Não sou obrigada a fazer nada, eu sei disso.
Eu não deveria conversar com alguém sobre isso? Com minha mãe, será? Não, não mesmo, sequer me imagino chegando com esse assunto. Não tenho ninguém próximo o suficiente pra isso.
Na verdade, tenho, e ele está terminando de arrumar o som do vizinho enquanto assisto algum programa aleatório na televisão.
Esse tipo de coisa acontece, não é? Engulo em seco e o vejo limpando as mãos, ligando o som e testando o volume. Ele percebe que o olho, mas desvio o olhar para a televisão de novo.
Depois do teste e mais alguns ajustes, ele vai para a área lavar as mãos, e volta de lá as enxugando em um pano velho.
Vou dormir fora essa noite, mas não vai ser nada demais... Pelo menos vou fingir que não seja.
Não, eu estou nervosa. E se acontecer...aquilo?
Por que estou pensando nisso? Ela só me convidou pra dormir na casa dela, porque já estou com segundas intenções? Será que quero mesmo isso, se acontecer?
Suo só de pensar, e afundo meu rosto em minhas mãos. Tenho que pensar em outra coisa...
Mas, e se acontecer? Não deveria nem estar pensando nesse tipo de coisa.
- Ei - André chacoalha meu ombro - tá bem?
- Estou, é que... - respiro fundo - Não vou dormir em casa hoje.
Ele faz uma pausa, e se senta do meu lado.
- Vai dormir na casa da menina?
Assinto que sim, e aquele silêncio constrangedor toma conta da sala nessa tarde quente e que parece esquentar mais.
- Devo dizer pra usar camisinha?
- Cala a boca, André! - coloco as mãos na cabeça, suspirando. Ele começa a rir, tão sem graça quanto eu - Você só fala besteira.
- Já falou pro pai e pra mãe?
- Só pro papai - continuo de cabeça baixa - ele falou que estava tudo bem.
- Então... - ele dá com os ombros, apoiando a mão esquerda em mim - Não faça nada que não queira, tá?
Essas coisas rolam rápido demais. Esses dias eu falei para eles sobre mim e agora estou dormindo na casa da garota que nem sei o que ela é pra mim.
Acho que seria bom perguntar pra ela o que temos.
E André realmente está me falando isso? Meu rosto praticamente queima de constrangimento, e ele não fala mais nada, se levantando e indo fazer outra coisa.
O dia parece não ter fim. Não consigo me concentrar em fazer nada. Tento resolver alguma questão da apostila, mas não saio da primeira página. Não presto atenção no que passa na TV, no que os outros dizem.
Vou para o banheiro, demoro no banho. Encaro minha própria face no espelho assim que saio do chuveiro. Continuo me culpando por pensar no que penso.
Volto para o quarto, me visto, arrumo meu cabelo, minha mochila. Suspiro baixinho e saio. André já está em baixo, sentado na escada, comendo uma laranja, olhando para alguns garotos brincando de bola na rua.
- Não quer que eu te leve?
Nego. e ele dá com os ombros, voltando a comer.
- Vá com Deus então.
Aceno e sigo pelo trajeto. Não é perto, mas também não preciso que seja. Ainda bem que o pai e mãe não estavam, porque não sei com que cara ia ter que falar com eles.
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Retas paralelas se encontram no infinito?
RomanceEm um cursinho pré-vestibular, o acaso faz com que duas garotas se encontrem. Amanda é gentil, dedicada e otimista. Hǎi yún é antissocial, desinteressada e pessimista. Amanda é quente como um raio de sol. Hǎi yún é fria como um dia de chuva. O que p...