Apenas mais que amigas

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Alguém fala comigo, mas não consigo prestar atenção no que é. Minha cabeça está em outro lugar. Não consigo me concentrar no trabalho ultimamente com todo esse cansaço...

— Amanda! – a voz masculina chama de novo – Me passa o martelo, por favor!

— Ah, sim – jogo ele para meu pai, que cerra as sobrancelhas ao me ver encarando a esmo o balde parcialmente cheio – desculpe.

— Saia mais cedo hoje – ele aponta com o queixo para o lado de fora – eu te cubro.

— Estou bem, pai – tento fingir um sorriso pra tranquiliza-lo, mas sem sucesso, já que ele volta a gesticular para fora.

— Vai logo, senão vai se atrasar.

É muita coisa pra digerir ao mesmo tempo. Parece que perdi o rumo da minha vida, ou melhor, notei que tem coisas as quais não consigo controlar.

Vou para aula como de costume, resolvo os exercícios e, quando chego em casa, minha mãe me recepciona muito animada. O motivo? Não faço ideia.

— Amanda, você nem sabe! – ela me abraça – Deus ouviu minhas preces, filha!

— O quê? – ainda nem tirei a mochila quando ela me leva pro sofá, balançando as mãos, sem conseguir conter a felicidade.

— Você foi chamada pra uma entrevista de emprego!

Levanto uma das sobrancelhas, confusa.

— A senhora tem certeza que sou eu?

— Ligaram pra lá pra você ir nesse endereço – ela entrega um pedaço de papel com anotações em caneta preta – na segunda com seu currículo.

— Mas, eu...

— Graças a Deus, senhor, muito obrigada, minha Nossa Senhora – ela vai para o altar e se benze, beijando a mão antes de tocar a imagem – tanto que torci pra você conseguir um trabalho menos pesado!

Nem entreguei meu currículo em algum lugar desde que comecei a trabalhar ajudando o papai. Cerro as sobrancelhas, tentando recordar, mas sem sucesso. Eu me lembraria, acho.

A não ser que...

Amanhã vou perguntar. Já iria pra lá mesmo, de qualquer forma.

*

Toco a campainha. Quem me recepciona é ela, com calça moletom xadrez e camiseta larga, já desbotada, os óculos caindo do rosto. Seus pais não estão em casa. Seu pai está em viagem e sua mãe só chegará no final da noite, então ela não hesita em me segurar pela camiseta e me beijar delicadamente enquanto entro. Meus passos vão seguindo os seus.

— Hǎi yún, eu... – digo tentando me desvencilhar – preciso te...

Suas unhas roçam por minhas costas, e sinto o toque da sua língua procurar a minha cada vez mais. Sei que preciso afasta-la de uma vez, mas... Não consigo, ela me pegou desprevenida.

Minhas mãos pausam em sua nuca, tomando–a mais para mim. Ela deixa escapar um grunhido como se quisesse isso mesmo, e confirma isso quando morde meu lábio inferior levemente antes de voltar a me beijar.

Pressiono os olhos. Esse é o momento para me afastar de uma vez.

— Fazer uma pergunta – digo rápido, já sem ar.

— Qual? – sua língua toca o lábio inferior devagar antes de morder. Desvio o olhar no mesmo instante em que vejo isso.

— Você me indicou em algum lugar? – pergunto tentando ignorar minhas bochechas que queimam.

Retas paralelas se encontram no infinito?Onde histórias criam vida. Descubra agora