- Amanda, como está sendo o curso? Está gostando de lá? - a coordenadora da diocese entra assim que termino de arrumar os papéis deixados na sala das crianças.
- Anda sendo uma correria - digo apoiando eles nos meu braço - mas, graças a Deus, está tudo indo bem.
- Não está sendo cansativo pra você vir pra cá na sua folga? - ela pega os papéis, seguindo para fora para trancamos a sala - A Maria tava se queixando que você mal tem tempo pra nada...
- Se eu não tiver tempo pra servir a igreja, pra que vou ter tempo, dona Suzana?
- Você e sua casa sempre serviram ao Senhor, Amanda - ela apoia a mão no meu ombro - mas, acho que você ficaria melhor em outra função na nossa casa.
- Então a senhora não quer que eu venha mais? - pergunto com receio.
- Não exatamente... - ela dá um sorriso fraternal - Mas, caso queira, quero te remanejar pra organização da festividade. Só precisa vir na reunião de domingo de manhã, depois da missa.
- Eu, na organização? - pergunto surpresa - Sério?
- Por que não? - ela sorri ainda apoiando a mão no meu braço enquanto andamos - Você é a menina mais responsável que conheço, não imagino mãos melhores pra nos ajudar.
- Não, com certeza quero, dona Suzana - não consigo esconder a animação - muito obrigada pela oportunidade.
Ela agradece e sigo para a diretoria da igreja junto. Nossa, a mamãe vai ficar muito feliz quando souber.
*
Luiza mal falou comigo depois do que aconteceu.
Não sei se ela espera que eu peça desculpas pelo que aconteceu ou ela só não quer conversar mesmo. Eu até tento falar alguma coisa, mas ela só responde o básico. Então, acho que ela só precise do seu tempo.
Por outro lado, me sinto mais à vontade com Hǎi yún, ou ela que se sente em conversar comigo. Nas vezes que ela vem para a aula, conversamos em boa parte nos intervalos de aula, no começo, na ida até sua casa.
Mas, hoje, por exemplo, ela não veio. Sei que ela não é a aluna mais presente na aula, mas, quando ela não vem, acabo sentindo falta de sua companhia.
Assisto a aula sem maiores problemas, mesmo estando com vontade de dormir na maior parte dela. Mal dormi à noite. Papai não se sentiu bem à noite de novo, se queixou de muita dor na perna. Eu e André juntamos nosso dinheiro para pagar um médico, mas ele recusou. Teimoso, como sempre.
Na hora do intervalo, porém, enquanto já estou cochilando, Luiza vem falar comigo.
- Ei, Amanda, acorda.
Abro os olhos, piscando algumas vezes para tentar me acostumar com a claridade que vem de uma vez no meu rosto.
- Quero te pedir desculpas pelo que falei pra ti naquele dia - ela senta do meu lado - foi escroto da minha parte e tudo mais.
- Tudo bem.
- Não vou me meter nessa tua amizade com ela - ela ergue as mãos como se rendesse - mas, ela falou alguma coisa de mim pra ti?
- Não - dessa vez respondo ríspido, e ela grunhe. Por que ela se importa tanto com isso?
- Sério? Nem da Judite?
- Não sei quem é essa moça, mas acho que você tem que se resolver com ela, Luiza - bocejo, assentindo com a cabeça. Já ela continua reclamando consigo mesmo, voltando a se sentar do meu lado.
A coordenação nos libera mais cedo e, quando saio, encontro com Hǎi yún na porta, de jaquetas jeans, bermudas folgadas que batem até os joelhos repleta de correntes, tênis e camiseta. Tento me aproximar silenciosa.
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Retas paralelas se encontram no infinito?
RomanceEm um cursinho pré-vestibular, o acaso faz com que duas garotas se encontrem. Amanda é gentil, dedicada e otimista. Hǎi yún é antissocial, desinteressada e pessimista. Amanda é quente como um raio de sol. Hǎi yún é fria como um dia de chuva. O que p...