Capítulo Quatro

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Boa leitura! 1/5

Sábado – 13:42

   Eu amava pintar. Não que eu pintasse como Van Gogh ou Picasso, eu provavelmente não era nem mediana, mas era um hobby que eu amava porque ele funcionava para mim todas as vezes que eu precisava desligar os pensamentos por uns momentos, mesmo que pintar para mim se resumisse ao abstrato.

  Amava em especial pintar no estúdio de Ashley, ou Halsey como ela gostava de ser chamada. Ela era uma beta de vinte e quatro anos, e definitivamente a pessoa mais fodástica que eu já conheci. Se havia alguém que teria coragem de enfrentar qualquer um pelo que queria, esse alguém era Halsey. Se houvesse alguma única beta no mundo inteirinho que teria qualquer chance com Camila, esse alguém também seria ela porque Halsey exalava uma confiança admirável que eu nunca chegaria a ter.

  Por isso, contar para ela foi revigorante. Ela ouviu cada palavra sem me julgar. Ela não fez perguntas difíceis e não me fez me sentir mais burra do que já me sinto. Sei que, quando contei a Keana, ela com certeza não planejava com que eu me sentisse assim, mas foi o que aconteceu. Ela tinha um ponto de vista tão cético quanto a voz da minha consciência.

— Ela quer muito se aproximar de você. Deveria investir nisso nos próximos dois encontros. – respondeu depois de me encarar sem expressão por alguns segundos.

   O círculo que eu estava fazendo no quadro a minha frente perdeu sua forma quando eu ouvi isso e acabei tremendo a mão. Encarei a beta de cabelos azuis com uma surpresa evidente que fez ela dar risada. 

— Você não ouviu nada do que eu disse sobre o pânico e as outras sensações ruins? 

   Ela se aproximou de mim dando uma olhada no quadro que eu pintava. Desde o ano passado eu sempre vinha aqui para me distrair, e na maioria das vezes, meus quadros ficavam e ela os usava de enfeite no estúdio, eu realmente não me importava, gostava de como o estúdio ficava bonito com o estilo moderno que Halsey deu a ele. – Toquei na libélula tatuada na minha nuca. Eu usava tanto o cabelo solto que havia me esquecido dela.

— Sim, sim, eu até ouvi mas desconsiderei. Você não citou pânico quando estava com essa tal Camille, então não vejo porque não investir, Laur. Você fala sobre ela desde que nos conhecemos, literalmente desde que nos conhecemos na festa de aniversário da Alexa. Agora você tem a chance de ficar perto dela, por que não investe?

   Voltei a encarar o quadro e a passar o pincel com a ponta amarela nele, sem responder. Eu sabia que falar de Camila para Halsey resultaria nela me encorajando a tentar. Acho que, no fundo, eu queria que ela encorajasse, talvez eu estivesse tentando provar algo para a minha consciência. Só que mesmo agora ela é a voz mais alta me dizendo que tentar mesmo que amizade com Camila era burrice.

— Porque eu vou estragar tudo estando apaixonada por ela. – murmurei — Ela é.. Deus, ela é muito melhor a cada vez que fala comigo. Não é mais uma ômega bonita e gentil por quem eu me sinto atraída, agora ela é engraçada, interessante e a pessoa que me manda mensagens ao longo do dia cada vez que estou entediada o bastante para pensar no meu futuro e iniciar uma crise ansiosa.

  Como se fosse um sinal meu celular vibrou no meu bolso com uma nova mensagem.

— Laur, o que for para acontecer vai acontecer, sabe? Você está apaixonada por ela há três anos e nunca falou com ela, mas isso não impediu você de estar apaixonada. Ficar perto de Camille não vai te fazer se apaixonar mais, confia em mim, você vai saber como agir. Não empurre ela para longe. 

  Encarei a beta sem saber o que dizer por uns minutos. Lembrei de ontem a tarde, quando eu ainda estava tremendo pelo ataque de pânico causado pela briga, e por impulso, contei tudo a Keana. Eu sabia a resposta que Keana daria. Eu sabia porque se fosse ao contrário, eu faria a mesma coisa. Mesmo assim, sua resposta me deixou péssima.

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