Drapetomanía

Capítulo Dezessete

Sexta-Feira  —  12:55
Camila PoV

   Depois de ter provado tanto de Lauren segunda no parque, tendo amostras do seu beijo e toque, tudo o que eu mais queria era subir de nível com ela, foi quase fisicamente doloroso não poder tocá-la nos últimos três dias. Eles aconteceram muito rápido, ela estava focada em estudar enquanto eu tinha ensaios e mais ensaios, fora a aula de esgrima na quinta e consulta com a psicóloga que, graça ao incidente, tinha mudado de uma vez por mês para uma na semana. 

  Não tivemos tempo nem de conversar muito por mensagens, embora eu estivesse feliz por dormir e acordar com mensagens dela me desejando bons sonhos ou um bom dia. Nos corredores eu tentava passar o mais próximo que podia dela, tocando a ponta dos seus dedos com o meu, segurando sua cintura por milissegundos, era torturante que pudesse ter apenas isso da minha garota, porém não houve muito o que eu pudesse fazer. Não era justo. Estava com tanta saudade que na última aula mandei mensagem perguntando se ela queria me encontrar na biblioteca, mas ela não chegou a sequer visualizar, e não apareceu no refeitório, o que me deixou preocupada.

  Hoje teríamos um jogo contra outra escola, uma que era realmente boa e isso deixou minha mesa em nervos o dia inteirinho, Austin estava extremamente nervoso e ansioso. Cloe e os outros líderes de torcida, incluindo Dinah, passaram a manhã toda ensaiando e, por algum motivo, eu tive que estar no meio, assistindo os ensaios e incentivando. Apesar de meu cheiro me impedir de passar despercebida, eu também precisava fazer alguns pequenos esforços para manter a popularidade. Eram sacrifícios menores do que outros ômegas fazem, nada como me obrigar a uma dieta absurda ou ficar com alfas babacas, coisas que já vi bastante no grupo. A popularidade pedia algo em troca de todo mundo. 

  Me sentei na arquibancada para assistir, vendo Félix entrar no campo também para flertar com todos os ômegas da torcida, um costume que ele tinha desde que me lembrava, mas que dessa vez pareceu um pouco divertido quando notei Dinah apertando os punhos para não socar seu rosto. Ri um pouco e segurei meu tablet e uma caneta digital em mãos para voltar anotar algumas coisas: as falas mais difíceis da Feiticeira Branca, que iria interpretar; alguns poemas que encontrava no Instagram e queria salvar; e versos de uma nova música que compus na minha cabeça. 

Eu esqueci como é a sensação
A sensação de estar sozinha mas não solitária
Acho que quando você me toca
Meus medos e segredos pertencem somente a você..

  Sua mentirosa, me critiquei mentalmente. Se os seus segredos pertencessem a ela, talvez você nem a tivesse mais. Ela é muito boa para você. Mordi o lábio ignorando a autocrítica, pensando em como continuar a letra apesar disso. Não é como se fosse ocultar a verdade dela para sempre, pensei. Só preciso de.. tempo.  – Meus pensamentos foram interrompidos quando senti um novo cheiro de alfa entrar no campo, misturado a suor e cansaço. Austin nem sequer olhou na direção de nenhuma outra pessoa antes de caminhar até mim.

— Por que você me incentivou a entrar no time há três anos mesmo? – questionou demonstrando uma falsa confusão. 

— Porque você era, e ainda é, muito bom nisso. E essa escola não sobreviveria dois jogos de campeonato sem você.  – sorri para ele, desligando o tablet e o encarando.

   Os olhos do alfa eram verdes. Não tão bonitos quanto os de Lauren, os dele iam mais para o castanho, combinavam com seu tom de pele. Depois de ter sofrido bullying por, dentre outros motivos, seu cabelo, Austin o cortou bem curto, para evitar comentários ruins. Seu corpo era atlético e a jaqueta do time pesava em seus ombros, a única coisa que ele vestia que não estava suada. Provavelmente a colocou depois do aquecimento. Era bonito. Só.. masculino demais para mim, mesmo se eu não tivesse uma alma gêmea.