Convergentes

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— Amanda, você mal tocou na comida – aponta minha mãe para meu prato. Não sinto apetite.

Faz pelo menos cinco dias que pontualmente vou na sua casa, bato, toco a campainha, chamo e nada. Ligo para lá, e ninguém me atende. Da última vez que fui até lá, gritei e bati no portão, mas nada.

Não posso invadir sua casa e pedir por respostas. Pensei em ir até a casa de sua amiga, mas... Não sei. Acho que posso estar incomodando, porém tentarei amanhã.

Aconteceu alguma coisa que querem me esconder ou simplesmente estão evitando minha presença? Por quê? Eu só quero saber como ela está, nada mais. Essa incerteza está me torturando.

A última vez que a vi ela estava melhorando, mas e agora?

Tento comer mesmo a contragosto, mas não desce. Deixo a comida pela metade. Quando vou lavar a louça e sigo para a sala, olho pelo quarto dos meus pais. Ele já está deitado.

Vou até lá, e ele está olhando pra cima, pensativo, com a mão no peito.

— O senhor está bem?

Ele não anda bem faz dias, mas tenta esconder a todo custo, assim como agora, que me olha de relance, assentindo com a cabeça, mas não acredito. Vou até a cama, me deitando na ponta dela, balançando sua perna.

— Tenho sim.

Passo mais algum tempo ali, até que me levanto.

— Qualquer coisa, é só chamar, tá bom? – dou as costas, mas o escuto me chamar.

— Durma bem, minha filha, e tente relaxar mais um pouco. Vai ficar tudo bem.

Concordo com um sorriso, o melhor que posso dar naquele momento, e vou pro meu quarto tentar estudar. A casa está silenciosa. Minha mãe termina de arrumar as coisas na cozinha, meu irmão não está em casa. Ouço a conversa deles no quarto, mas não consigo entender do que se trata.

Fecho meus olhos tentando dormir, mas não consigo. Tudo anda tão confuso, não consigo me concentrar em nada...

Mas o cansaço acaba pesando mais, e acabo cochilando.

Me desperto com um barulho na cozinha. São passos pesados demais, como se estivesse alguém se arrastando. Não pode ser André... Será que é o papai?

Levanto e vou até lá. Tá tudo escuro, e a figura dele caminha devagar pela cozinha. Ele está arfando alto, procurando se sentar.

— Pai, o que o senhor está sentindo? – corro até ele, que nega com a cabeça. Minha mãe vem logo atrás.

— Não, filha, é só uma... – ele puxa o ar ainda mais – Só estou indisposto – e faz uma careta de dor.

— Meu filho, vamos no postinho – minha mãe diz já ligando a luz.

Só assim vejo que a cara do meu pai está péssima. Molhado de suor e uma feição dolorosa que toma conta do seu rosto.

— O senhor está sentindo alguma coisa sim – vou até o quarto do André, e bato na porta com força – André, acorda! André!

— Não, Amanda, não vai perturbar seu... – e faz mais um grunhido de dor.

— André! – meu grito soa alto, e ele corre até a porta.

— O que foi? Aconteceu alguma...

Então escuto um grito alto. Viro, e meu pai está no chão.

As coisas passam devagar ao meu redor. Ele, com o peito pra cima, olhando em nossa direção, mão segurando com força contra sua camiseta. André corre até ele, desesperado. Minha mãe começa a chorar. Meu olhar fica fixo nele, que me olha desesperado.

Retas paralelas se encontram no infinito?Onde histórias criam vida. Descubra agora