Azul profundo

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N

ão consegui dormir bem na noite passada. Tive um pesadelo terrível o qual nem gosto de lembrar, mas, basicamente, Hǎi yún fazia aquilo com ela, e eu não conseguia fazer nada.

Tentava me mexer, mas em vão. É como se só me restasse a olhar aquilo e pedir a Deus para que acordasse. Tenho tanto medo que ela faça alguma coisa contra si que meu peito até dói às vezes. Só consigo ter algum alento quando vejo o sorriso tímido que às vezes insiste em sair do seu rosto, como uma resposta de que está tudo bem.

Mas, sinto que não estou tão participativa como costumo ser em sua vida. Ainda estou me acostumando com o ritmo de trabalho novo – que é bem menos cansativo do que o anterior, mas ainda estou pegando os trejeitos – e basicamente só chego em casa, como e durmo. Mais de uma vez ela ligou para mim e estava dormindo, e não consegui folga essa semana para ao menos dar um oi.

Não ando nem estudando no final do dia. O tempo que tenho no final de semana ultimamente tá sendo para revisar o material atrasado.

E ando me sentindo mais cansada do que gostaria de admitir. Vai ver por isso tive esse pesadelo. Toda vez que conversamos pergunto se ela está bem e ela diz que sim, mas sei bem que, às vezes, segundo suas palavras, ela não quer incomodar.

Agora, chegando do trabalho, só quero saber da minha cama. Entro, jogo minha mochila no chão e me deito. Encaro o teto, já bocejando, e fecho os olhos.

Sinto saudades dela. Na verdade, toda vez que nos falamos comento da falta que ela me faz e de que gostaria dela aqui comigo. Já faz mais de uma semana desde que dormimos juntas. Queria mais daquilo, confesso, mas não mais do que quero seu abraço e o cheiro da sua pele próxima da minha.

— Amanda, não vai pra aula?

Não consigo responder. Estou naquele momento que tudo parece flutuar ao seu redor, e o colchão está tão aconchegante que...



— Amanda?

Ouço essa voz me chamar de longe, mas ainda quero voltar pro meu sono. Uma mão me chacoalha, mas me viro para o outro lado.

— Amanda, tem uma pessoa aqui querendo falar contigo.

Eu entendi certo? Não sei, ainda estou com sono demais pra abrir os olhos.

— Eu posso vir outra hora.

Hǎi yún? Abro os olhos no mesmo instante e me viro. É ela mesmo. Minha alegria é tanto em vê-la que o sono que sentia até desapareceu.

— Ah, agora você acorda, né? – minha mãe bate na minha perna com o guardanapo e sai balançando a cabeça – Fique à vontade, viu? Vou ali ajeitar a janta.

— O que está fazendo aqui? – pergunto ainda esfregando os olhos para tentar acordar de fato.

— Eu precisava vim te ver – ela se senta do meu lado, apoiando as mãos no colchão.

— Você está bem? – digo colocando minha mão sob a sua.

— Eu... – ela engole em seco – Não sei.

Só agora reparo que ela não está com sua melhor feição. Hǎi yún encara o chão com o olhar vazio. As maçãs do seu rosto ainda mais proeminentes e o cabelo caindo no rosto na tentativa de esconder. É como se ela se encolhesse em si com medo de se machucar de si mesmo.

— Posso... – sua voz é tão pesada quanto o que parece sentir – Me deitar com você um pouco?

A resposta é óbvia. Envolvo–a com meus braços e nos deitamos. Fico por trás dela, pressionando seu corpo com o meu. Não faço nada além de acariciar seu cabelo e beijar seu pescoço vez ou outra, mostrando que estou ali.

Retas paralelas se encontram no infinito?Onde histórias criam vida. Descubra agora