Paralelas distintas

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- Então, ficou alguma dúvida?

- Isso vai cair na prova? - perguntam no fundo da sala.

- Tudo vai cair na prova.

Murmúrios de reclamação começam a vir da turma, enquanto eu os encaro, balançando a cabeça, rindo.

- Por que estão reclamando? Coisa mais fácil do que isso vocês não encontram.

- Geometria Analítica fácil, professora? - a aluna da frente cerra os olhos, e o resto concorda - Não sei aonde.

- Então vamos fazer assim - digo já guardando as apostilas na pasta - na aula que vem eu vou vamos fazer uns exercícios que vou montar pra vocês e peço para que todos resolvam, e isso inclui o pessoal ali do fundo que está conversando, viu? -apontei para trás, e eles riem - E nas que vocês errarem mais, vamos trabalhar. Tudo bem assim?

- Sim! - voltam a dizer, agora mais animados.

- O que eu não faço por vocês, viu... - balanço a cabeça, terminando de guardar as coisas.

- Professora, a senhora tá tão chique, vai pra onde? - pergunta um grupo de meninas assim que passam por minha mesa.

- Vou pra um evento - digo já olhando pro relógio - na verdade, já era pra estar no caminho.

- Divirta-se, prof! - dizem ela, e agradeço. Meu telefone toca enquanto entro no carro.

- Oi, meu amor - respondo assim que coloco a chave na ignição - não, eu já estou indo te buscar. Já trocou de roupa? Então já pode ir lá pra frente.

Corto caminho para conseguir chegar no horário. Ela entra e pede a benção pra mim, logo beijando meu rosto. Jogo seu cabelo pra trás, arrumando a gola de sua camisa antes de sair novamente.

- E aí, como foi hoje? - pergunto ao dobrar a rua. Desse trânsito não dá pra fugir, e ela exaspera, chateada - Não gostou do ensaio?

- Mamãe, estou surtando!- ela cerra as sobrancelhas - Aquela menina é muito boa! Não consigo acompanhar o ritmo daqueles dedos no teclado!

- Se o professor colocou vocês duas pra ensaiarem juntas... - a olho de relance, parando no sinal - Não acha que você seja boa?

- Não - ela faz uma careta - não acho...

- Não somos iguais aos outros, minha querida  - me volto pra ela - você já está fazendo o seu melhor. Sabe disso, não sabe?

Ela cruza os braços, olhando pra janela. Balanço a cabeça. Como pode duas pessoas serem tão idênticas uma a outra?

- Falo isso porque eu sou sua maior fã - acelero pra tentar não nos atrasarmos tanto - e outra, e aquele monte de certificado de excelência, prêmio e tudo mais no seu quarto?

- Não sei... Vai que a senhora e a mamãe mandaram fazer pra me deixar feliz.

Mas é de uma teimosia sem precedentes...

- Já estamos atrasadas - digo assim que estaciono - vamos.

Desço e gesticulo para que ela pare um instante.

- Como estou? - digo batendo na roupa, alisando, e dá com os ombros, jogando meu cabelo pra trás, assim como fiz com ela - Bonita?

- E elegante.

Ela dá a mão como de costume, e entramos no espaço, mostrando nosso convites. Quando chegamos no auditório, ela já está falando. Passamos devagar para não incomodar os presentes até chegar aos nosso lugares. A sala está lotada.

- A semiótica apresentada é ímpar, mas o preço que se paga não é alto? Quer dizer, sou um grande entusiasta do seu trabalho, mas foram coisas bastante duras...

Retas paralelas se encontram no infinito?Onde histórias criam vida. Descubra agora