Sua mãe foi me buscar às seis em ponto.
André não foi muito a favor. Disse que não por ela, mas pelos pais, porque parecia que só tinham entrado em contato com a gente quando não sobrou mais nada, ignorando toda a relação que temos, e ressaltou que, se o pai dela viesse falar alguma grosseria pra mim, ele iria ter que se acertar com todos nós. Mas, em nome do Senhor, não vai acontecer nada.
Todos desejaram melhoras e lembranças, e um par de luvas de crochê que vão até boa parte do braço de presente, concluindo que lá deveria ser frio. Minha mãe sugere que leve algo meu para que ela não se sinta tão só na sua estadia ali. Foi uma viagem longa de quase três horas e pouco conversamos. Na verdade, ela mais perguntava e eu respondia. Quis saber um pouco da minha infância, dos meus pais, meus gostos, e de toda a crença que temos. É difícil me ver no lugar de pessoa que mais fala, e ela começou a falar um pouco sobre a vida deles.
Ao chegarmos, me deparo com um lugar que parece uma fazenda. Na entrada, somos revistadas e nossos nomes checados, até que uma moça de vestes brancas nos recepciona e leva para os corredores. Sua mãe está carregando as comidas que ela gosta na tentativa de fazê-la comer.
Estou com muito medo, me tremendo da cabeça aos pés, sem saber o que dizer ou agir, mas, ao mesmo tempo, a vontade de vê-la é maior. O espaço de convivência é imenso como um grande jardim, e há grupo de pessoas espalhados por todo o lugar. Procuramos por ela, mas não está em lugar nenhum dali.
Após algum tempo olhando de um lado para o outro, vejo aquela pose torta, o cabelo jogado no rosto, sentada sozinha em uma mesa. Dá pra ver que está ouvindo música, batendo os dedos na mesa. Sua mãe gesticula pra que vá só eu, e, lentamente, tentando manter a respiração calma, vou me aproximando.
Minha primeira reação era de correr, mas me aproximei da forma mais silencioso que pude e, ao ver que ela estava de fone de ouvido, parei atrás dela, respirei fundo e deixei minha voz tomar o caminho.
— O que está ouvindo?
Ela para de mexer a mão no mesmo instante, e tira um dos fones.
— Amanda? – ela pergunta em um quase sussurro.
— S...sim? – respondo com a voz já falha. Ela vira o corpo devagar, olhando diretamente para mim.
Nos encaramos por longos segundos, enquanto ela se levanta sem deixar de me olhar. Meu corpo parece ter entrado em estado de choque.
Ela está visivelmente mais magra, confirmando tudo que tinha sido dito. Seu óculos remendados em várias partes, além dos seus braços enfaixados. Sua mão tinha uma tinta viva preta, mas seu rosto estava pálido e com olheiras profundas, marcantes o suficiente para chamar atenção.
Vê-la assim me deixa com o coração apertado, mas a vontade de tocá-la é maior do que qualquer outra coisa e, logo que ia dar o passo em sua direção, ela corre e me abraça. Sinto meu corpo e rosto ficar quente na medida em que a aperto contra mim, não querendo solta-la tão cedo. Passo a mão no seu cabelo até a nuca, colocando-a para mais perto de mim enquanto sinto seu rosto contra o meu peito.
— Eu não acredito que você está aqui – sua voz sai embargada, quase inaudível.
— Eu estou aqui – beijo seu rosto enquanto a aperto mais contra o meu corpo, mas ela me puxa pela camiseta e por fim, me beija, deixando o ar escapar da sua boca logo após.
— Eu senti tanto sua falta – ela encosta sua testa na minha, levando as mãos até meu rosto. Não consigo deixar de sorrir de felicidade ao tê-la comigo.
— Eu também.
Fecho os olhos. Parece que tudo de ruim que sentia desapareceu ali O quanto senti falta do seu cheiro, do seu toque, dela por inteiro, e quanto mais eu a tenho comigo, mais parece que sinto. Na medida em que abro meus olhos pra saber se tudo isso é real, me deparo com a vasta imensidão dos seus olhos, tendo a certeza que, de todas as possibilidades, estar ao seu lado é a certa.
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Retas paralelas se encontram no infinito?
RomanceEm um cursinho pré-vestibular, o acaso faz com que duas garotas se encontrem. Amanda é gentil, dedicada e otimista. Hǎi yún é antissocial, desinteressada e pessimista. Amanda é quente como um raio de sol. Hǎi yún é fria como um dia de chuva. O que p...