Capítulo Onze

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Boa Leitura!
E feliz aniversário, Beatriz S2
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Quinta-feira — 10:22

   Eu acordei atrasada para a escola hoje, tanto que Chris e Taylor tiveram que ir com meus pais por não conseguirem me acordar o suficiente, e tanto que agora, durante o intervalo, eu ainda estava saindo do estacionamento. A culpa era apenas do antidepressivo que eu tomei após chegar em casa e me trancar no quarto, notando depois de duas horas que não conseguiria diminuir minha ansiedade sozinha, que não poderia ficar estável naturalmente.

   Torturante. Eu não sabia descrever de outra forma. Tentava não soluçar, usando o travesseiro para abafar o choro enquanto tentava não lembrar, falhando miseravelmente. A culpa não era de Camila, a culpa não era do beijo, a culpa não era de Liam, era só culpa da minha alta sensibilidade em me envolver tão profundamente numa história que não era minha, eu repetia o tempo todo. Estava assustada pra caralho, com medo de passar tudo aquilo de novo, com medo de como o quarto parecia diminuir e me sufocar, com medo de como nem as músicas da Twenty One Pilots me acalmavam. Eu estava com medo de que nunca fosse me sentir normal.

Com medo do meu próprio teto
Com medo de morrer de incerteza
O medo pode ser a minha morte
O medo leva à ansiedade
Não sei o que está dentro de mim

  A letra da música ficou rodando a minha mente sendo a única coisa que eu conseguia pensar no meio das crises, então acabei chegando à conclusão de que não sobreviveria a aquilo sozinha. Na minha cabeça o nome Keana brilhava, me implorando para que eu pedisse ajuda, mas era tão tarde e eu não queria incomodá-la também. Então, procurei o antidepressivo que eu havia comprado há algumas semanas com um colega de turma e tomei, sem nem ousar levantar para buscar água, já tinha sido difícil subir sem dar explicações, não conseguiria fazer uma segunda vez. Eu apaguei poucos minutos depois e só agora estou aqui, não muito arrumada e morrendo de fome, andando em direção ao refeitório.

   Antes que eu entrasse, inclinei meu corpo um pouco para frente, procurando Camila, onde ela estaria e como seria mais fácil evitá-la. Ela estava na mesa do meio, parecia concentrada em algo no celular o que me fez suspirar em alívio antes que eu me misturasse no meio da pequena multidão, ignorando como isso revirou algo em mim, até que estivesse perto da mesa de Verônica, Mani e Louis. Até que estivesse segura ou o mais perto disso.

— ..Faria mais sentido se só tivéssemos uma companheira de alma, como nos filmes, eu seria uma companheira maravilhosa. Agora tenho que ir tentando de ômega em ômega para ver qual dá certo comigo, e surpreendentemente, isso é difícil!  — ouvi Verônica dizer.

— Sim, Verônica. Por que será que é difícil achar uma namorada ou um namorado para você? É surpreendente.

  Mani retrucou e eu me aproximei devagar, me sentando do lado de Louis, que estava distraído o suficiente para não me notar a princípio. Eu nem havia pego uma bandeja, mesmo com muita fome meu estômago doía só com a ideia de ingerir algo, era o efeito que o antidepressivo me causava todas as vezes que eu abusava dele, então eu apenas apoiei a cabeça na mesa, ficando quieta e rezando para Camila não me notar. Louis me encarou questionando sem palavras se eu estava bem e eu apenas fiz uma careta de dor.  

  Ele pareceu um pouco preocupado e pensativo, e se eu não estivesse me sentindo tão mal até questionaria, mas eu estava me sentindo tão cansada que apenas dei de ombros. Hesitante, Lou levantou a mão na minha direção e a colocou na minha cabeça, começando a acariciar meu cabelo. Quando eu senti seus dedos movendo entre meus cabelos suspirei aliviada, conseguindo sentir a tensão ir embora lentamente. Senti seu cheiro ficar mais forte para mim e soube que ele havia feito de propósito, na tentativa de me acalmar. Era algo normal entre ômegas e alfas, e mesmo não sendo nenhum dos dois e não sentindo efeito nenhum, eu gostava de como ele cuidava de mim.

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