Capítulo Vinte e Sete

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Boa Leitura!
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Camila P.o.V
Três Anos Antes..

Beijar em carros e bares no centro
Era tudo o que precisávamos
Você desenhou estrelas ao redor das minhas cicatrizes
Mas agora estou sangrando

  Meu fone de ouvido estava pausado há exatamente doze minutos e quinze segundos. Sei disso porque uma parte de mim, a que queria ficar aqui, contou, numa tentativa de não ceder. Ficar sem música me deixava super ciente de tudo que estava acontecendo por pelo menos dez metros ao meu redor, o que era ruim, ainda mais considerando o que aconteceu, e contar me distraía de disso, de ouvir os murmúrios dos meus colegas que se escondiam para saber o que havia acontecido, cada um com uma nova versão distorcida da história. Também me impedia de escutar a forma como Dinah respirava devagar, sentada ao meu lado, tentando não expressar dor para não me fazer sentir culpada. Eu me sentia mesmo assim.

  Seu nariz estava deslocado, com um algodão para que o sangue não continuasse escorrendo. Papá havia dado a ela sua jaqueta de couro marrom, e Dinah a usava como se fosse uma maldita capa de super-herói, esse foi o pensamento que tive quando a vi entrar na sala de música, ver o que havia acontecido, e dar um soco no rosto de Lucca. Ele também estava aqui, no banco do outro lado da porta, todos nós três em frente a sala da diretoria. Seu rosto estava pior que o dela, havia sangue descendo pelos seus ouvidos graças a mim, e seu olho estava roxo, onde ela bateu, com o lábio cortado quando começaram a brigar. Isso não deveria ter acontecido. Era uma cena feia demais para tão pouca idade. 

  No entanto, parte de mim se sentia satisfeita olhando para ele, vendo-o machucado. Era aquela parte egoísta e perigosa da minha personalidade, a parte que ansiava se sentir poderosa. Minha ômega interior se sentia satisfeita em poder demonstrar no rosto dele um pouco da sua superioridade. Era estranho, conflitante. Enquanto essa parte existia, uma outra, uma maior, sentia culpa e dor. Engoli seco e tentei não deixar lágrima nenhuma cair quando vi o meu desenho, o desenho da minha mate destruído, os pedaços amassados e rasgados no meu colo, guardados pela minha esperança boba em consertá-lo.

…Senhor e Senhora Cabello, eu juro que estou tentando ser razoável, mas precisam aceitar a realidade. Sua filha é um perigo, ela não deveria ficar entre os outros alunos. Tudo que te pedi era para contar a verdade, e estão se recusando a fazer isso, eu simplesmente não posso mais deixar meus alunos continuarem a ficar perto dela. Desde que entrou nesta escola, Karla não fez uma única amizade, todos os seus colegas de classe dizem que ela os assusta. E ainda que Dinah-Jane tenha seus motivos, ela também é extremamente reclusa e arisca. Existe um ponto até onde o trauma pode justificar as coisas, e já passamos dele.

Você não está sendo justa.  – a voz da minha mãe continuou séria e baixa, do outro lado da porta. Mas eu estava escutando. Ela sabia que eu estaria. — Faz meses desde que Alejandro e eu conversamos com você sobre o bullying social que minhas duas garotas sofrem, e, assim que um acidente acontece, você usa isso contra nós? Elas só estavam se defendendo. Você escutou quando o garoto admitiu a fala xenofóbica, e está ignorando isso. Por que somente ele é a vítima? Por que só ele é o seu aluno?

Porque foi ele quem quase foi acertado por um maldito violão, entende a gravidade disso? Eu desculparia a briga com ele e Dinah-Jane, são alfas, alfas são temperamentais, e se, somente se houvesse envolvido apenas os dois, algo "justo" poderia ter sido resolvido entre vocês e os pais do aluno. Mas não foi isso que aconteceu, a sua.. a sua "ômega", se insiste em nos fazer acreditar que é isso que ela é, quebrou diversos instrumentos da sala de música, causando um prejuízo de milhares de dólares, na tentativa de acertar um colega. O violão se partiu na parede, centímetros de atingi-lo no rosto, o garoto perdeu  audição durante mais de quarenta minutos, o ouvido dele ainda está sangrando, a senhora imagina o desespero que sentimos quando ele gritava que não estava escutando nada? Como pode ousar tentar me convencer de que isso é normal? Como pode achar mesmo que é uma boa ideia mantê-la? Ela é instável, é perigosa. Não quero mais ela aqui.

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