Senhor, me perdoe, eu sei que pequei.
Isso foi mais forte do que eu gostaria de admitir. Sei que não fui forçada a nada e podia negar até esquecer, mas, por uma vez, eu não quis. Eu cedi ao pecado e o peso da culpa que carrego pelos meus atos me sufoca, mas...
Não consigo me sentir realmente mal. Pelo contrário, eu me sinto bem quando lembro do momento que tive ao seu lado. Ainda assim, por que não digo a mim mesmo que somos amigas e tudo isso não passou de uma confusão que não irá mais se repetir? Garotas devem fazer isso o tempo todo. Serem tão próximas uma das outras que podem achar que estão apaixonadas.
Eu disse que estava apaixonada, e sei que estou, mas é mais fácil quando digo que não.
Esse sentimento me faz ter calafrios na boca do estômago toda vez que lembro que nos beijamos. Que nos abraçamos. Que ela segurou minha mão e entrelaçou seus finos dedos e sua pele macia contra os meus. Que ela suspirou baixo no fim do nosso beijo.
Que ela deu um sorriso acanhado, de olhos fechados, e eu achei essa cena a mais linda que meus olhos poderiam ter contemplados por outra pessoa.
Por que não tira isso de mim? Não precisamos de mais um problema na nossa vida, e quando digo isso não é só na minha, na dela também.
Isso é alguma provação? Que eu tenho que persistir em não sair do caminho ou de que eu devo admitir que sou diferente do que quero ser?
Ainda serei sua filha se eu sair do caminho? Mesmo eu sendo tão temente e Ti, ainda estarei fadada ao pecado por isso que não consigo mais controlar e fingir que não é comigo?
Serei punida por gostar de alguém? Eu serei evitada, detestada, julgada por sentir aquilo que não posso falar em voz alta?
Posso esconder isso dos outros, mas de mim...
Eu não consigo mais.
- Amanda.
Escuto meu pai chamar de fundo enquanto tomo café, olhando para a paisagem do começo do dia da área de casa. Saio completamente dos meus pensamentos quando ele me chama. Ele para, se apoia na mureta e balança a xícara com café preto calmamente. Somos sempre os primeiros a acordar.
- No que tanto pensa?
Dou um gole no café antes de responder sua pergunta.
- Não é nada demais.
- Eu te conheço... O que está te incomodando?
Não é como se eu quisesse mentir. Só não quero falar para o meu pai o que está me incomodando realmente, mesmo que saiba que isso não adianta muito.
- Alguma coisa com alguém?
Meu pai nunca é direto, ele fala aos poucos pra te deixar confortável o suficiente para entrar no assunto. E meu erro é engolir em seco e tomar meu café como se ele não tivesse perguntado nada, porque isso é basicamente dizer sim.
- Sabe que pode falar comigo sobre o que quer que seja, não é?
Aceno que sim.
- Mesmo que seja sobre assuntos que seu velho pai não entenda tão bem.
Encaro-o de relance, mas seu olhar ainda é para o horizonte. Pergunto-me se ele quer dizer o que acho que seja ou só seja coisa da minha cabeça.
- Eu te amo muito - ele se apoia no meu ombro, e beija minha cabeça.
- Também amo muito o senhor.
Ele não falou isso sem propósito. Ninguém chega com outra pessoa e fala isso. Ele desconfia de alguma coisa?
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Retas paralelas se encontram no infinito?
RomanceEm um cursinho pré-vestibular, o acaso faz com que duas garotas se encontrem. Amanda é gentil, dedicada e otimista. Hǎi yún é antissocial, desinteressada e pessimista. Amanda é quente como um raio de sol. Hǎi yún é fria como um dia de chuva. O que p...