebe. É água, viu?! Tá tudo bem. — ele farejou perto e caminhou em minha direção, cheirando minha mochila e finalmente indo em direção a água.

E como bebeu. Ele era um amor, tão fofo e tão indefeso. Não consigo parar sorrir e claro falar com ele.

- Vai devagar lindinho. Tá com fome? — olhei em volta e só conseguia ver algumas lojas longe, fora do Parque, do outro lado da rua. Ele bebeu e veio na minha direção virando-se de barriga, passei meus dedos na região que ele tanto parecia necessitar de um toque. E lindamente ele começou a brincar com a minha mão.

- Tudo bem. Tudo bem. Eu já volto. — me ajoelhei no intuito de pegar minha bolsa e o cachorrinho gemendo em negação como se quisesse me impedir. — Ei, ei ,ei eu volto já. Tá tudo bem. Eu volto, ok?!

Vi que ele não largaria minha bolsa então deixei com ele no cantinho onde estava entre a árvore e o banco e enchi novamente a vasilha para o caso dele querer beber mais.

- Ok fique aqui tá bem? eu já volto. Eu prometo. — acariciei sua cabeça e senti o molhado da sua língua nos meus dedos em forma de carinho.

Me levantei utilizando o resto da água para lavar minhas mãos e me dirigir saindo dali a procura de alguma loja que tenha uma ração apropriada para o mesmo. Pelo menos que possa alimentá-lo por hora. E entrei em uma cafeteria chamada Books, além de livros em exposição o lugar era cheio de plantas ao redor. Entrei lá encontrando diversas coisas, se vendia discos também e havia uma área para se alimentar com algumas mesas espalhadas. Não estava lotado, as pessoas de fora passavam direto ignorando esse lugar, eu juro que se tivesse um local desse perto da minha casa eu moraria aqui fácil sem pensar duas vezes. Olhei para algumas prateleiras vendo grãos apropriado para o meu novo amiguinho. Peguei uma quantidade dentro de um saquinho e nessa hora caiu a minha ficha. Com que diabos vou pagar por isso? Não converti nada em dinheiro, nenhum centavo. Tudo aqui foi bancado. Assim que me virei ainda atordoada com a minha realidade somada sobre o que faria com aquele cachorro esbarrei em um homem completamente coberto por suas roupas fechadas, seu chapéu, óculos e gorro cobrindo seu rosto.

- Perdão. Me desculpe. — falei mais rápido do que pensei. Eu ia corrigir meu erro de linguagem, mais travei quando meus olhos bateu naquele maldito sorriso contido. A única parte do corpo visivelmente a mostra e eu reconheci. Droga, e como reconheceria Ele.

Johnny Depp: Minha Sweet ChildOnde histórias criam vida. Descubra agora