Tem um livro em cima da cadeira onde eu sento. Pego-o, curiosa. É um livro de capa dura marrom, levemente desgastado. Luiza chega logo em seguida e balanço o livro em sua direção.
- É seu?
- Nada, quando cheguei já estava aí.
- Será que estão marcando lugar? - olho de um lado para o outro, mas Luiza me responde dando com ombros - Vou atrás de outra cadeira.
- Ai, Amanda - Luiza revira os olhos, pegando o livro e o colocando de lado - só pega e senta.
Estou morrendo de fome. Só quero me sentar logo e almoçar... Vou ficar aqui, então. Se a pessoa chegar, saio.
Hǎi yún passa por nós, de cabeça baixa, procurando por alguma coisa enquanto abro a marmita.
- Você viu o livro que estava aqui? - ela aponta pra cadeira, e de prontidão me levanto.
- Me desculpe - olho para Luiza, e pego o livro com ela - eu não sabia que...
Mas ela faz um sinal negativo com a mão, como se deixasse pra lá.
- Eu guardei o lugar pra você mesmo.
Luiza nos entreolha surpresa, talvez duvidando do que tivesse acabado de ouvir. Estendo o livro para ela, que guarda.
- Muito obrigada.
Minha mãe costuma dizer que sou muito acanhada, tímida até demais, e isso fica claro pelo fato de que qualquer coisa me deixa sem graça, como isso de agora.
- Você... - ela cerra os olhos, sentando ao meu lado, com a pose curvada para frente e me olhando de relance - Gosta desse autor?
- Ah, não saberia te responder - cerro as sobrancelhas, voltando a comer - Nunca parei pra ler nada dele.
Ainda sinto minhas bochechas coradas.
- Não? - ela levanta as sobrancelhas, pega um aparelho preto com formato de cano com fones de ouvido conectados e o deixa em cima do braço da cadeira - É uma leitura obrigatória.
- Desculpe, mas o que é isso? - aponto para o objeto.
- Isso? - ela pega o aparelho, mostrando para mim - É um MP3. Meu pai trouxe de viagem.
- E ele faz o quê?
- Ele guarda música e toca que nem o Discman, mas... - ela cerra os olhos, pensando nas palavras exatas - é bem mais prático, olha.
Ela tira os fones e os coloca em meus ouvidos. Aperto um e outro botão. Os nomes das músicas passam em um pequeno cursor azul da largura de um lápis. É realmente curioso como essas coisas cabem aqui, e com certeza deve valer uma fortuna.
Nisso, ela volta a remexer na mochila, que faz barulho pelos bottons pendurados nela, e pega o livro novamente, entregando-o para mim.
- Pega.
- Não, não posso aceitar isso, desculpe - gesticulei negativamente com as mãos.
- É emprestado.
No momento em que ela o coloca em minhas mãos, sinto suas mãos magras e frias tocando as minhas. É uma sensação estranha.
- Mas...e você? - olho para o livro e para ela - Não vai precisar?
- Eu já li - ela dá com os ombros.
- É... obrigada, então - gesticulo com ele em mãos - eu prometo ser cuidadosa e, olha... Obrigada, isso é bem legal.
- Mentira que teu pai trouxe um MP3, Hǎi yún - Luiza toma o aparelho das minhas mãos, o tateando - Já enchi o saco da mamãe pra me dar um e nada. Ele vai trazer pra vender pra cá?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Retas paralelas se encontram no infinito?
RomanceEm um cursinho pré-vestibular, o acaso faz com que duas garotas se encontrem. Amanda é gentil, dedicada e otimista. Hǎi yún é antissocial, desinteressada e pessimista. Amanda é quente como um raio de sol. Hǎi yún é fria como um dia de chuva. O que p...